Luis Ferreira
A aVentura
Estamos bem. Sim, ao que parece, estamos bem pois os últimos números de casos da pandemia levam a essa conclusão. O vírus está a perder o transporte da transmissão que o levava a passear-se impunemente por todo o país.
O confinamento a que nos sujeitámos teve, até agora, efeitos positivos. Se fosse mais cedo teríamos poupado mais de 3.000 mortos, mas as decisões tomam-se quando se tornam efectivas e isso cabe ao governo e ao Presidente da República.
Contrariamente às opiniões de muitos partidos políticos, o governo manteve-se relutante no encerramento das escolas alegando desculpas que já todos conhecemos, mas a verdade é que com as escolas confinadas, o país inteiro viu descer drasticamente o número de contágios, de óbitos e de internamentos. Claro que os custos são imensos. Terríveis e insuportáveis na sua maioria. São tempo de crise.
Agora que tudo caminha para uma melhoria acentuada, já se fala em desconfinamento das escolas. Sabemos que os alunos estão a pagar uma fatura elevadíssima na sua formação arriscando o futuro e mesmo a continuidade dos seus estudos. Sabemos que os pais são abrangidos por esta decisão e não queriam que as escolas confinassem, já que os remetem a uma posição mais caseira e de teletrabalho, que não queriam. Deste modo, e se as escolas desconfinarem apressadamente, pode correr-se o risco de se inverter a tendência positiva que estamos a atravessar e entrarmos numa quarta vaga ainda pior. Há que correr riscos, ou manter a cautela?
Neste momento e a este respeito, os partidos parecem estar divididos. Contudo, a data de 1 de março, parece ser a escolhida para iniciar o desconfinamento, incluindo o das escolas. Assim sendo, ainda apanhamos o combóio antes da Páscoa!
Não parecendo estar muito preocupado com estes assuntos, é o deputado do Chega que no fim de semana se apresentou aos militantes no Porto, em comício, não se sabe se como líder, se como recandidato a líder ou se como demissionário ou simplesmente deputado único do partido. No entanto, numa manifestação de força, ameaçou o PSD e exigiu desde já, que quer seis ministérios do próximo governo com o PSD, caso contrário não haverá governo de direita em Portugal. E se o PS ganhar novamente? Francamente! Ao que chega a petulância de um petulante vaidoso e convencido!
Ainda agora acaba de iniciar a sua viagem política e já quer dar ordens aos que por cá andam há tantos anos. A humildade é tão bonita! Mas um partido extremista não tem dessas coisas, claro. Na Assembleia da República, onde se remete a um único lugar, solitário, vai atacando tudo e todos fazendo lembrar o deputado Acácio Barreiros nos bons velhos tempos. Acabou por perder tudo e desaparecer. Mas ele até tinha a sua piada e era pacífico. Sabia conviver, o que Ventura não sabe.
As ameaças e exigências que Ventura fez ao PSD e aos outros partidos, são de uma prepotência extraordinária, partindo de um partido com um só deputado. Claro que conta ter nas próximas eleições 15%, segundo diz. Até pode ser que os atinja. Vá-se lá saber! Para ele, o povo é que decide. Sabemos disso, mas também sabemos que o povo não embarca em navios furados e sabe escolher a embarcação onde quer viajar em segurança. Exigir seis ministérios como a Administração Interna e Justiça e agora a Defesa, seria entregar o leme do país a um marinheiro de água doce que nunca experimentou as tempestades e as revoltas do mar alto. Seria uma aventura demasiado arriscada que levaria o país ao abismo profundo onde nem a sua História se salvaria. Para essa aventura, não contem muito com o povo português. Já pagou bem por uma viagem idêntica e não quer outra. As aventuras são para as crianças que ainda acreditam no Pai Natal!