O regresso à terra Natal tornou Célio Pires num dos mais respeitados construtores de instrumentos polifónicos do país, com exemplares que são tocados por instrumentistas profissionais e amadores, um pouco por toda a Península Ibérica e França.

\" A sanfona e o organistrum são instrumentos que há já muito tempo me despertam a curiosidade. No entanto, a minha vida profissional não tem permitido dispor do tempo necessário para a construção destes engenhosos instrumentos\", disse à Lusa Célio Pires.

O artesão, para além de construtor, é considerado pelos etnomusicólogos portugueses e espanhóis como um dos melhores executantes de sanfona, flauta pastoril, e gaita de foles da sua geração.

Este militar da GNR a residir na aldeia raiana de Constantim (Miranda do Douro) construiu o seu primeiro instrumento musical aos 16 anos e atualmente o seu tempo livre é ocupado a construir exemplares únicos de instrumentos tradicionais e réplicas de outros que remontam à Idade Média.

\"A minha paixão por estes instrumentos vem na sequência da sua sonoridade, já que um instrumentista, com um único instrumento, consegue tocar e cantar diversas melodias tradicionais acompanhados por instrumentos tipo «baixo», constatou o artesão.

Uma das suas mais recentes construções é um organistrum, instrumento de cordas tocado por duas pessoas e que remonta, segundo o construtor, ao século 09, sendo considerado o antecessor da sanfona.

\"Estes instrumentos não vão quebrar a tradição da música da região mirandesa ou transmontana, já que há registos dos mesmos desde a Idade Média, sendo possível encontrar gravuras em igrejas ou catedrais da Península\", frisou.

Célio Peres recorda que o «organistrum era muito utilizado para tocar música sacra, tendo caído em desuso com o aparecimento do órgão. No entanto, este instrumento evoluiu para a sanfona, um instrumento mais fácil de tocar».

Segundo o construtor de instrumentos, a escolha dos materiais é muito importante para se obter uma sonoridade apurada e afinada: por esse motivo, tem que se recorrer a materiais e madeiras nobres e ao mesmo tempo ter a certeza do que se está a fazer.

«Quando construímos um cordofone temos que ter em conta que a escolha da madeira é fundamental e tem de ser a adequada às diversas partes do instrumento», destacou o construtor.

A madeira de nogueira, o pau santo, o ácer selvagem, o pinho Flandes, pau preto ou alguergue são madeiras nobres que o construtor não dispensa.

«Devido ao seu preço e à crise, ainda há pouca gente a comprá-los, a não ser os grupos musicais«, salientou.

Passo a passo, o instrumento ganha forma até chegar à mão de qualquer tocador que terá de desembolsar entre quatro a cinco mil euros para adquirir um dos exemplares. Todos únicos.



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