A população de Vila Pouca de Aguiar está disposta a mostrar o seu descontentamento com o anunciado encerramento dos serviços de urgência do centro de Saúdel Local, que funciona 24 horas por dia. Amanhã, dia anunciado para o protesto nos seis municípios do Alto Tâmega - onde também está prevista a desclassificação da urgência de Chaves -, Vânia Martins, da localidade de Carrazeda do Alva, na zona da serra, vai marcar presença frente à unidade de Vila Pouca de Aguiar: \"Principalmente pelas pessoas da montanha, que não têm outro centro onde ir e este é muito importante.\"

\"Se uma pessoa estiver quase a morrer chega lá já morta\", diz por sua vez Idalina Gonçalves, comentando os cerca de 30 quilómetros de distância que separam Santa Marta do Alvão, onde mora, do hospital de Vila Real. Já Elizabete Monteiro foi apanhada de surpresa. Até falar ao DN, \"não estava consciente\" das pretensões do Governo, mas logo perguntou pela hora programada para a manifestação. \"Há muitas pessoas aqui e a qualidade do serviço é boa, para mim e para todas as pessoas este centro é muito importante\", acrescentou.

Quem garante que vai estar ao lado das populações é Domingos Dias. Presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar e da Associação de Municípios do Vale do Tâmega, diz que os critérios governamentais estão \"completamente desfasados da realidade\". Segundo o autarca, o relatório elaborado pelos peritos calcula a distância das localidades até ao serviço de urgência, considerando uma velocidade média de 60 quilómetros por hora, \"sem ter em conta as estruturas viárias da zona. Outra das suas \"imprecisões\" tem a ver com as localidades do concelho e também de Ribeira de Pena que ficam a mais de 60 quilómetros do serviço de urgência, ou seja, \"a mais de uma hora de distância\".

Mas Domingos Dias não se fica por aqui. Vila Pouca de Aguiar é um concelho com muitas pedreiras, \"por isso o risco de trauma é maior\". Além disso, acrescenta, a estância termal de Pedras Salgadas, que tem grande afluência de turistas, vai ser objecto de um projecto de reconversão e \"exige-se que tenha cuidados de saúde próximos\".

O Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar foi financiado a 100% pelo Governo da Noruega (a cujo rei o autarca já solicitou que intercedesse junto do Governo português), que no início dos anos 80 tinha um programa social de apoio a países necessitados, e sofreu intervenções há cerca de dois anos. Também por isso, \"tem todas as condições para funcionar como um serviço de urgência básico\", conclui Domingos Dias.

Esta unidade de saúde recebe, segundo dados fornecidos pela autarquia, uma média de 73 utentes por dia, sendo que quatro destes são atendidos no período entre as 20.00 e as 02.00. \"O que numa região do interior é raro\", garante o presidente da câmara, \"extremamente indignado\". Juntamente com os outros municípios do Alto Tâmega, é essa a posição que vai vincar depois de amanhã: \"Fica a mensagem clara de que o povo não aceita esta decisão, esperemos que o Governo saiba interpretar as suas palavras.\"

Também o autarca de Chaves estará amanhã junto dos munícipes a contestar a política de Correia de Campos. Para além dos flavienses, a manifestação deverá contar com residentes nos concelhos de Valpaços, Boticas e Montalegre servidos pelo hospital de Chaves, que até agora tem urgência médico-cirúrgica e será \"desclassificado\" para Serviço de Urgência Básica. A população passará a recorrer ao Hospital de Vila Real.

João Gonçalves Baptista estranha o facto de o primeiro relatório técnico prever manter os serviço e só o segundo desclassificá-lo, sem ter em conta, sequer o turismo termal da região. \"Queremos manter o serviço e reforçá-lo\", garante.



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