Alexandre Parafita

Alexandre Parafita

Em louvor do engenheiro florestal

Ano após ano, a notícia impõe-se como uma fatalidade: a floresta é um tema incontornável, sempre e somente, pelo seu lado trágico. E como em todas as tragédias, acompanhando o período de nojo do seu impacto, segue-se o inevitável período de reflexão, ao ritmo dos momentos de emoção que sempre albergam o subterfúgio das fragilidades da condição humana…, uma reflexão, por isso, com prazos limitados de validade.

No ano transato, assim foi, perante um verão já de si catastrófico para a floresta. O governo lançou o debate, desafiando investigadores e instituições. Os investigadores da UTAD, conhecendo o terreno como poucos, lançaram então o alerta: “a floresta portuguesa precisa de uma revolução que ponha termo à inércia das entidades responsáveis pela gestão e ordenamento do espaço florestal, mas com medidas alicerçadas num conhecimento técnico-científico”.

Logo, há que mandar para o terreno engenheiros florestais. O país precisa deles. Paradoxalmente, os cursos de engenheiros florestais estão a desaparecer no ensino superior, resistindo apenas numa ou duas instituições comprometidas com uma missão estratégica de revitalização das regiões do interior. Os seus jovens engenheiros estão dotados de uma formação avançada que lhes permite intervir nos projetos de ordenamento e povoamento florestal, na proteção da floresta contra os incêndios, na aplicação do conceito de sustentabilidade na prática florestal. São profissionais que sabem bem como cresce a floresta e como reage perante condições normais e condições adversas. Sabem como ninguém onde, quando, porquê, como e o quê deve nela ser plantado.

Impõe-se, por isso, tornar apetecível a missão de engenheiro florestal. Mas também tornar apetecível trabalhar nas regiões do interior. Começa a ser tempo de pedir contas, ou respostas objetivas, a uma tal Unidade de Missão para o Interior, criada pelo atual governo e da qual se esperam intervenções claras que atraiam gente e atividades para o mundo rural, quebrando a sangria de recursos para o litoral. E nunca esquecendo que a floresta em Portugal ocupa ainda uma posição ímpar no contexto europeu. Representa cerca de 2% do PIB e em Valor Acrescentado Bruto nacional aproxima-se dos 4 milhares de milhões de euros, além de envolver quase 100 mil postos de trabalho diretos e remunerar cerca de 400 mil proprietários.

Já é tempo, pois, de a floresta passar a ser notícia não como um mundo de problemas mas como um mundo de oportunidades.

(in JN, 26-6-2017)


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