FACTOS:

 

Entrevistado: José Manuel A. Costa e Oliveira

Cargo: Presidente da Federação Portuguesa de Judo

Data de nascimento: 23 de julho de 1949

Naturalidade: Lisboa

Formação Académica: Engenheiro Técnico Agrário (Coimbra – 1970)

 

 

GRANDE ENTREVISTA:

 

Jornalista - Que balanço faz do ciclo Olímpico – Rio 2016?

Manuel Costa Oliveira - O ciclo Olímpico, aquilo que nós chamamos de ciclo Rio 2016, correu muito bem para a Federação Portuguesa de Judo e permita-me dizer-lhe que o balanço é, francamente, positivo. Durante um ciclo Olímpico, nunca tínhamos tido tantas medalhas que, claro, são um dado importante. Mas as medalhas são só o resultado do muito trabalho realizado, quer a nível de Cadetes, quer a nível de Juniores e Seniores, culminando na Medalha de Bronze da Telma Monteiro nos Jogos Olímpicos e das classificações de Joana Ramos, Sergiu Oleinic e Jorge Fonseca.

 

Jornalista - No entanto, também os Cadetes e os Juniores têm singrado na modalidade, quer a nível europeu, quer a nível mundial?

Manuel Costa Oliveira - Absolutamente! Nos Cadetes alcançámos, recentemente, uma Medalha Europeia pela Patrícia Sampaio, para somar às de Prata e Bronze que tínhamos conquistado pela Joana Cesário em 2003 e a de Bronze pelo Nuno Saraiva já em 2010. Nos Juniores, só conseguíamos medalhas, em média, de dez em dez anos e, neste ciclo, subimos ao pódio todos os anos. Falo de Medalhas Mundiais e Europeias de atletas de grande qualidade como o Nuno Saraiva, a Mariana Esteves, entre outros que alcançaram um nível de excelência.

 

Jornalista - Existem hoje mais atletas de judo?

Manuel Costa Oliveira – Sim, é verdade. Nunca tínhamos tido tantos judocas no Projeto Olímpico e a participar nos Jogos como tivemos agora com a Joana Ramos, a Telma Monteiro, o Sergiu Oleinic, o Nuno Saraiva, o Célio Dias e o Jorge Fonseca, mas foi pena não termos tido mais, uma vez que vários atletas ficaram “à porta” da qualificação. Estou a lembrar-me da Ana Cachola, do Carlos Luz, do Nuno Carvalho, do Diogo Lima, do André Alves e da Yahima Ramirez, que ficaram muito perto de irem ao Rio de Janeiro. Ainda assim, os seis que mencionei obtiveram uma prestação fantástica nos Jogos Olímpicos.

 

Jornalista – E em relação ao Judo Paralímpico? O Miguel Vieira foi o abrir de uma porta?

Manuel Costa Oliveira - O que alcançámos, em relação ao Judo Paralímpico, também foi notoriamente excelente. Nunca Portugal tinha tido um judoca nos Jogos desta vertente e teve, agora, o Miguel Vieira, que começou por ser esperança paralímpica e chegou aos Jogos Paralímpicos. O Miguel conseguiu um nono lugar, tínhamos as expectativas ligeiramente mais elevadas, mas penso que ainda assim foi bom. Sobretudo e como disse, porque foi o abrir de uma porta, ao ponto de, agora, já termos mais atletas como o Djibrilo Iafá e que são esperanças paralímpicas. Tendo em conta o trabalho que temos desenvolvido nesta área, não será exagero acreditar que, depois de este ano termos tido o primeiro Judoca Paralímpico, poderemos ter três atletas em Tóquio, o que representa um crescimento notável.

Se considerarmos o Judo Adaptado e o Surdolímpico também verificamos um crescimento. Já tínhamos a Joana Santos do Algarve a obter grandes resultados, tendo voltado, recentemente, a medalhar no Campeonato do Mundo e, agora, surge João Machado, uma nova esperança Surdolímpica. Na vertente adaptada, para atletas com deficiências intelectuais, também demos passos importantes ao participar em Campeonatos da Europa e ao conquistar medalhas.

É evidente que a Federação Portuguesa de Judo cresceu bastante nestas áreas, o que me deixa particularmente satisfeito por tudo o que foi feito.

 

Jornalista – Na área da formação, a Federação Portuguesa de Judo também deu passos importantes, refiro-me ao programa “Judo nas Escolas”. Como é que correu?

Manuel Costa Oliveira – A ideia é formar 200 jovens de dez escolas, mais de 200 professores de educação física na área do judo e iniciar um projeto de formação com a Federação Internacional de Judo já no início deste mês de janeiro. E embora se tenha feito muito nesta área da formação, penso que há, ainda, algumas coisas que se podem e devem fazer.

 

Jornalista – Tais como?  

Manuel Costa Oliveira – Eventualmente, poderíamos ter feito mais no que diz respeito ao desenvolvimento da modalidade no interior do país, em cidades como Bragança, Vila Real, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja. Há muito para se fazer nesta área que denomino de interior. Infelizmente, não houve recursos monetários para avançar com atividades que promovessem esse crescimento, o que, naturalmente nos deixou aquém das expectativas. Até porque essas dificuldades financeiras não nos permitiram concretizar tantas ideias e projetos como gostaríamos e havíamos planeado desde o início.

 

Jornalista – Que futuro defende para o Judo?

Manuel Costa Oliveira - Antes de mais, precisamos que o Judo seja mais reconhecido e valorizado, que encha pavilhões, que tenha uma grande aceitação por parte do público e atraia patrocinadores. Esse é um caminho que só se pode percorrer com recursos humanos, técnicos e financeiros. Eu próprio gostava de ter trilhado mais esse caminho, mas estou satisfeito com tudo aquilo que alcançámos. 

 

 

UMA VIDA FEITA DE CONQUISTAS

 

Após ter concluído o serviço militar, José Manuel A. Costa e Oliveira foi um de muitos portugueses a ter participado na Guerra Colonial. Quanto ao seu percurso profissional, começou em Moçambique com, apenas, 27 anos, como técnico do Ministério da Agricultura. De seguida, passou para o Movimento Associativo dos Agricultores onde desempenhou funções na Confederação dos Agricultores de Portugal e, mais tarde, na Confederação das Cooperativas Agrícolas. Neste período, foi presidente de um movimento que nasceu em Portugal, associado ao 25 de abril e à nova democracia portuguesa, conhecido por Associação de Jovens Agricultores de Portugal. Seguiu-se uma fase política em que Manuel Costa Oliveira desempenhou os cargos de diretor Regional de Agricultura do Algarve e subsecretário de Estado Adjunto do Ministro da Agricultura. Fez dois mandatos na Assembleia da República antes de regressar à vida profissional, ligado ao setor dos vinhos e onde se encontra, ainda, atualmente.

Relativamente ao seu percurso desportivo, esteve sempre, intimamente, ligado ao Judo, embora tenha praticado rugby na sua juventude. Desempenhou diversos cargos e assumiu as mais variadas funções, desde presidente de clube, a consultor, integrou a Confederação do Desporto, assim como o Conselho Consultivo do Desporto e, mais tarde, afirmou-se, definitivamente, no Judo, modalidade que descreve como “sua”. Daí até à sua candidatura à Federação Portuguesa de Judo em 2012 foi um passo natural, tendo, agora, cumprido um mandato de quatro anos, ao longo do qual se dedicou de “forma apaixonada” ao desenvolvimento da vertente paralímpica, pertencendo, também, hoje em dia, ao Comité Paralímpico Português.

 



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