Marcelo: nova esperança?

A eleição de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República, à primeira volta, da forma como o próprio a engendrou e conquistou, sozinho, pode representar um sinal de esperança para a democracia portuguesa?

Esperança em quê? Esperança em que, após 42 anos de regime democrático, alguém perceba a “bolha” em que está imersa a democracia portuguesa e a consiga esvaziar antes que ela rebente. Um regime em que a justiça e a educação não funcionam e o país não é soberano e não proporciona liberdade pessoal, política, económica, social e cultural aos seus cidadãos, vai ser, mais tarde ou mais cedo, confrontado com a inevitabilidade da mudança. É da história.

Pode Marcelo Rebelo de Sousa concretizar essa esperança e impulsionar essa mudança?

A favor: pode, porque Marcelo se fez eleger livre, sem financiamentos constrangedores e sem partidos tuteladores e possui um conhecimento muito profundo do regime constitucional e democrático e das suas resistências à mudança.

Contra: não pode, porque Marcelo pode preferir ser apenas um árbitro a pensar na reeleição e porque toda a esperança transporta em si uma grande dose de utopia.

Qual o meu palpite, se é que importa? Mesmo sabendo que em política, como em muitas outras coisas, já não nos iludimos, já só nos desiludimos, voto a favor da esperança. Prefiro pensar que Marcelo Rebelo de Sousa não se dará ao luxo de desperdiçar a oportunidade única de que dispõe de não ficar na história apenas como uma primavera repetida. A oportunidade de ser um presidente diferente e útil à democracia e a Portugal.

Ele pode ser o motor da mudança, para melhor, de que o regime democrático português necessita para sobreviver, para evoluir. É uma nova esperança. É o seu desafio.

Não é pequeno.


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