As ruínas do Mosteiro de Pitões das Júnias, no concelho de Montalegre, recentemente classificado como património nacional, estão em risco de desmoronamento. O presidente da Câmara Municipal apela ao "sentido prático" das duas instituições que têm responsabilidades sobre o "valiosíssimo" monumento: o Parque Natural da Peneda Gerês e o Ippar. E pede para que, "pelo menos", sejam feitas obras de consolidação.

O Mosteiro de Pitões das Júnias, um monumento do século XII situado na aldeia do concelho de Montalegre com o mesmo nome, e classificado como património de interesse nacional há pouco mais de um mês, é um dos pontos de atracção turística daquela típica aldeia barrosã.

No entanto, as ruínas que restam do antigo convento, estão em risco de desmoronar. Aliás, parte de uma parede, que, supostamente, terá sido utilizada como cozinha pelos religiosos que ali habitavam, já ruiu e algumas padieiras apresentam vários sinais de cedência, o que, a acontecer, acabará por deitar abaixo uma série de pedras que estão a suportar. Algumas dessas padieiras já estão escoradas com troncos de madeira, mas o presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Fernando Rodrigues, teme que aquele "valíosissimo património" não resista a possíveis vendavais ou ao peso de uma eventual carga de neve e se "arruine por completo".

Embora reconheça que o mosteiro não está sob a sua responsabilidade, o autarca barrosão tem mostrado interesse em preservar o monumento e, há cerca de dois anos, "prevendo o que agora começa a acontecer", propÎs ao organismo que tutela directamente o mosteiro, o Parque Natural Peneda Gerês (PNPG), com sede em Braga, que fosse ali criada uma escola-oficina, subsidiada pelo Centro de Emprego. O objectivo era colocar pessoas desempregadas, coordenadas por técnicos do parque e do Instituto Português do Património Arqueológico (Ippar), cujo parecer ao nível de qualquer intervenção no mosteiro é vinculativo, a fazer um trabalho de consolidação das ruínas. Mas isso não aconteceu, alegadamente por falta de um obrigatório "projecto técnico". "Lamentamos que, na altura, o Parque e o Ippar não tenham encontrado uma solução que permitisse aproveitar a oportunidade dada pelo Centro de Emprego", frisou Rodrigues, aproveitando para criticar a "falta de sentido prático" na actuação das duas instituições. E pedindo para que, "pelo menos", e o "mais rapidamente possível", sejam feitas obras de consolidação para evitar o pior: o desmoronamento completo das ruínas.

Ippar contra

turismo de massas

O Semanário TRANSMONTANO tentou ouvir o director do Parque Natural Peneda Gerês a este propósito, mas, apesar das inúmeras tentativas, Mário Freitas esteve sempre indisponível, fosse por ter a extensão ocupada, por estar em reunião, ou porque "acabara" de sair.

Autorizado a prestar declarações sobre o assunto pela direcção do Ippar do Porto, o arqueólogo Paulo Amaral, que se encontra em Montalegre no âmbito das obras de recuperação do castelo, revelou que já foi feita "uma acção de diagnóstico" sobre o mosteiro, em que se conclui da necessidade de obras de consolidação. No entanto, este técnico lembra que a "iniciativa" deve partir do organismo que tutela o monumento, ou seja, o PNPG, já que ao Ippar cabe apenas "apreciar" o projecto apresentado, bem como "acompanhar a sua execução.

Há já alguns anos pensou-se em aproveitar o Mosteiro de Pitões das Júnias para fins hoteleiros, construindo ali uma espécie de estalagem. No entanto, essa hipótese não foi aceite pelo Ippar. Segundo Paulo Amaral o "ideal" seria manter o monumento religioso "em estado de ruína", e evitar mesmo que se torne um local para "turismo de massas". Um dos motivos, aliás, pelo qual não se tem "melhorado" os acessos ao local.

A lenda

Existe uma lenda de tradição oral sobre a origem do Mosteiro de Santa Maria das Júnias. Segundo essa "estória", o monumento religioso terá sido erguido por causa da aparição de uma imagem de Nossa Senhora com o menino nos braços, na cavidade de um carvalho, a um grupo de fidalgos que caçavam numa floresta a sueste da aldeia de Pitões.

Encantados com visão, os caçadores terão então prometido erguer naquele local um templo em honra de Nossa Senhora e um mosteiro anexo.

O convento que agora está em estado de ruínas, quando foi levantado, era formado por dois pavilhões, unidos em ângulo recto, com rés-do-chão e primeiro andar. A parte interior do recinto, o denominado claustro, era fechado do lado oposto ao edifício, por um muro e por uma arcada gótica. Paralela a esta arcada foi erguida uma igreja, templo ogival, de uma nave, com a respectiva capela-mor. A igreja é, actualmente, a construção que se encontra em melhor estado de conservação, apesar de precisar também de obras no telhado.

Ainda segundo a lenda, além de construírem o mosteiro, os fidalgos dotaram-no também dos bens necessários ao sustento dos frades. Daí que as propriedades rurais situadas nas imediações de Pitões tenham pertencido ao convento.

Apesar de não se saber ao certo, acredita-se que tenham sido treze os primeiros frades a habitar o convento.



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