Os desejos e os quereres

Nem sempre o que desejamos é plausível. Nem sempre o que desejamos é motivo de orgulho. Muitas vezes o que desejamos é, até, vergonhoso. Eu, por exemplo, quando era garota, achava que ia ser adoptada pelos Excesso (sim, a boys band) a fazer participações especiais nos concertos, em que terminava, com o público ao rubro, enquanto girava sobre a minha cabeça como uma rodinha destas modernas.

Nem sempre o que desejamos é o que devemos desejar, ou é desejável. Só que, pior do que desejar, é não desejar nada. Deve ser chato, não querer mais do que o que nos está à frente dos olhos e ser míope em relação à vida.

Reparem que usei dois verbos: desejar, em primeiro, e depois veio o querer. São sinónimos, dir-vos-á o dicionário, muito bem. Contudo não sei se são a mesma coisa, o desejar e o querer. O desejar parece-me mais a sério. Mais inchado. Nunca digo “desejo um café, se faz favor”, porque me parece, justamente, exagerado. Quero o café, mas se não for o café pode ser outra bodega qualquer.

Eu acho que as pessoas devem desejar mais vezes do que querer. Porque se desejar é querer com mais vontade, então esse é o caminho. É que a vontade é o pavio do desejo.

Se calhar estas ideias que estou a ter são uma completa salgalhada sem nexo. A verdade é que isto de ter mais do que uma palavra para dizer as coisas nem sempre resulta. Algumas são só aproximadamente iguais para que se perceba o sentido da frase, apesar de não ser bem a mesma coisa.

Um exemplo, dizia-me o meu namorado quando interrogado sobre as minhas sandálias novas: “Ficam-te bem. Pareces o Frodo (do Senhor dos Anéis) ”. Aposto que ele não queria ter dito aquilo. Já eu, desejei que lhe caísse um raio na cabeça. “Mas eu não tenho os pés peludos, António!”, concluo após pesquisar os pés do Frodo no Google. “Pois não, mas são assim grandes.”

E, aposto eu, ele desejou não ter acrescentado esta informação quando cruzou o olhar com o meu.

 

 


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