Manuel Igreja

Manuel Igreja

Aumento das Portagens Castiga Mais o Interior

Nem mais. O título que acaba de ler é de uma verdade verdadeira. Constava da primeira página de um jornal de tiragem nacional. Por acaso, confesso, só vi isto no formato digital e não li a notícia respetiva. Mas nem preciso para desde logo acreditar e discordar.

Não devia pois então, pensará alguém, trazer para aqui semelhante responso, mas trago e com a convicção total de não pecar e ir direitinho para o céu, caso não haja outros erros e pecados a enlamear-me a alma, cuja brancura é tida como o grande indicador nesse caminho.

Desde já há muito que sabemos e sentimos que caminhar e penar longe do mar, é condenação mais que certa neste nosso Portugal florido. Somos filhos de um deus menor, cada vez mais, unicamente porque é crescentemente menor o global de cruzinhas desenhadas nos boletins de voto. Basta isto para nos condenar.

Não nos degredam, porque ainda não nasceu arrojo para tal os vendilhões do templo que nos prometem mundos e fundos e se dizem muito preocupados com o nosso quotidiano de mourejar em terras para lá do sol posto. Falta-lhes visão, e a noção do que é uma Nação. Teriam de saber um pouco de História, mas não podem porque a sua mioleira está cheia ou ocupada com outras coisas mais imediatas.

Obviamente que nós, os de cá de cima, também temos culpas. E muitas. Nem em sete vidas as expiaremos. A maior de todas, é deixar que nos tratem como tolos só porque nos dão cestinhos com bolos. Não nos fazemos respeitar, por isso não nos respeitam. Cheira a canela no litoral, e esvazia-se o interior seguindo-lhe o cheiro.

Mas voltando à vaca fria que cresceu do almoço, que é como quem diz, às portagens antes que me perca mais por desvios que não interessam na rota aqui em apreço. Daqui a uns anos, possivelmente a muitos, os do futuro vão ter-nos como completamente insensatos. Irão analisar e irão concluir que se gastaram incontáveis recursos a construir autoestradas de lés-a-lés para esvaziar metade do território, ao mesmo tempo que na noutra metade tudo se amontoou.

Esmiuçando depois mais um pouco, irão verificar que quando se iniciou a discussão acerca das portagens no interior, desde logo se pegou o touro, salvo seja, pelo lado errado. Nem foi pelos cornos, nem foi de cernelha, pois concluirão que o modo como se discutiu a coisa só podia ter dado no que deu.

Nada mais nada menos, do que esquecendo o princípio da discriminação positiva, decidiu-se o mais fácil. Pôr toda a gente a pagar, no bendito mandamento do utilizador/pagador, inscrito na tábua da lei conveniente ao bezerro de ouro aqui com a forma de governo central.

Pegou-se erradamente o tema, por uma pura e simples razão, digo eu na mera qualidade de cidadão. Acho que se deveria ter esgrimido, o argumento de que dado tudo se ter centralizado nas cidades médias ou grandes, obrigando-se a diárias deslocações, estas entre as localidades próximas deveriam ser isentas de pagamento para os respetivos residentes.

Tirando isso o que fosse jornada fora do raio, era de se pagar pois as coisas não caiem do céu ou aparecem feitas devido a milagre do Espírito Santo ou de outras figuras da corte celeste. Estas em concreto foram obra de alguns figurões, e por isso nos queimam os bolsos os seus infernais custos .

Não concorda? Então faça o obséquio de ler a tal notícia, e diga-me por favor se há água benta que nos valha neste nosso viver em território esquecido. Mas um dia alguém vai pagar tudo com língua de palmo. Vão ver.


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