O que a montanha oferece é a base de trabalho de 151 investigadores que, a partir de Bragança, estão a desenvolver soluções naturais alternativas aos corantes e conservantes químicos usados na indústria.

Quem passa junto ao edifício do Centro de Investigação de Montanha (CIMO) do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) dificilmente imagina os corredores de laboratórios onde a ciência conta com apenas alguns milhares de euros de apoio estatal, mas capta cerca de quatro milhões de euros por ano com candidaturas a projetos competitivos nacionais e internacionais.

No mercado há já vinho, pastelaria e pão com a inovação do CIMO, que está também a desenvolver um novo revestimento natural promissor, substituto do plástico na conservação de alimentos como o fiambre.

O mote destes investigadores é: da natureza até aos produtos de uma forma sustentável, como disse à Lusa Isabel Ferreira, investigadora e diretora do CIMO, criado em 2002, e que tem um polo no Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

“Acreditamos que estes territórios, que enfrentam algumas ameaças, nomeadamente a baixa densidade populacional (…), são uma terra de oportunidades, devido à sua excelente biodiversidade, e inspiradores para desenvolverem novas tecnologias verdes”, observou.

Os investigadores trabalham em vários projetos nacionais e internacionais nas áreas da agricultura na procura de fertilizantes, soluções para a rega, combate a pragas como as doenças do castanheiro ou a valorização do azeite e da apicultura, bem como outros de valorização dos resíduos orgânicos municipais para produção de bioenergia e de desenvolvimento de bioprodutos para setores industriais.

O principal enfoque da investigação é, contudo, o setor alimentar de ingredientes de base natural para corantes, conservantes e bioativos.

Uma das novidades, ainda em fase de desenvolvimento, é o “SpraySafe”, que já foi testado em fiambre e que é pulverizado nos alimentos, criando um revestimento natural que conserva sem a necessidade de recorrer às atuais películas de plástico. A formulação do produto é de origem vegetal e é comestível e dissolve-se na água.

Isabel Ferreira garante que tanto pode ser utilizado no retalho como em casa e que há já “imensas propostas de parcerias” quer com empresas interessadas em utilizar quer com as que comercializam plásticos e películas e que “estão sempre muito interessadas em ingredientes biodegradáveis alternativos”, sendo porém cedo para avançar prazos de chegada ao mercado.

Já à venda com o nome do politécnico de Bragança no rótulo está vinho que, em vez dos sulfitos, usados na fermentação e conservação, é produzido com um substituo à base de flor de castanheiro, uma das culturas emblemáticas de Trás-os-Montes e que os cientistas dizem ter “enorme potencial antioxidante e antimicrobacteriano”.

A solução resultou do desafio do produtor da Quinta da Palmirinha, no Norte de Portugal, que foi o primeiro a usar a fórmula, tendo sido seguido por outros produtores nacionais e espanhóis.

Este conservante natural está entre as 15 patentes registadas pelo CIMO, em Portugal, na União Europeia e EUA.

As plantas, frutos e cogumelos são a matéria-prima destes investigadores também para corantes naturais que estão a ser testados e há empresas de panificação e pastelaria a confecionar os seus produtos com as cores e sabores à base das fórmulas dos investigadores do CIMO.

As descobertas têm sido agraciadas com prémios globais e individuais em concursos de inovação, destacam-se na área da ciência e tecnologia alimentar, surgem nos ‘rankings mundiais’ nas posições cimeiras e quatro dos investigadores estão entre os mais citados do mundo.

O próximo passo será decidir o que fazer com a inovação: “se interessa mais vender ou criar empresas” para comercialização.

O trabalho que ali é feito tem cativado jovens investigadores doutorados da região e de fora como Rubia Correia, uma engenheira alimentar brasileira que realça “a infraestrutura impecável, equipamento de ponta e o conhecimento da equipa”.

Carla Pereira é de Bragança e fez todo o percurso no politécnico, desde 2002, altura em que iniciou a licenciatura em engenharia química. Pensou em sair da região, mas o CIMO “foi fundamental para ficar e investir na carreira”.

Já Márcio Carocho trocou em 2004 Águeda por Bragança para estudar engenharia biotecnológica e ficou porque quer, gosta e é “desafiado todos os dias a encontrar soluções num ambiente soberbo”.

“O bom que se faz aqui, faz mudar essas mentalidades que pensam que o interior está esquecido e que não se faz cá nada de interessante”, defendeu.



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