Luis Ferreira

Luis Ferreira

Aliança em terras improváveis

Há países onde proliferam os partidos políticos como se fossem cogumelos silvestres. Não entendo se acontece por vontade própria, por apetência política ou por sede de poder. Seja qual for a razão, é certo que ao acontecer esse alfobre político, todos se deparam com uma parafernália de escolhas que podem confundir o mais comum dos mortais que têm intensão de descarregar o seu voto no dia em que são chamados a fazer a escolha democrática a que os gregos nos ensinaram há muitos séculos.

Portugal não foge á regra. Habituados que estamos a referir somente os partidos que têm assento na Assembleia da República, quase nos esquecemos dos que não têm votos suficientes para eleger um único deputado. E por isso mesmo, perdem-se muitas centenas ou milhares de votos. Nós não somos muitos votantes e talvez por isso mesmo, não devêssemos desperdiçar os votos que pomos nas urnas com as melhores das intenções. Enfim.

Se o cenário que se apresenta cada vez que há eleições, em termos de partidos políticos, é já desconcertante, não se entende por que razão os partidos que mais votos conseguem, acabam por se fraccionar, dividindo os votos que seriam muito úteis no apuramento final, para os principais partidos. Exemplos desta atitude são vários se nos lembrarmos da cisão do PS há uns anos, do aparecimento do partido de Eanes, da cisão da ala esquerda do PS e do aparecimento do BE, enfim, uma série de divisões que em nada deram além do seu próprio desaparecimento.

Pois, agora, Santana resolveu desligar-se do PSD que ajudou a fundar, e formar um novo cujo nome é bem significativo: Aliança. Só e sem nada mais. Simplesmente Aliança. Tivemos neste fim-de-semana o seu primeiro Congresso. Aconteceu. Em Évora.

Évora! Não sei qual a razão subjacente à escolha desta cidade, mas seja qual for, o certo é que assistimos a um Congresso com muitos congressistas. Um plenário repleto de interessados em saber as linhas gerais com que têm de se governar daqui para a frente e saber o que é que o líder tinha para dizer neste arranque mais a sério para chegar às eleições legislativas deste ano.

Independentemente do peso político que queiramos dar às terras onde esperamos os votos, o certo é que em terras alentejanas, os votos são mais à esquerda do que ao centro ou à direita. Então por que razão Santana escolheu Évora? Pois se quer uma Aliança, terá de contar com todos e o que ele acabou por dizer no Congresso foi isso mesmo, ou quase, já excluiu qualquer aliança com Costa. Mas se com Costa não faz aliança, também não a fará com os comunistas ou com os bloquistas. Conta com quem? Com o antigo partido, cama dos seus votos, e com os centristas, a almofada dos seus interesses. De Évora e dos comunistas é muito improvável um resultado de tal modo satisfatório que agrade a Santana.

Vamos a ver o que daqui sai, mas de uma coisa eu tenho a certeza. Os votos que forem depositados nas urnas direccionados à Aliança, serão votos que irão fazer uma diferença imensa ao PSD no apuramento final. Não vejo vantagem nenhuma na criação de mais um partido, primogénito do social-democrata e cujo fim será o seu desaparecimento a curto prazo tal como aconteceu aos outros. Voltarão os filhos pródigos?

Neste Congresso duas coisas ressaltaram: uma foi a apresentação do programa e das linhas de atuação feita por dois jovens, uma advogada e um professor universitário, a quem falta ainda o traquejo destas andanças, mas que Santana quis afirmar como seus peões de brega e a outra foi a enorme quantidade de congressistas mais velhos, alguns com idade para se reformarem das lides políticas. Foi um Congresso às avessas! Mas como poderia ser de outra forma? A verdade é que Portugal é um país envelhecido e a juventude está desiludida com a política e com os políticos, para não dizer, mais drasticamente que já quase não há juventude neste país. É verdade, embora nos custe admitir isso. O interior está desertificado e as principais cidades viram muita da sua juventude sair à procura de melhores oportunidades pelos quatro cantos deste mundo global.

Claro que assim não poderia Santana ter um pavilhão cheio de juventude, aliás, juventude que não se identificaria nem com ele nem com a sua política que nada mais é do que um costilo bem armado à espera que o tralhão caia. Cairá? Penso que não, mas há sempre quem seja enganado ou se deixe enganar pela formiga de asa!

A verdade é que se deve dizer que foi preciso muita coragem para fazer um Congresso deste partido em terras comunistas, improváveis para uma Aliança, mas onde Santana espera certamente conseguir elos para reforçar a mesma Aliança. Não será fácil, mas afinal não isso que ele espera? Uma Aliança! Seja com quem for, mas que dure e magoe os que o fizeram afastar-se do tronco materno.


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