Quem conhece o texto original do Auto da Índia, se tinha dúvidas de que antes de iniciar o espectáculo, se justificaria uma nota introdutória, por parte da sua produção, por se tratar de uma peça de um autor dos séculos XV e XVI (1465/1536), foi-as perdendo ao longo do espectáculo, porque o desempenho dos actores se encarregou de as dissipar. Uma chamada de atenção para a linguagem original, muito próxima do idioma castelhano, parece ter sido o suficiente, a avaliar pela atenta reacção que o público manifestou, no decorrer das várias cenas. Compreendendo ou não o que se estava a desenrolar, tal entusiasmo poderá ter ficado a dever-se ao bom desempenho dos actores ou à forma como o encenador adaptou a peça às condições de teatro de rua. Certo é que prendeu a atenção da pouco mais que meia centena de assistentes, de princípio a fim.

Não interessa aqui contar o enredo do auto, que um espectador no final da representação comparava com situações idênticas a algumas vividas na década de 60, nos primeiros anos da emigração e da guerra colonial, mas certo é o que um dos cinco actores intervenientes (três homens e duas mulheres) disse ao acabar a representação: "Assim estamos a educar o povo". E mais disse que "o teatro é um trabalho de missionários", mas que disso não se podem queixar porque aquele é o seu trabalho.

No decorrer das cenas foram declamadas algumas estrofes dos Lusíadas, de Camões, que não têm nada a ver com o texto original do Auto da Índia. Facto é que isso resultou. Tanto como no final surtiram algumas passagens do livro de poemas "Mensagem", de Fernando Pessoa. Depois da tempestade, nada melhor que um apelo à identidade nacional. O fundo musical, com interpretações de autores exclusivamente portugueses, denotou não só bom gosto, mas também o conhecimento dos terrenos que os responsáveis pela montagem do espectáculo pisam.

Certamente que numa próxima oportunidade, terão em Morais mais público à sua volta. A questão é que os espectadores de domingo passado consigam passar aos seus vizinhos a mensagem de agrado que manifestaram durante e após o espectáculo.



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