Um homem de 74 anos morreu, quinta-feira, carbonizado no exíguo barraco em que vivia num monte na aldeia de Crasto, em Valpaços. O incêndio terá sido provocado pela fogueira em que o idoso cozinhava e se aquecia.

A fogueira era quase tudo para Frederico Faustino. Servia-lhe de fogão, iluminava-lhe a escuridão e, no Inverno, era a única fonte de aquecimento do pequeníssimo barraco de tijolo, sem água nem luz, onde o idoso vivia há cerca de dez anos, num monte ao cimo da aldeia, onde só chegam máquinas agrícolas e carros todo-o-terreno. Anteontem à noite, o idoso pagou caro a relação. Por razões ainda por explicar, as chamas da fogueira ter-se-ão propagado à lenha que o idoso guardaria no exíguo barraco e ao sofá-cama.

Quando os Bombeiros de Valpaços chegaram ao local já nada puderam fazer. Já tinha ardido tudo o que havia para arder. Só ficaram as paredes de tijolo. Frederico ficou praticamente carbonizado.

\"Foi um vizinho que se apercebeu do fumo e deu o alerta para a GNR\", explicou uma vizinha. No entanto, ao certo, o que se terá passado ninguém sabe. O que os vizinhos sabem é dos hábitos arriscados do idoso, que além de uma pequena deficiência mental tinha também graves problemas auditivos.

\"Eu acho que ele nem se deitava, ficava sentado no sofá ali colado ao lume\", explica uma mulher da aldeia. Luciano Carriço, que era seu amigo, garante que Frederico tinha o \"mau hábito de ficar toda a noite com o lume aceso e de levar molhinhos de lenha para o interior do casebre\".

Antes de ir morar para o barraco, Frederico dormia \"onde calhava\". \"Ele não gostava de dizer onde ficava\", lembra Luciano. O barraco foi-lhe emprestado por uma moradora da aldeia que tinha pena de o ver a dormi \"aqui e ali\".

Dos pais, Frederico tinha herdado apenas uns terrenos. A casa tocou a outro irmão, que, entretanto, a vendeu. A única família que lhe restava agora eram alguns sobrinhos.

Segundo alguns moradores, já tinha havido tentativas para que o idoso fosse encaminhado para um lar. Frederico terá recusado.

\"Ele não queria prisão. Gostava de andar, tinha boas pernas\", lembrava uma vizinha. Mas, ontem, na aldeia, o que toda a gente lamentava era a sua pouca sorte. \"Coitado, até na morte foi pobre\", lamentavam.

Anteontem, outro idoso, este da na aldeia de Valverde, foi encontrado morto num monte, a cerca de um quilómetro da aldeia do Cachão (Valpaços). O homem, de 83 anos, estava desaparecido desde quarta-feira à tarde. Ter-se-á perdido. Miguel Chaves foi localizado por um helicóptero usado no combate a incêndios.



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