“A abstenção não é uma solução”

Em ano eleitoral iniciado com as Eleições Europeias do passado dia 26 de Maio, que se concluirá com as Eleições Legislativas de 6 de Outubro, a elevada abstenção feriu o nosso sistema democrático.
Numa simples pesquisa podemos encontrar várias definições para o significado de abstenção, passo a citar :"em Política, abstenção é o ato de se negar ou se eximir de fazer opções políticas. Abster-se do processo político é visto como uma forma de participação passiva”.

Existem formas diferentes de manifestar a abstenção, a ausência presencial do eleitor no dia do ato eleitoral, e através do “voto branco” ou do “voto nulo”.

Muitas razões têm sido apontadas para este fenómeno, destacando algumas, como a não identificação da população com os programas eleitorais, assim como a total antipatia pelos representantes dos Partidos Políticos que se candidatam a eleições. Esta atitude dos eleitores portugueses é tida como uma forma de protesto, contra um sistema no qual as pessoas não encontram as soluções para os seus problemas.

A fraca qualidade das campanhas eleitorais, incapazes de motivar o cidadão a votar, contribui cada vez mais para uma maior abstenção. Existem falhas graves na comunicação dos partidos, atualmente existe uma incapacidade generalizada de transmitir ao cidadão, os programas eleitorais. O partido que comunicar melhor, que passar a mensagem de forma clara será o que vence nas urnas. O paralelismo entre comunicar bem e vencer é deveras preocupante, pois quem ganha eleições pode não ser o partido com melhor programa eleitoral, somente é o partido que conseguiu chegar ás massas e as motivou com uma comunicação eficiente, por vezes pejada de inverdades.

É certo que nenhum regime é perfeito, mas a democracia entre todos os outros, é sem dúvida o regime que permite que os indivíduos sejam eleitos para participarem na elaboração das leis, no exercício da governação dos povos. O poder da governação é conferido pelo povo, que democraticamente elege quem os representa e defende.

Relativamente a Portugal, na implementação do sistema democrático iniciado com a revolução de 25 de Abril de 1974 e só consolidado com o 25 de Novembro de 1975, a abstenção nas primeiras eleições livres - 25 de Abril de 1975 - foi apenas de 8,5% quando nos últimos anos e atualmente tem ultrapassado os 45%.
Em 1975 a abstenção foi praticamente residual, o povo Português desejava a consolidação da democracia, existia uma causa comum capaz de envolver e mobilizar transversalmente, as várias gerações de Portugueses.
Com estas primeiras eleições foram consolidados partidos e surgiram outros, mas na sua generalidade foram definidos os diferentes partidos políticos, os seus campos ideológicos de intervenção, a visão do que ambicionavam para o país, os existentes representavam efetivamente a escolha política da maioria dos Portugueses.

Desde então até aos nossos dias, a abstenção tem vindo gradualmente a aumentar, podendo acrescentar-se às diferentes causas já referidas os vários casos de corrupção, um fenómeno associado a inúmeros representantes políticos. Essa corrupção anda de "mão dada" com o clientelismo, coma alternância de interesses, que se instalou no chamado “centro político” e, por último a falsa ideia de que a democracia é um valor garantido.
Um "centrão político" desvirtualizado pelos próprios valores da abstenção, porque o ser “Português” e ser “Eleitor”, deixaram de ser coincidentes, os maiores partidos não deram ainda exemplos e sinais suficientes de humildade, para reconhecerem, que na verdade, a sua legitimidade de representação pode estar em causa.
A democracia tem de ser alimentada e valorizada por todos nós, por quem exerce as funções politicas, bem como por quem elege os seus representantes.

Nas últimas eleições legislativas o valor da abstenção foi em Portugal de 47,03%, em Bragança os números atingiram os 52,77%, sendo uma percentagem muito elevada que desprestigia a própria democracia.
A não participação nos atos eleitorais contribui para a manutenção da alternância de interesses, firmando um fosso de distanciamento cada vez maior entre o poder político e os cidadãos, não cuidando e não garantindo a manutenção dos valores democráticos.

Há uma mensagem que quero deixar a todos os que livremente deixaram de participar nos atos eleitorais - a Politica é fundamental para a resolução dos problemas atuais que assolam o nosso País, tudo em Portugal passa necessariamente pela Politica.

Seria muito importante e de salutar, que nas regiões do interior de Portugal, nomeadamente todos os eleitores que vivem e trabalham em Bragança, que nas próximas eleições legislativas dessem um exemplo de cidadania a todo o País, seria bom reduzir a abstenção para os valores residuais de 1975.

Vivemos momentos desafiantes a nível nacional e internacional, cujas soluções não se encontram certamente na abstenção, as soluções podem ser seguramente alcançadas com a participação de todos nós.

Não deixem que sejam os outros a decidir por vós, leiam os diferentes programas eleitorais, procurem conhecer os diferentes candidatos, participem e convidem a participar.
Bragança tem de dizer NÃO à abstenção!