Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

518. Corrupta iustitiae

518.1. Corrupta iustitiae 1. PENA SUSPENSA PARA VIOLADORES

No início do mês de novembro 2024 um médico de Bragança (radiologista segundo uns, ginecologista, segundo outros órgãos de comunicação) foi condenado a 2 anos e 8 meses de prisão por dois crimes de violação de pacientes. Pena suspensa. Os juízes continuam a libertar violadores, pedófilos, acusados de violência doméstica e outros criminosos, esperando que os processos por corrupção entupam de vez os tribunais.
Gosto de ficar em casa, sem ser visto na “civitas”. Não aceito a responsabilidade de lutar sozinho contra déspotas, tiranos, corruptos, medíocres, ao contrário do que fiz durante décadas. Estou lucidamente consciente, desta utopia, pois há sempre os favorecidos pela “sorte”, os ricos (NINGUÉM enriquece à custa de trabalho honesto!). Estou consciente de que a lei, qualquer que seja, em qualquer país, está cheia de iniquidades e favorece obviamente os ricos e os corruptos. Quem se “lixa é sempre o mexilhão,” pois são os pequenos e os incómodos que servem de exemplo na luta contra o nepotismo e corrupção. Basta nascer-se no Congo ex-Belga, em Kiribati (no Pacífico Sul) ou na Terra do Fogo para as hipóteses de futuro serem radicalmente distintas do que nasceu no palácio de Buckingham, e foi rei em velho, só para dar um exemplo dum “rapaz da minha idade”.
Jamais esquecerei a Ditadura Nacional, os anos que se seguiram e preencheram a primeira parte da minha vida. Talvez admita que a sociedade na ditadura aparentava ser menos corrupta, a justiça funcionava melhor, e a educação (elitista) proporcionava mais conhecimentos.
Querem-se políticos a pensar no país, a congelar 230 deputados inúteis, a desburocratizar, a pensar na Nação sem betão nem alcatrão. Queremo-los num hospital, repartição, tribunal, transportes públicos, a tirarem o número na fila sem privilégios nem mordomias, sem médico de família, como milhões de portugueses. Ando há meses a matutar neste tema. Devaneei que o país tinha deixado de ser Lisboa. Idealizei aldeias, crianças em escolas reativadas, campos cultivados e os mais idosos a usufruírem de boas reformas. Não podia continuar silente. Tinha de erguer o grito de revolta porque o que ouvimos é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. Deputados, administradores de bancos e empresas públicas com reformas chorudas e corrupção. Lucros exorbitantes nos bancos e empresas com administradores ex-ministros, ex-deputados, recebendo dividendos desmedidos. Os professores como bode expiatório. Os alunos, sem estudarem, passam para não estragarem as estatísticas de Bruxelas e para brilharete de ministros.
A democracia é uma planta muito frágil que precisa de ser regada diariamente.
Poderes económicos de um capitalismo desenfreado, rendido ao mercado, dinheiro e interesses que à sua sombra se expandem, mortalmente lesivos dos princípios democráticos. Financiamentos ilegais de campanhas eleitorais, promoção de testas de ferro, candidatos fantoches, quadros dirigentes ao serviço de esquemas de corrupção, etc. As estruturas partidárias na obsessão pelo poder, alimentam ligações e oligarquias das negociatas, reprimem o contraditório e combatem o debate interno, essência da democracia política. O exemplo de uma semi-democracia, semi-autonómica, é visível nos Açores onde existe um parlamento regional e teórica liberdade de escolha, mas as decisões relevantes são definidas em Lisboa, ao atropelo e revelia das normas autonómicas, com a cumplicidade local.
O povo, que até nem é totalmente ignorante, vota com os pés (ie, abstendo-se) ou vota a favor dos que o mantêm subsidiodependente, num ciclo vicioso: vota em mim e recebes apoios, não votas e desenrascas-te sozinho contra a malha burocrática que te vai aniquilar. As vozes independentes, são poucas, raras e silenciadas pela autocensura nos meios de comunicação. Estamos a caminho da autocracia, mas ainda com a manta diáfana da aparência democrática. Infelizmente, o pior está para chegar. O nacionalismo e a xenofobia chegam ao poder com o voto do povo.
A Europa cresceu, o sonho da Europa unida medrou e cresceu descontroladamente, até ter mais olhos que barriga e ficar desesperadamente obesa na palhaçada que hoje é. Depois da década de 60, por toda a parte, uma após outra, as ditaduras iam sendo aniquiladas e substituídas por modelos de democracia onde, alegadamente, o povo e a sua vontade eram representados em parlamentos. Com a queda do Muro de Berlim e a glasnost a dar lugar a uma nova Rússia acreditamos que sonhar era isto, uma nova realidade na América Latina e América do Sul, mas já o neoliberalismo da nova ordem mundial tinha disseminado sementes com Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Não sabíamos que isso iria perverter todo o ocidente.
Lentamente, nos últimos vinte ou trinta anos assistimos a um constante retrocesso nas conquistas dos direitos fundamentais da humanidade: igualdade, solidariedade e justiça. Mais do que nunca as democracias estão a ser manipuladas criando a aparência de vontade popular através do voto universal, mas, na prática, substituídas por autocracias dos EUA, à Venezuela e dezenas de países, sem falar daqueles onde as escolhas democráticas foram substituídas por nomeações da grande e anónima banca internacional, do grande capital do petróleo às farmacêuticas que tudo controlam. Isto num mundo em que a verdade é ficção e a ficção é a neoverdade.
Ainda há dias a ler Umberto Eco, O Cemitério de Praga, me apercebi de que como isto sempre aconteceu sem nos darmos conta. Entretanto, países que se habituaram a mandar e a serem os xerifes do universo, como os EUA (em substituição dos decadentes grandes impérios que duas grandes guerras aniquilaram) continuam a inventar invasões, primaveras políticas, depondo ditadores ou democratas a seu bel-prazer.
Sempre afirmei e reitero, mesmo que já não sirva para grande coisa, o 25 de abril trouxe-me o bem mais precioso: a liberdade de expressão, a mim que sou um individualista nato e jamais conseguiria viver numa autocracia. Dantes, os países democráticos tinham eleições, os outros não (nem mesmo as mascaradas eleições do partido único em Portugal o ocultavam).
Hoje assistimos a um novo e preocupante paradigma, a semi-democracia onde existe a aparência com eleições e tudo o mais, mas sem que a realidade ali esteja representada, com resultados viciados, roubo descarado de votos e tanta manipulação que o resultado é a via autocrática travestida de democracia oca. O que temos assistido nestas décadas é um ataque à democracia, e são as próprias instituições europeias quem mais tem atrofiado o funcionamento dos sistemas. E mesmo eu, que me considero um otimista nato, tenho demasiadas dúvidas, rodeado por autómatos não-pensantes, obcecados com os pequenos ecrãs dos smartphones e impérvios aos atropelos à dignidade, equidade e justiça que acontecem em volta. Quando essa liberdade se perder, de facto só terei de me conformar e aceitar que me implantem um ”chip” para o meu próprio bem, como nem George Orwell (1984 e o Triunfo dos Porcos) nem Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) conseguiram imaginar.
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518.2. Corrupta iustitiae 2. ESTAMOS LOUCOS, OU SOMOS TODOS IDIOTAS? A TRETA E INVERDADE

Quando durante os anos de ativista critiquei igualmente a Austrália e Portugal em relação a Timor, chamaram-me muita coisa, e antipatriota…Desde que adotei os Açores como residência, nunca me coibi de exigir o melhor. Sim, (apesar da idade) sou um poeta, utópico que acredita em mundos mais perfeitos, sonhador que imagina justiça, equidade e transparência, e é difícil encontrá-las.
Sou muito assertivo e intolerante quanto ao nepotismo e corrupção que permeiam a sociedade. Sou exigente, a solução para a sociedade é uma comunidade educada, extremamente culta e capaz de discernir pela própria cabeça. Enquanto ela não existir continuaremos na desresponsabilização, impunidade, e com a habitual culpa morrendo solteira. Enquanto não houver líderes capazes de dizer, a culpa é minha pois sou eu que lidero e demito-me porque os subalternos erraram, enquanto não forem capazes de o fazer seremos manipulados por lóbis e interesses que não os “da res publica”.
Dir-me-ão que a democracia ainda é o menos mau dos sistemas (como afirmou Winston Churchill). Claro que é a pior forma de governança, salvo todas as outras alternativas, e não adianta chorar sobre os defeitos da democracia: a corrupção dos políticos de todas as cores, o nepotismo, os arranjinhos parlamentares (ora agora mamas tu, ora logo mamo eu, etc.). Enquanto não investirmos na educação, justiça e saúde não há sociedade que sobreviva aos interesses de lóbis e máfias que só buscam o lucro. São utopias, mas foram sempre elas que fizeram avançar a sociedade. Como simples artesão da palavra, poeta e sonhador de utopias manterei a minha saudável loucura, disposto a trabalhar para o avanço e progresso da massa amorfa que se desligou da “res publica” e vive amolecida pela indoutrinação e lavagem ao cérebro que fazem deles “carneiros contentes cantarolando rumo ao matadouro”.
Hoje, estamos obviamente numa sociedade de treta ou parafraseando Harry G. Frankfurt “On bullshit”. Esta é a nova adjetivação da sociedade atual. A treta (bullshit) é mais perigosa e insidiosa do que a mentira, pois está-se nas tintas para a verdade, generalizada e entrincheirada nos discursos dos políticos e dos fazedores de ideias que dificilmente a extirparão. Trata-se da regra aceite por todos que esconde dos destinatários o que o autor ambiciona. Utilizada pelo marketing e relações públicas para vender, passou a ser utilizada por todos.
Toda a gente tem opinião esclarecida sobre todos os assuntos, mesmo que nada saibam sobre o tema. Em todos os telejornais todos são comentadores e opinam sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo sem formação específica sobre os assuntos. Começam como comentadores desportivos e acabam como comentadores políticos ou vice-versa, mas falam de defesa, relações internacionais, terrorismo, gastronomia, religião, e o mais que for necessário.
A hipocrisia passou a substituir a busca da verdade e a defesa dos interesses de Estado. Já não se ouvem ministros dizerem o que é melhor para o país, mas o que melhor pode servir os seus interesses e dos grupos que os alimentam. A verdade é irrelevante, substituída pela inverdade, para não lhe chamarmos abertamente, mentira. Cada vez mais o que se lê nos jornais tem de ser posto em causa. Por vezes só a data é verdadeira. Temos, como no tempo da ditadura, de buscar fontes alternativas ou subterrâneas. Nos jogos de futebol televisionados há comentadores que não sabem disfarçar o sectarismo clubístico. Interrogámo-nos sobre se estão a ver o mesmo jogo que nós. Num país em que a responsabilidade morreu solteira, ouvimos sempre dizer que se vai fazer um estudo, uma investigação, seja lá o que for, para apurar responsabilidades que nunca serão esclarecidas em vez de os ouvirmos dizer a culpa é minha, a incompetência foi nossa, ou coisa desse jaez.
É a regra da treta aplicada a tudo, desde os professores doutores sem cursos a lecionar, sem quaisquer pruridos, em universidades, a ministros corruptos e outros, envolvidos em negociatas resultantes dos anteriores lugares políticos. A vergonha parece ter desaparecido da face da terra ou então os valores educacionais que ainda tenho foram deitados fora. Ministros a empregarem mulheres, filhos, cunhados, sobrinhos, primos, descaradamente sem concurso, porque essas são as pessoas da sua confiança. Até que nem acho mal empregarem pessoas de confiança desde que tenham mérito, mas essa seria a exceção à regra...  
Acho melhor fazermos o mesmo com o nosso voto e só o darmos a pessoas da nossa inteira confiança e da família… É a descrença total no sistema político, saúde, justiça, educação. Os alunos não passam e o ranking PISA indica que Portugal está atrasado? Vamos passar os alunos todos que a taxa melhora…Os alunos não aprendem? Vamos reduzir e simplificar os cursos ao mínimo denominador comum para que todos passem e sejam doutores. Que interessa que os cursos nada tenham a ver com a realidade e com o mundo do emprego? Criem-se mais cursos, novos diplomas e façamos disto um país de doutores que a taxa ainda está baixa. Mais regra da treta.
A vida está cara? Para quem? Não será, decerto, para os que fruto de arranjinhos vários depois de trabalharem x tempo no lugar y recebem compensações, pagamentos ou rendas vitalícias que acumulam livremente com outro emprego sem perderem as reformas anteriores? Ou como aquele senhor que se reformou por incapacidade aos 45 anos e recebe salário de milhares?
Mas se pensam que isto está hoje bem pior do que há 25 ou 50 anos, então fiquem por cá mais uns 25 ou 50 anos e vamos a ver se ainda há reformas para alguém.
 Claro que o que me move é a inveja de não ter uma Fundação Soares ou outra Fundação qualquer a receber subsídios do Estado, inveja de já não ter ninguém da família no Governo ou no Parlamento, inveja de não pertencer ao bando dos que perpetuam a regra da treta. Ainda sou do tempo em que uma verdade bem contada podia arruinar a carreira de qualquer pessoa, hoje nem uma mentira bem contada afeta seja quem for…
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518.3. Corrupta iustitiae 3. Censura, fake news

Decidi abdicar da habitual dose de livros de ficção. A realidade não para de se exceder e tornar-se mais inverosímil que a fantasia. Neste pequeno jardim à beira-mar plantado, as liberdadezinhas são ameaçadas e cidadania já é sinónimo de coragem. Há uma crise que ninguém ousa negar. A democracia do 25 de abril resvalou para a demagogia. Os representantes eleitos estão, sem ideias e sem horizontes, que não sejam os dos benefícios pessoais. Esta teia intrincada de corrupção e nepotismo coloca em causa a democracia, e isso nota-se no abstencionismo generalizado.
Os ataques à liberdade começaram com a autocensura, imposta pelos poderes económicos que dominam os meios de comunicação. Depois, seguindo um processo, a nível mundial, centrado no politicamente correto, assiste-se à criação artificial do ser imperfeito: no início deste milénio era o fumador, depois foram os obesos, os carnívoros, e por aí adiante…. Tudo isso será tão grave como não pagar impostos. As represálias irão fazer-se sentir sobre os que exercem um mero ato de cidadania.
Os jornalistas não ousam criticar ninguém a menos que “mandados”. Já não há espírito de missão nem a profissão pode ser levada a sério. Portugal nunca foi um país de “jornalismo de investigação”. Agora ainda menos. A sociedade civil não se pronuncia e os jornalistas raramente o fazem. Os que querem ser esclarecidos contentam-se com o mundo “underground” dos blogues e das “fake news” que muitas vezes nem o são, assim como as teorias da conspiração que os donos disto tudo propagam para desacreditar essas mesmas teorias. O progresso tecnológico galopante, permitiu a todos um acesso alargado à informação, mas as pessoas estão menos informadas. Vive-se a miragem da multiplicidade de jornais e canais. Os telejornais são decalcados uns dos outros, só os apresentadores e a ordem das notícias mudam.
Os grandes grupos económicos que dominam os meios de comunicação (e os meios livreiros) promovem um cartel monopolizador da “verdade”, onde a independência e isenção são palavras vãs que se arriscam - em qualquer momento - a serem trucidadas. Os assalariados (jornalistas) se bem que hipoteticamente livres para escreverem sobre qualquer assunto, de qualquer forma ou feitio, só serão publicados se o conteúdo for conveniente aos interesses dos donos (patrões). Este tipo de censura é a pior. Cresceu incomensuravelmente nas últimas décadas e já me preocupava em meados de 80 na Austrália. É quase invisível. Mais brutal que o velho sistema do “lápis azul” do SNI que eliminou 68 das 100 páginas do meu primeiro livro de poesia em 1972 (Crónica do Quotidiano Inútil) para ficar elegantemente reduzido a 32.
Agora, o quarto poder, a imprensa (escrita e audiovisual), do célebre caso Watergate na década de 1960, deixou de funcionar em prol das liberdades e direitos dos cidadãos. Já não faz denúncias, manipula, mente e “orienta” com notícias falsas (as fake news). Guia os cidadãos e pactua, escondida, sob a ameaça velada das restritas leis que obrigam um jornalista a fornecer as fontes sob pena de ir para a cadeia ou pagar indemnizações milionárias. Os grandes grupos gabam-se de conseguirem eleger governos e presidentes e quando não o conseguem vale sempre a ajudinha duma batota. O voto eletrónico pode ser manipulado por quem instala o software… Ninguém sabe quantas guerras e milhares de mortos foram causados por tais eleições. Em simultâneo, os grupos económicos aumentaram desmesuradamente a influência, poder e lucros. Nem só de petróleo vive a administração dos EUA.
Aqui vos deixo o alerta para a necessidade de acordarem. Todos. Mesmo os que têm a consciência escondida ou pesada pelas atoardas com que diariamente vos metralham na comunicação social ou que temem que o que escrevo é fruto das teorias de conspiração (não é por minha culpa que a maioria se comprove verdadeira…).
Quando os políticos falam não são eles, mas as agências de comunicação e os grandes grupos que os sustentam. Quer-se, teoricamente, um cidadão culto e educado, para ter a liberdade de fazer as suas opções em liberdade. Mas o que se criou foi um pateta manipulado. Pensa que vive em democracia e é livre, mas não passa de participante involuntário numa fraude democrática. Como se diz em inglês “read my lips”... O que o povo quer é ver revistas com os escândalos dum pseudojetset e da pseudonobreza sem sangue azul, só fama fácil. O que o bom povo quer é mortes, violações, abusos, desgraças, inundações, incêndios, bombas, guerras e as tragédias longínquas, dos outros. As suas não lhe interessam.
O povinho (tão bem retratado por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão) quer ver as vergonhas dos outros para que não vejam a sua. “É disto que o meu povo gosta” como diria Pedro Homem de Mello, embora se referisse ao folclore… Assim se explica que a maior parte dos bons jornalistas portugueses se encontre desempregada sem ser por opção ou por reforma antecipada. Não eram fabricantes de notícias sensacionalistas para abrir o telejornal, empolando banalidades em transmissões diretas que se arrastam penosamente do nada. Nunca o país viu aumentar tanto e em tão pouco tempo o fosso entre ricos e pobres como nas últimas décadas. As pensões e reformas são das mais baixas da Europa, mas os Executivos portugueses ganham mais do que os milionários congéneres norte-americanos. Ninguém escreve sobre isto? Limitam-se todos a passar secretamente essas notícias em e-mails aos amigos.
Uma idosa que roubou uma peça avaliada em menos de quatro euros foi levada a tribunal pelo supermercado, e o banqueiro x, y ou z (entre outros ladrõezinhos que existem por aí) nem sequer a tribunal vai? Claro, que o roubo de milhões é investimento falhado e o de uns cêntimos é um crime de lesa-majestade.
Estão estranhamente unidos na manutenção irrealista de pensões e mordomias e, compungidos, suplicam ao país mais sacrifícios. O povo sustenta estes e outros sofrimentos, lentamente moldado para ser cordato e ordeiro, como convém a quem governa. Enquanto os políticos na tribuna falam e não fazem nada, o povo protesta, queixa-se e copia-os, não fazendo nada. Um círculo vicioso perfeito apenas entrecortado pela famosa trilogia portuguesa do Fátima, Futebol e Fado, que ora retornou ao quotidiano lusitano. Já ninguém promete dias melhores, apenas mais do mesmo e pior ainda. Mais sacrifícios presentes e futuros em troca de nada.
Ninguém promete luzes ao fundo do túnel, neste feudalismo republicano, de acumulação de reformas para ministros, deputados, assessores, com imensa acumulação de privilégios para a minoria que come da gamela governamental e se alcandora a posições de poder, prestígio e benefícios. Há que entender que este país com estes políticos, quer sejam do PS do PSD ou qualquer outro, não vai a lado nenhum...enquanto se não acabar com o sistema de cunhas e compadrios, bem pior do que no tempo do Salazar. Tem de se acabar com a impunidade na justiça, há que parar e reduzir a corrupção rampante; há que deixar de aviltar a educação e de colocar os professores na lama; é imperioso deixar de fazer cortes no setor da saúde (que se não tem); urge terminar com esta sociedade norteada pela falta de princípios e de exemplos (aqueles com que fui educado, numa sociedade demasiado conservadora judaico-cristã). Cresci com valores algo que não é frequente ver-se hoje. É essencial terminar com a proliferação do chico-espertismo, ignorância, o quero, posso e mando.
Assim, quer o povo deixe ou não, o governo continuará a fazer o que bem entende em proveito próprio e detrimento nacional, mas não se vai a sítio nenhum. Dizem que já era assim na monarquia, na 1ª república, na ditadura e na 2ª república. Já o Galba dizia que “não se governam nem se deixam governar”.
Os portugueses vão ter que aprender à sua custa e isso pode demorar gerações. Há sítios no mundo bem piores, convenhamos, mais corruptos e violentos, mas não devemos olhar para os que estão pior, mas para os que estão numa fase melhor. Portugal já tem um mínimo de boas condições para se viver. Há um enorme desencanto, cada um tem que fazer o seu melhor e trabalhar com o que tem de bom e positivo em vez de estar sempre a malhar no que é mau. Não sei se há alternativa. Não podemos mudar os outros, infelizmente. Disse Gandhi “Be the change you want to see in the world.”
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518.4. Corrupta iustitiae 4. Quero os corruptos condenados e presos

Desacreditando os professores e a sua profissão, abalando os alicerces do ensino público com normas pouco exequíveis, pouco fiáveis e de resultados estatísticos garantidos, mas sem que isso represente qualquer grau de conhecimentos técnicos, científicos ou académicos, a reforma do ensino privilegia os títulos obtidos nalgumas escolas privadas. …. Aliás não é só na educação que isto se verifica. Assim aconteceu com a justiça naqueles países e irá acontecer em Portugal.
Na saúde é ainda pior. Veja-se, o exemplo, dos médicos do “ER” (série televisiva Serviço de Urgência) a atenderem os doentes consoante têm seguro privativo (e conforme a cobertura deste) ou não, logo despachados depois de tratados sumariamente. Assim irá acontecer neste jardim. Mal um hospital ou uma urgência fecham, logo aparece um grupo privado a querer construir um hospital..
Claro que quem vive no Bronx não pode ter a mesma qualidade de vida dos que vivem em Manhattan (não sei se me entendem). Isto em termos indianos é como uma zona de sudras e vaixias onde poucos se deslocam. Mesmo a polícia tem medo de lá ir, pode ser que a ASAE depois de preparada militarmente lá possa entrar. Como que se fossem favelas, ou bairros-de-lata. As “pessoas de bem” e pilares da sociedade vivem em zonas mais abrangentes em termos de serviços e de oportunidades. Muita sorte têm estas castas menores por já disporem de água potável e eletricidade. Ninguém parece perder o sono ou o apetite (estamos a ficar todos obesos) pelos sem-abrigo que se propagam mais depressa que coelhos nas ruas das cidades, esvaziadas de gente e Humanidade. Autênticos desertos à noite, enquanto o camartelo municipal não chega para demolir as casas que irão ser “gentrificadas” e dar origem a condóminos de luxo a quem as quiser pagar. Assim, os velhos subúrbios do povo passam a ser áreas VIP.
A grande diferença é que na maioria dos países ocidentais, ditas democracias, ainda existe um mínimo de pudor, decência, bom senso e dignidade. Os casos de corrupção, nepotismo e outros, impunes em Portugal, são punidos nesses países. Penso que o melhor é fechar tudo, acabar com todo o tipo de emprego, começando pela Assembleia da República, representantes da República, ministérios, secretarias de Estado, institutos, fundações, empresas privadas. Fechar tudo, mas tudo...sem exceção. Neste contexto, deveria ficar a funcionar apenas o Ministério da Morte, gerido por almas do outro mundo com a responsabilidade de fazer embarcar para o inferno, em primeira mão, todos os corruptos, aldrabões, e malfeitores do país. Quem tem coragem de apresentar a estratégia para aprovação?
A mentira, a manipulação permanente, os negócios com amigos e conhecidos que nem constam dos livros de corrupção, desfalques e golpes para o erário público, a impunidade, o conluio entre os tribunais e os poderosos leva a que um jovem acusado de roubar (não pagar) 31 € de pizza tenha julgamento com 3 juízes e a ameaça de pena de 8 anos, enquanto os crimes maiores ou prescrevem, ou levam pena suspensa, ou nem são julgados. Tudo é legítimo desde que seja roubar em proveito próprio, da banca que os alimenta e dos interesses que os manipulam como títeres.
Civilizações caíram por menos do que isto, mas esta está a demorar tempo e quando cair não será apenas Portugal, nem a Europa nem os EUA, mas todo o mundo ocidental como o conhecemos. Novas formas de barbárie e de escravatura vão sendo reveladas por entre notícias de xenofobia, discriminação e outras aberrações. Este capitalismo selvagem não só ameaça destruir a raça humana como o resto do planeta. Este país onde tive a desdita de nascer e que nada me deu além da bela paisagem, é um país malformado, mal-educado, mal-preparado, de gente diversa: os que nasceram mais ou menos bem; a classe média (alta ou baixa não interessa, mas já interessou pois no meu tempo eu podia ir para o liceu e os menos bem iam para as escolas técnicas, comerciais, industriais, ou nem isso…); os trabalhadores; os empresários; os patos-bravos e arrivistas; os corruptos (quaisquer que sejam as cores políticas e nem todos são transmontanos, embora avondem como dizem os galegos); os políticos de aviário que jamais trabalharam um dia, e tiraram cursos esconsos em universidades dúbias, tentaram falsificar cursos e outros nem isso; e a enorme massa humana a que se chama povo. Todos, sistematicamente, lavados ao cérebro, desde tempos imemoriais sem grande oposição por Viriato, Sertório, Romanos, Alanos, Suevos, Vândalos, Visigodos, Árabes, a Santa Inquisição delatória (que fez de todos os tugas um povo de “bufos”), a Ditadura de má-memória (48 anos de belo obscurantismo em troca de alianças de paz com alemães, franquistas, americanos e britânicos para encher os cofres de ouro que não investiu).
São os interesses do partido, dos amigos e demais associados corruptos e “boys and girls” nos seus “tachos”. Se forem corruptos, julguem-nos, prendam-nos e deitem a chave fora. Os corruptos não têm reabilitação, obriguem-nos a trabalhar e a produzir para a sociedade nem que seja caixas de fósforos (esqueci-me de que já não se usam), ou, sei lá, limpar matas, arar campos desertos, reabilitar casas devolutas…Há tanto para fazer e poucos para trabalhar. Acabem com as reformas milionárias imerecidas. Todos devem contribuir com deduções para a reforma iguais aos que o estado deve colocar em fundos especiais, sem ser de especulação. Uma obra não pode ter derrapagem de custos, devem ser responsabilizados os culpados e indemnizado quem merecer ser. As viaturas de estado reduzidas ao mínimo indispensável para o normal funcionamento dos serviços e não para a ostentação inútil das autarquias, repartições, etc. Na Austrália deslocava-me nos transportes públicos juntamente com membros do parlamento, ministros, etc.…e os parentes deles nunca estiveram na lama…
A justiça deve ser célere e sem prescrições… Estado Social sim, mas com regras e inspeções. Vejamos um exemplo. Quando cheguei da Austrália, as casas sociais perto da minha no Porto, onde viviam pessoas sem posses, em grupos familiares sem rendimentos, com antenas parabólicas e carros melhores que o meu…. Essas pessoas comiam diariamente nos cafés e restaurantes, coisa que eu não podia a não ser excecionalmente. Algo me diz que a distribuição era injusta. O RSI - rendimento de inserção social ou mínimo, como quer que se chame, deve bonificar os que mais precisam que o devem retribuir em trabalho para a sociedade na medida das suas possibilidades e não para ficarem em casa a ver televisão.
Esqueci-me de dizer que também já não acredito nessas tretas de direita e esquerda, pois não creio em político honesto (é como prostituta virgem!), nem imagino que qualquer governo possa fazer grande coisa (não o deixarão os magnatas agiotas).
Quanto ao resto quero os corruptos condenados e presos, que o sistema bancário mundial seja rapidamente aniquilado… Não me entendam mal, eu acredito no capitalismo, à moda antiga, o que investe os lucros para criar maior riqueza para todos. Acredito numa social-democracia sueca dos anos 70. Era assim que se imaginava o socialismo à portuguesa, onde o estado complementa a iniciativa privada e a liberdade individual em vez de a tolher com normas estúpidas como o tamanho dos tomates ou dos chicharros. Acredito no ensino universal e gratuito para todos os que tiverem valor e não para os que querem o canudo e o axiónimo Dr. ou Eng.º ou quejandos.
Acredito que qualquer país só pode evoluir quanto mais culta for a sua massa populacional, eu disse culta, não disse com canudos de Bolonha… Acredito em qualquer país que gaste mais na cultura do que na defesa, acredito em qualquer país que preze a história e a preserve, através da recuperação dos monumentos e tradições orais ou qualquer outra forma (que não sejam touradas e demais falsas culturas circenses)...caso contrário que volte o autêntico e original circo de Roma com muitos leões para lá deitarmos os nossos políticos na arena.
 Quanto a guerras determino que em vez de mandarmos a juventude para a morte possam escolher as armas, sejam elas luta livre, corpo-a-corpo ou xadrez.
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518.5. Corrupta iustitiae 5. LADRÕES À TONA COM O AQUECIMENTO GLOBAL

Mas como é que este país se tornou num feudo de ladrões? Sempre foi, mas com o aquecimento global vieram todos à tona. Sejamos tolerantes, nenhum político nasceu corrupto, pode ter nascido com mais ou menos defeitos, mais ou menos ambições, sem saber que nunca iria trabalhar um dia na vida e que passaria a andar de um lado para o outro, sem se lembrar de tudo o que prometia, onde e quando. Criou um sorriso nº 68 sempre pronto a beijocas e abraços dos milhares que com ele se cruzam, que só desafivelava à noite quando chegava a altura de programar as ações dos dias seguintes e afivelava outro que o Zé-povinho nunca via, mas que se traduzia posteriormente na triste sina dos que queriam sobreviver nesse país à beira-mar plantado.
Um político não nasce corrupto, mas cedo se apercebe de um pequeno nada aqui, outro acolá (os brasileiros chamam a isto o “jeitinho” português, vá-se lá saber porquê), até que, ao fim de alguns anos de treino e prática, apanha finalmente os truques do “jeitinho”, que é mais ou menos como resolver um cubo Rubik em 2 segundos. Claro que as pressões não abrandam com o tempo, é a família que quer benesses e mordomias, são amigos e companheiros que exigem retribuição do apoio dado em momentos-chave, são os concidadãos que se acham no direito de exigir tudo em troca dos votos e dos apoios a campanhas de eleição, reeleição, etc.
O processo pode começar de uma forma simples, como por exemplo uma multa, um despacho desfavorável, uma autorização camarária, uma venda de terrenos, um investimento avultado na região, uma viagem a uma reunião no estrangeiro, um bilhete de avião em executiva, a atualização da frota de veículos ao seu serviço, até ao termo da fase educacional, o mestrado e doutoramento em corrupção. Então já tem firmas de advogados e deputados a trabalharem para si e para as leis de que necessita para levar a bom porto o seu mandato. Depois, tudo funciona tipo “roller-coaster”, a verdadeira montanha russa sem fim. O processo nunca acaba nem quando há investigação de jornalistas (malvados que não sabem fazer nada a não ser dizer mal e procurar os podres de figuras públicas que tanto sacrificaram a vida pessoal na sua abnegada dedicação à “res publica”). E não acaba mesmo quando surge o ministério público (coio de malvados mal-intencionados e invejosos cuja única missão é interpretarem as leis para o bota abaixo daqueles que bem entendem).
Como sabemos, investiga-se isto e aquilo, criam-se comissões de inquérito no governo ou na assembleia da república e mesmo que haja material criminal quando chega aos juízes, lá estarão os abnegados defensores da verdade, os advogados que tudo resolvem até o caso prescrever. Chega-se ao ponto em que estamos, em pleno aquecimento global, andam ladrões à tona de água, bem visíveis, já ninguém desmente o ato corrupto, mas defende-se com a incongruência técnica no processo, o ato não ocorreu dia 3 pelas 17.00 mas sim dia 3 às 17.30 e isso faz toda a diferença para quem sempre teve a consciência calma e limpa como o político de que falamos.
De quatro em quatro anos, nas eleições, os políticos (de todos os quadrantes) mostram-se vocalmente preocupados com a abstenção, que sobe exponencialmente em cada ato eleitoral. Antes, tratam os cidadãos como se vivessem na idade da pedra, prometendo coisas que – de antemão – dificilmente irão cumprir. Descem aos povoados, mercados, feiras, beijam peixeiras, bebés e tudo e todos que encontram, convencidos de que são muito bem aceites.
Dantes, após o 25 abril ofereciam esferográficas e outra parafernália como “recuerdo”, agora incluem orçamentos participativos onde os eleitores sugerem os seus planos. Os políticos pensam que assim se cumpre a democracia e que estão a ouvir a voz do povo, mas depois do ato eleitoral, promessas esquecidas, projetos alterados consoante os lóbis e as forças de pressão (a que todos os políticos estão sujeitos se quiserem ser reeleitos) afastam-nos mais e mais dos eleitores.
As camadas mais jovens criadas na era cibernética (que nada tem a ver com a forma como ainda se faz política), liga os seus fones, de olhos colados aos smartphones e segue em frente, muitas vezes dando votações magníficas aos populistas e forças oportunistas, xenófobas, racistas, anti-imigração, mas que parecem responder aos seus sentimentos básicos de insegurança pelo futuro.
Sabermos que apesar da enorme facilidade de acesso à informação, esta se encontra inundada por fake news e falsidades, e uma mentira contada mil vezes acaba por ser aceite como verdade. Como as camadas mais jovens não tiveram um ensino que privilegiasse a capacidade e o pensamento crítico, são incapazes de questionar-se sobre as doses maciças de informação e falsa informação que lhes chega, desde mensagens subliminares na publicidade, a filmes e outras formas de comunicação. Acabam assim, mais facilmente manipulados do que alguma vez imaginam.
O mesmo se passa com os mais idosos, com menos cultura política, os que vivem de telenovelas e casas dos segredos, alienados pelo futebol que sabem mais de cada jogador do que alguma vez saberão sobre os seus direitos e deveres cívicos. Claro que em nada ajudam as revelações, diárias de arguidos em casos e mais casos de corrupção, cuja maioria acaba em “águas de bacalhau”, pois poucos são os condenados ou que cumprem penas efetivas, levantando dúvidas sobre as investigações e sobre os juízes. Nada disto ajuda, mas daqui a uns anos teremos percentagens menores de eleitores, quando os eleitos tiverem apenas os votos das suas máquinas partidárias e o povo foi à bola ou à praia…

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518.6. Corrupta iustitiae 6. O Zé do Telhado (séc. XIX) era mais honesto

Basicamente otimista sem o hábito de me queixar, sou extremamente crítico do que está mal, e podia e devia estar melhor, na saúde, educação ou justiça. Tenho uma fobia extrema contra injustiças e iniquidades. Comecemos pela corrupção, hoje endémica, aparentando ter Portugal como um dos sítios privilegiados por tradição e consciente vontade daqueles que o governam. Muitos são os acusados, poucos os condenados por leis feitas à medida e prescrições para todos os gostos.
No campo da violência doméstica, pedofilia, abusos contra cônjuges, crianças e velhos, começa Portugal a sobressair na tabela, em especial quando os juízes denotando um machismo medieval mandam os culpados em paz, para casa, com penas suspensas. Quantas mulheres mais terão de morrer, ser assaltadas e feridas para este tormento parar? Quantas crianças molestadas até que os juízes sejam justos?
Isto é tão diferente da minha Austrália onde os corruptos e infratores (depois de julgados) vão presos. Aqui só os pequenos delinquentes vão presos. Os grandes veem os processos arquivados, por falta de provas, inadmissibilidade de escutas telefónicas, prescrição dos prazos legais, inaplicação de leis, amnistia de novas leis exoneratórias, e mesmo assim o povo continua a votar neles? Claro, pois prefere os chicos-espertos como o Sócrates (do nariz à Pinóquio) um desenrascado que faz falcatruas e escapa sempre. No fundo, tem inveja de não ser tão “esperto” como ele.
Nunca ninguém é responsabilizado, nem os portugueses ressarcidos dos 1001 roubos e depredações de que somos vítimas no esbanjar deste país, em nome da salvação da banca corrupta e incompetente que nos torna – cada vez mais – em mendicantes sem futuro. Qualquer dia nada em Portugal pertence aos portugueses (a cerveja, chocolates, etc., nada é português, exceto o nome ou marca).
Ao longo dos anos sempre declarei o meu ilimitado amor à história, língua e paisagens deslumbrantes deste país, mas chegou a hora de me divorciar litigiosamente depois do governo creditar biliões em bancos e deixar que os depósitos e poupanças de milhares de pessoas não sejam devolvidos a quem os trabalhou e aforrou, em manigâncias de falências fraudulentas BPP, BPN, BES, Banif. Dizem que o Estado já injetou mais de 20 mil milhões de euros nestas bancarrotas. Surgem, esporadicamente umas imagens na TV, de dezenas de espoliados a protestarem, os governantes aparecem a fazer promessas balofas e ocas para o dia-de-são-nunca-pela-tardinha e esperam que tudo volte ao normal.
E o mais grave é que os anos passam e o silêncio ensurdecedor dos protestos permanece, como se fosse lógico meter continuamente, dinheiro num doloso Novo Banco de negócios escuros e manobras obscuras, com fundos abutres e vendas de propriedades ao desbarato, sem ressarcir os depositantes que confiaram antes de se verem espoliados, expropriados, desapossados, esbulhados, defraudados, extorquidos, pilhados ou roubados, dos seus depósitos e poupanças. Obviamente que um governo, um Estado que permite isto e continua a assobiar para o lado, eleição após eleição, não é um Estado de bem nem de Direito. O famigerado Zé do Telhado do século XIX era mais honesto. Ficava, decerto, mais barato devolver aos lesados o que perderam do que manter o Banco aberto. Não sei se Portugal é o quinto país mais corrupto, ou o primeiro ou o décimo, nem me importa, o Relatório da Transparency International dá ao país 62 pontos, menos dois do que no ano passado. Organização fala em derrapagem e em "falta de coragem política" para combater a corrupção em Portugal.
Disto se aproveitam populistas e demagogos, vogando na crista da onda de revolta da população que neles veem a salvação, tal como prometeram Trump e Bolsonaro aos insatisfeitos pela corrupção nos seus países. Não acredito na justiça, nem nos parlamentares, nem nas negociatas de advogados no governo e na Assembleia, nem no nepotismo de tal forma entranhado na sociedade, que deve ser mais fácil corromper os que ainda não foram corrompidos do que tentar erradicar a corrupção. Que posso fazer? Nada, a não ser perorar nestas colunas e votar com a maioria que aderiu ao maior partido português, o absentismo eleitoral. Já não tenho idade nem forças para tentar mobilizar sejam quem for
Tal como Portugal, também a Islândia teve casos de créditos ao desbarato, e empréstimos sem garantias. Todos estavam ricos e a situação atingiu o ponto de rutura. A diferença é que a Islândia deixou cair os bancos e prendeu os banqueiros. O ex-primeiro-ministro islandês foi julgado por negligência, uma dezena de banqueiros, uns empresários e um punhado de políticos formaram um grupo que levou o país inteiro à ruína: 10 parlamentares islandeses, incluindo os líderes do partido que governou desde 1944, tinham empréstimos pessoais de quase 10 milhões de euros cada. Hoje estão todos na cadeia e a economia do país que entrara em colapso deu um salto saudável de crescimento económico mesmo com a pandemia. E lamento mas apetecia-me ser islandês.
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