Luis Ferreira

Luis Ferreira

Falta de afición?

O fim-de-semana foi deveras atribulado. Cheio de emoções e de ansiedades, cada uma com a intensidade relativa consoante as espectativas de cada um. Foi sem dúvida diferente e emocionante.
A verdade é que havia milhares de pessoas à espera deste fim-de-semana para assistir ao duelo que iria opor o Real Madrid e o Atlético de Madrid. Os espanhóis invadiram Portugal, no bom sentido, para apoiar as suas equipas e nós recebemo-los de braços abertos. Por cá outro encontro muito mais importante, era aguardado por alguns milhões de portugueses. Era o momento de eleger os deputados para o Parlamento Europeu e cada partido estava à espera de receber os seus votos na esperança de qualquer mudança a nível europeu.
Portanto, um fim-de-semana atribulado e com interesses variados. Posto de lado o folclore dos partidos, o sábado estava destinado ao futebol. Se a Europa votava para eleger os seus deputados, o mundo ansiava para ver antes desse momento, o desafio entre as duas maiores equipas europeias para ver qual delas seria a campeã da Champions.
O sábado teria o ponto alto por volta das vinte horas e serviu de motivação para domingo, por várias razões. Os que ganharam no sábado, regressaram contentes e motivados para, no dia seguinte, irem às urnas e votar nos seus candidatos preferidos.
Da contenda de sábado, saiu vitorioso o Real Madrid e, claro o nosso Cristiano Ronaldo que, não estando em boa forma, lá se foi aguentando e acabou mesmo por marcar um golo e conseguir mais um record pessoal. Não teve tanta sorte o nosso Tiago que, esperançoso em erguer a taça, viu gorada essa possibilidade quando faltavam dois minutos para acabar o jogo. Coisa do futebol! No ano passado aconteceu o mesmo ao Benfica nas três finais que disputou, acabando por perdê-las a todas. Azar de uns, sorte de outros.
Lisboa vibrou com tudo isto e arrecadou cerca de 46 milhões o que, em tempos de crise, dá muito jeito, até porque o governo vai buscar uma boa percentagem desta maquia. A verdade é que o folclore da campanha, foi substituído pela festa do futebol e todos aproveitaram para usufruir da melhor maneira, o tempo que por aqui passaram.
Os portugueses assistiram e torceram igualmente pelas equipas que estavam na contenda e até esqueceram durante algum tempo as obrigações que tinham de cumprir no dia seguinte. Não vibraram tanto como os madrilistas até porque as equipas eram espanholas, mas sempre expressaram as suas simpatias e isso foi suficientemente motivador para pôr de lado as eleições de domingo.
Se para ver o futebol a afluência foi demasiada e os lugares foram insuficientes, já que precisávamos de um estádio com 120 mil lugares, que não existe em lado algum, já no domingo, num estádio muito maior, onde quase dez milhões cabem e podem movimentar-se, sobraram muitos bilhetes o que deu um prejuízo terrível à democracia, que era quem organizava o encontro europeu. Como explicar isto? Bem, o futebol também é democrático!
E agora? No sábado ganhou o Real Madrid e no domingo ganhou a abstenção!
Se o Real não comparecesse ao jogo, teria ganho o Atlético, mas como se apresentou para disputar a contenda, acabou por ganhar embora ainda estivesse a perder durante muito tempo. Nunca perdeu a esperança. Os adeptos adquiriram todos os bilhetes e mais que houvesse, e cumpriram com a sua presença e o seu apoio. Não deixaram os seus créditos em mãos alheias.
Se no domingo, os portugueses estivessem tão entusiasmados como os madrilistas no sábado e cumprissem e apoiassem os seus partidos no domingo, a vitória seria certamente diferente e Portugal sentir-se- ia mais liberto, mais responsável e mais europeu. Que fazer? Quem se pode queixar? O que nos falta afinal? Falta de afición? E agora?


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