Entrevistado: Pedro Abrunhosa
 
Data de nascimento: 20 de dezembro de 1960
 
Naturalidade: Moimenta da Beira
 
Arte: Intérprete, Compositor & Pianista
 
 
ENTREVISTA
 
 
Diário de Trás-os-Montes (DTM): Nos últimos seis anos, lançaste dois álbuns: “Longe”, em 2010, e “Contramão”, em 2013. Como é que descreverias esses dois trabalhos e quais as principais diferenças entre eles?
 
Pedro Abrunhosa (PA): “Longe” é um disco de canções, que reflete muita vivência de estrada. A canção é um objeto circular, é por isso que nós cantamos refrões. É talvez a forma de arte mais contagiosa porque junta poesia com música. E conta histórias, situações, no sentido trovadoresco da canção. É um disco rock, de rutura, em que eu acabo com os Bandemónio. Um grupo que me acompanhou durante alguns anos. Eu acho que os grupos de rock não devem chegar tão longe, devem cometer suicídio. Já a autoria vai melhorando com a idade, porque vais ficando mais maduro. Isso é transversal! Como os Stones, por exemplo, estão piores e já deviam ter acabado. Já o “Contramão” é um trabalho com 11 temas, em que procurei uma forma de olhar, de analisar o mundo, aquilo que nos rodeia, o estado das coisas, do país, a intolerância religiosa, uma tema tão em voga atualmente e, como não podia deixar de ser, falo sobre o amor.
 
 
DTM: Deixaste os Bandemónio, para integrar os Comité Caviar, banda que trazes a Bragança. Sabendo que sempre te soubeste rodear de excelentes profissionais, quais são as principais características este teu grupo do anterior?
 
PA: Eu sempre tive bons músicos! Mas, também, foram sempre muito treinados e ensaiados. Eles têm o seu percurso de estrada e quando chegam, alguns, vêm muito trabalhados, outros é preciso trabalhar e noutros o trabalho que trazem é preciso mudar. E tenho conseguido bandas extraordinárias, isso torna-se evidente depois. E atenção, o facto de ter acabado com os Bandemónio não quer dizer que nos tenhamos chateado. Pelo contrário! O que está em causa é a questão do rejuvenescimento das bandas. É difícil para uma banda manter-se toda ativa e proactiva, em simultâneo. As bandas vão ganhando alguns vícios. Portanto, rejuvenescer a banda, mudar músicos, pôr sangue novo, é muito estimulante. Eu, agora, com este grupo, tenho outro tipo de atitude e eu próprio reajo de maneira diferente. Está uma sonoridade mais dura, mais agarrada, mais agressiva, mas também mais séria e mais madura.
 
 
DTM: No mundo do espetáculo desde a década de 80, como é que tens vindo a sentir a evolução do panorama musical português?
 
PA: Sabes que eu já muito antes disso fazia música... Sempre fiz música! E tive em Bragança muitas vezes como músico de jazz. E toquei muitas vezes aqui como, de resto, toquei em todo o lado. Como músico de jazz, fiz de tudo... Eu venho, como costumo dizer, do chão. Toquei em bares, discotecas, no metro, na rua, toquei em toda a Europa e sobrevivi a tocar. Portanto, sou um músico de estrada. E, depois, fiz o conservatório, o curso e as pós-graduações. Por isso, tenho os dois percursos. O percurso académico e o percurso da estrada, o on the road. Depois dessa rodagem, faziam-se bandas e havia muita tarimba. Muito disto que vês no palco parece espontâneo, mas é muita experiência e são muitos anos. Portanto, antes de eu lançar um disco, já tinha uma longa carreira para trás. É como um autor que escreve um romance. Eu acho que não se pode escrever um romance a sério antes de se atingir a maturidade. E, portanto, o meu primeiro disco só aparece nessa altura. Embora tenha tido muitas oportunidades de ter lançado discos antes. Eu editei “Viagens” já era um homem maduro. E o disco teve esse impacto! Não era um disco à procura de fama, nunca foi.
 
 
“O panorama musical está inundado de lixo, inundado de pseudo-artistas, inundado de concorrentes de concursos que não passam disso mesmo, de concorrentes de concurso”
 
 
DTM: Muitos usam a música como forma de alcançar o sucesso ou, pelo menos, a fama. Sobretudo, em televisão. Como é que vês essas estrelas cadentes que tanto brilham como, de um momento para o outro, caiem no esquecimento?
 
PA: Agora, começa-se ao contrário. Agora, começa-se por ser famoso e depois vamos ver se há uma banda que se possa encaixar ou algo que se possa fazer para dar seguimento a esta pseudo-carreira. O panorama musical está inundado de lixo, inundado de pseudo-artistas, inundado de concorrentes de concursos que não passam disso mesmo, de concorrentes de concurso. E, depois, tentar dar continuidade a uma coisa que é de plástico, o resultado está à vista. Mas isso também não nos faz concorrência! É preocupante, no sentido que dá uma imagem errada às pessoas do facilitismo com que se chega aqui. Não é verdade! Se reparares, as próprias televisões que promovem os concursos de pseudo-famosos, depois não têm espaço para eles. Algo que não aconteceria, se eles se tornassem realmente famosos.
 
 
DTM: Durante os teus concertos, tens-te vindo a revelar como um sério apologista e defensor da internet. Achas que a música tem conhecido um desenvolvimento análogo ao da World Wide Web? E, para terminar, concordas com essa evolução?
 
PA: Aquilo que eu noto, é que há uma emergência muito grande de grupos a tocar por causa da internet. Há muitos miúdos com guitarras às costas... Eu acho que vem aí uma geração que vai dar cartas. Tenho a certeza que sim! A quantidade também pode trazer qualidade, por uma questão de estatística. Mas há algo muito importante aqui e que deve ser salientado. A internet permitiu a democratização da música. Tem-se acesso a mais música e acho que se deve pagar a música que se gosta pela internet, embora se consulte e se oiça, o que eu concordo plenamente. Mas a autoria deve ser recompensada!
 
Com a evolução que se tem registado, concordo plenamente. O facto de haver muitos miúdos novos a fazer música prende-se exactamente com isso. A internet veio mostrar que é possível! Mas há uma coisa que é comum há 10, 20, 30 ou 50 anos, é preciso saber tocar o instrumento. E isso não se faz nem numa garagem, nem numa discoteca, nem num concurso, é preciso estar horas e dias e meses e anos para se aprender a tocar um instrumento. E abdicar de muita coisa! Ou seja, é muito mais fácil vestir um casaco de cabedal, colocar uma guitarra às costas e dizer - eu sou músico, do que tocar durante 18 anos um instrumento e depois dizer - eu sou músico!
 
 
FOTOGRAFIAS: Câmara Municipal de Bragança (Festas da Cidade 2016)
 



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