A Unidade de Arqueologia da Universidade de Vila Real está a fazer um levantamento de vestígios antigos associados à produção de vinho da Região Demarcada do Douro, desde as pias, lagaretas aos lagares de granito.

O projeto que envolve uma equipa multidisciplinar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) foi apresentado hoje, durante o II Encontro Nacional de Museus do Vinho, que decorre no Peso da Régua.

Mila Simões de Abreu, docente e investigadora da UTAD, disse à agência Lusa que a Unidade de Arqueologia está a fazer um inventário daquilo que são os vestígios mais antigos sobre a produção de vinho no Douro.

"É um pouco surpreendente pensar que isso ainda não foi feito, mas na verdade não foi. É tão estudado o Douro, mas a sua parte mais antiga não é e coloca-se a questão de quando é que teria começado a produção de vinho", salientou.

A investigadora explicou que se pretende "indagar a presença desta produção em época pré-histórica" e frisou que este estudo permite "fazer uma verdadeira viagem no tempo aos primórdios da fabricação do vinho".

Os lagares escavados na rocha estão entre os vestígios mais antigos associados ao cultivo da vinha na Região Demarcada do Douro, que foi regulamentada em 1756 pelo Marquês de Pombal.

No entanto, a investigadora realçou que aqui a produção de vinho já pode remontar há cerca de dois mil anos.

Mila Simões de Abreu disse que está a ser feito um "levantamento total desses vestígios das pias e lagaretas mais simples aos lagares mais sofisticados", a maior parte dos quais são em granito.

Só no concelho da Mêda já foram catalogados mais de 50 lagares.

"Penso que quase todas as quintas tinham um destes lagares. É compreensível porque o transporte da uva é um dos grandes problemas e portanto eles produziam e faziam o vinho logo ali ao lado", frisou.

Este trabalho vai ser feito com recurso às novas tecnologias, como por exemplo os drones que vão permitir recolher imagens de cima, o que por vezes é difícil no Douro de socalcos e encostas íngremes, e dar uma visão mais global dos sítios.

O estudo vai envolver várias disciplinas, desde a Arqueologia, à Geologia, Biologia, Agronomia e Enologia e envolve ainda uma colaboração com a Universidade de Cambridge, em Inglaterra.

"Com os vestígios que ainda hoje estão presentes no granito, podemos analisá-los para que se possa chegar a uma identificação mais segura de que se foi o vinho ou o azeite e até que tipo. Essa é a nossa esperança", salientou.

Para isso, explicou, vão ser recolhidas amostras nos lagares e será identificado o maior número possível de sítios dentro deste território.

A responsável referiu que já foram feitos estudos sobre estes vestígios, como por exemplo em Alijó, mas ressalvou que "não há uma visão de conjunto".

"Nós queremos dar essa visão de conjunto, compreender qual é a verdadeira distribuição ou qual a tipologia. Eu penso que existem três tipos destes lagares mais antigos, desde os primeiros que aproveitavam os buracos naturais das rochas, depois começaram a alargar esses buracos até que depois faziam verdadeiras construções", explicou.

A investigadora referiu que o projeto poderá estender-se pelos próximos cinco anos e frisou que o objetivo passa ainda pela criação de roteiros que levem os visitantes nesta viagem pela história do vinho.

A ideia passa também, segundo Mila Simões de Abreu, por fazer uma experiência de arqueologia experimental, ou seja de produzir vinho num destes lagares escavados na rocha.

O Encontro de Museus do Vinho está a decorrer no Museu do Douro, na Régua, e termina na sexta-feira.
Lusa



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