Manuel Igreja

Manuel Igreja

Em defesa da História

A História não precisa que alguém a defenda. Mas eu mesmo assim não resisto. Sucede que hoje em dia há por aí muita gente com opinião botada a dizer que ela não serve para nada. O que importa, dizem os iluminados, são os números transformados em riqueza disponível.

Enganam-se, os coitados e pobres ignorantes. Julgando saber muito, esquecem-se que quem diz que sabe tudo anda necessariamente muito mal informado. Já dizia um senhor muito antigo, que a única coisa que sabia, era que não sabia nada. Mas pronto. Soberbas.

Não é presunção minha, mesmo que essa seja como a água benta, mas posso afiançar que a História é do mais importante que há venha quem vier dizer o contrário por divergência de modos de ver.

Não fosse ela, não tínhamos memória. Nem sabíamos de onde viemos nem a quem agradecer o caminho que ladrilharam para aqui estarmos. Também não saberíamos por onde ir a não ser que navegássemos à vista e à bolina.

A inquietação que medra na espuma dos dias pode levar-nos a concluir que nem sempre a humanidade se porta bem. Isso é inequivocamente certo, pois a História leva-nos a essa verdade que nos fala de erros terríveis e de atitudes ensandecidas. Sempre assim foi.

A ferro e fogo e quase sempre ferozmente fomos forjando territórios e identidades ao sabor de jogos de alienação levados a cabo por uns poucos perante muitos.

Desembainhadas as espadas e disparado o primeiro arcabuz, solta-se a besta no mais pacato dos cidadãos.

Pode parecer inevitável, mas não o é, mesmo que os contextos se repitam desde o fundo dos tempos. Desde longe. Muito longe, apesar de quase sempre parecer que as condições em cada vez são exclusivas.

A História, pois é disso que se trata, repete-se invariável e tragicamente. Mais parece que apesar de toda a evolução científica que protagoniza, o ser humano ainda é uma criança muito travessa que goza com cada diabrura.

Dá-lhe prazer fazer asneira da grossa, e alguns aproveitam dizendo que é para bem dos amigos e para danos dos inimigos que urge extirpar até à medula. Todos nos esquecemos que a prazo estamos todos mortos.

Em defesa da História, direi unicamente mais e só que bastaria atentarmos na causa das coisas e em cada contexto enquadrado no tempo, para percebermos que não adianta alimentar o monstro que de sangue se alimenta.

Mas esquecemos. Não aprendemos. Deus deixa, o Homem quer, e os demónios soltam-se. Será desígnio. Não sei.


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