A Casa de todos que também foi minha: de Bragança a Lisboa
O primeiro som que se ouve ao entrar na Assembleia da República não é o rumor do hemiciclo, nem o eco das palavras lançadas no Salão Nobre. É o ranger da madeira antiga, o sussurro dos corredores onde a história se faz diariamente. Entre o Senado e os espaços perdidos, entre os plenários cheios e os gabinetes onde as decisões tomam forma, há uma cadência própria. E, pela primeira vez, essa cadência contou com a voz de uma jovem do distrito de Bragança.
Cheguei a Lisboa com um compromisso: trazer a minha terra para dentro daquelas paredes. Não como um eco distante, mas como um tema vivo e urgente. Falei do interior não como um lamento, mas como uma realidade que exige respostas.
Vivi momentos intensos naquela casa, mas também momentos absolutamente estranhos. Vi moções de censura nascerem não por desacordo real, mas por puro oportunismo, sacrificando a estabilidade do país para tentar recuperar um poder perdido. Vi discursos inflamados que não procuravam soluções, apenas palcos. E, ao mesmo tempo, vi o silêncio cúmplice perante os verdadeiros problemas do país.
Mas a política não pode ser só um espetáculo. Foi por isso que, com a mesma convicção com que denunciei o oportunismo, trouxe à discussão temas que realmente importam. Defendi a coesão territorial, não como um chavão, mas como uma necessidade concreta para garantir que viver em Bragança ou em Lisboa não significa ter direitos diferentes.
Falei da agricultura. Defendi a língua mirandesa, porque preservar um idioma é preservar identidade e cultura de um país. Questionei sobre as condições do ensino superior no interior e discuti os apoios aos estudantes com necessidades educativas específicas. Trouxe para debate os desafios dos jovens, daqueles que procuram trabalho e dos que já desistiram de procurar.
Procurei saber e melhorar o impacto do PRR no interior. Levantei questões sobre os cuidadores informais e o apoio que o Estado lhes deve. Abordei a necessidade de garantir o acesso à informação, desde a distribuição de jornais e publicações periódicas até à valorização do jornalismo.
Mas não foram apenas estas as minhas lutas. Ao longo do meu percurso parlamentar, estive onde as decisões se debatem e constroem, nas reuniões das comissões, nas discussões que moldam políticas e transformam realidades, nas inúmeras audiências e audições. Da economia às políticas sociais, da coesão territorial ao trabalho, da justiça à saúde, de Trás-os-Montes ao resto do país, procurei sempre que cada tema tivesse um rosto, uma consequência concreta na vida das pessoas.
A Assembleia da República é a casa de todos. E teve lugar para uma jovem do distrito de Bragança. Ao longo deste tempo, a minha voz não foi apenas um eco distante, mas a expressão firme de quem defende que cada canto deste país merece ser ouvido. E, embora os sons da política possam ser abafados por oportunidades vazias e discursos sem substância, a nossa luta por um futuro mais justo, coeso e igual será sempre o som que ressoará mais alto, o som que, mesmo no meio do ruído mais ensurdecedor, nunca se apagará.