Luis Ferreira
Á beira do caos
Na espectativa dominante que existe no âmago do nosso íntimo, todos esperávamos que a guerra que grassa no Leste e abrange quase toda a humanidade, caminhasse de algum modo, para uma paz, mesmo trémula que fosse, mas que nos descansasse a todos por algum tempo. Esse tempo deveria ser o suficiente para uma resolução definitiva do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, de tal modo que pusesse novamente a Europa e o Mundo a funcionar. Essas esperanças foram goradas completamente e em vez dessa guerra terminar, eis que temos outra.
Sinceramente, dá a impressão que os homens andam loucos e nada mais querem além das guerras que a todos confundem e a todos matam. Claro que refiro-me a homens que são simplesmente terroristas e esses, sim, querem a guerra porque lhes pagam, e bem, para a fazer, segundo os interesses de terceiros.
A coberto de ideias políticas supostamente aceites com alguma facilidade e em defesa de um povo que tem de facto, o direito de viver em paz na sua terra, os terroristas acabam por “estragar” o andamento das políticas internacionais para a resolução do problema entre a Palestina e Israel e despoletar uma guerra terrível, onde eles acabarão certamente dizimados e enfraquecidos.
Claro que o Hamas preparou este golpe durante anos e terá pensado nas consequências desastrosas a que essa atitude conduziria, fosse qual fosse o resultado final. O que se terá de explicar é como é que a Mossad israelita deixou que isto acontecesse sem se aperceberem. Ela terá de explicar, mas não penso que seja fácil. Foram levados pelos terroristas e não se aperceberam de nada. De facto, um dos melhores serviços secretos de inteligência e espionagem do mundo, foram embrulhados por simples terroristas infiltrados e não se deram conta disso.
Como é evidente, Israel quer vingar-se e isso implica entrar em Gaza e destruir o que puder do Hamas. Mas a aparente facilidade esbarra com quase duzentos reféns em posse dos terroristas do Hamas e com quase dois milhões de civis palestinianos que só querem viver em paz e que não concordam com os métodos dos terroristas. Arrastados para uma guerra que não pretendiam, vêm-se agora sem condições mínimas de sobrevivência e na esperança de uma ajuda rápida para evitar morrerem à fome, à sede ou no meio de doenças várias, além de correrem o perigo sempre eminente de uma bomba rebentar ao seu lado. Israel não vai parar e um massacre está prestes a acontecer. A fuga para sul está a acontecer, mas será suficiente?
Se a invasão não aconteceu no fim de semana, deveu-se ao facto de Israel ter na Faixa de Gaza pessoal a tentar descobrir onde estarão os reféns. Eles são uma prioridade, mas não serão o impedimento para uma vingança feroz. E que ninguém se meta pelo meio. O Primeiro Ministro já avisou o Irão e o Hezbollah para não se meterem no conflito. Foi um aviso sério.
A movimentação internacional é enorme e o objetivo é evitar uma catástrofe, por um lado, e o alargamento do conflito, por outro. Putin que não tomou ainda uma decisão séria a este respeito, tem andado a oferecer-se para mediar o conflito, mas como ninguém lhe deu crédito, vai agora ao Qatar conversar com os políticos do Hamas para mostrar os seus préstimos para o fim desta guerra. Um terrorista no meio de outros terroristas! Todos se entendem! Aliás é entendível que assim seja. Dentro da Rússia há muitos palestinianos e muitos judeus, como há na Arábia Saudita e em outros países. Mas o facto essencial é não confundir palestinianos com o Hamas. A Palestina anda ainda à procura de ter um governo eleito, um território próprio e de um reconhecimento internacional de peso. O que tem agora é um retalho governativo constituído pela Autoridade Palestiniana, pelo Hamas na Faixa de Gaza que não obedece àquela e ainda por grupos menores que se insurgem frequentemente contra Israel nas chamadas Intifadas, além de reivindicar a soberania sobre a Cisjordânia. Enfim, um caos interno que pode agora tornar-se um caos bem mais alargado.
Com quase quatro mil mortos já contabilizados e milhares de feridos sem conta, esta guerra foi ganha pelo Hamas nos dois primeiros dias. Uma chacina incalculável e inesperada que tomou Israel de surpresa e por isso, causou tantos mortos. Os terroristas atacaram dentro de Israel e isso ninguém contava que acontecesse. Um logro bem montado. Mataram, destruíram, chacinaram mulheres e crianças, decapitaram crianças e bebés, provocaram o caos. No terceiro dia, Israel tomou conta da situação e transferiu o caos para a Faixa de Gaza, destruindo tudo o que poderia ser morada dos terroristas e dos seus líderes. Agora vai entrar por terra e arrasar o que encontrar. E aqui é vai estar o grande problema. Onde param os reféns? Será que vão servir para moeda de troca? E se não for o caso? E os hospitais com doentes e com falta de energia, medicamentos e água? Uma coisa é certa: Israel nunca brinca em serviço. E muito menos depois de ser humilhado dentro do seu próprio território. Vamos esperar que haja bom senso. Estamos à beira do caos.