Maria Judite Fernandes não sabe que idade tem, mas de acordo com o que está escrito no seu bilhete de identidade já fez 28 anos de idade. Quando tinha dezanove foi autorizada pelo pai, com quem morava em Valongo, no concelho de Macedo de Cavaleiros, a ir viver em Meles com Cândido Augusto, um patriarca viúvo que na época tinha 82 anos. Um ano depois nasceu o Arménio Aníbal Fernandes, que hoje tem oito anos.

Logo na altura, verificando as \"más condições de higiene\" em que o casal vivia, a população de Meles denunciou a situação na Câmara Municipal. Esta, por sua vez, após as devidas diligências dos respectivos Serviços Sociais, remeteu o caso para a Comissão de Protecção de Crianças em Risco do concelho. Avisado então dos riscos que corria de ficar sem o filho se continuasse a viver em Meles naquelas condições, o casal fugiu para Espanha, iludindo assim a intenção da Comissão, que pretendia retirar a criança ao seio familiar para a entregar a uma instituição vocacionada para recolher menores em risco.

Esta situação durou oito anos. Com o regresso do casal e o avolumar das denúncias da população de Meles sobre as \"condições degradantes\" em que o Arménio estava \"a ser criado\", a Comissão de Protecção de Crianças em Risco decidiu intervir, reabrindo o processo. Como os pais resistiram à entrega do menor, aquela entidade recorreu ao tribunal, que por sua vez sentenciou a entrega do Arménio ao Centro Juvenil Salesiano de S. João Bosco, de Mirandela.

As vizinhas gostam do casal, que \"não faz mal, nem se mete com ninguém\" e também gostam \"muito\" do Arménio, mas acham que a medida do tribunal foi \"a mais acertada\". Algumas dizem que foram abordados pela Segurança Social para tomar conta do menor, mas todas recusaram essa \"responsabilidade\", apesar da concessão de apoio financeiro. Para essa recusa alegaram a proximidade da família e os hábitos adquiridos pelo Arménio, que \"falta frequentemente à escola\".

Cândido, patriarca da família, é que não se conforma com a entrega do Arménio aos Salesianos. Preferia que fosse adoptado por um dos seus oito filhos, uma vontade que pensa concretizar através do tribunal. E afirma que se não lho \"dão de volta\" se mata \"com o remédio das batatas\", pois sonha \"com o garoto todas as noites\" e garante que não se \"afaz a esta separação\". Acrescenta ainda que queria criar o menor e que até pensa deixar-lhe tudo o que tem. Interrogado pelas vizinhas sobre como faria isso quando tem filhos e o Arménio não está perfilhado, o ancião hesita, pois não consegue desmentir a companheira, que diz que foi Cândido que não o quis perfilhar na altura do registo de nascimento.

Inconformada com a situação de viver afastada do filho, Judite prefere entregá-lo para adopção a uma pessoa que conhece do que \"deixá-lo ao padre\", embora reconheça que está a ser \"bem tratado\", como pÎde constatar na visita que já lhe fez. O \"pior\" é que estas visitas \"ficam caras\". A última, diz Cândido, custou-lhe sete contos e meio.



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