Manuel Igreja

Manuel Igreja

A Casa do Douro, outra vez

Embora correndo o risco de alguém achar que me estou para aqui a armar em paladino, ou que sou assim tipo um D. Quixote a lutar contra moinhos de vento, ou até que vejo cifre em testa de cavalo, não resisto a trazer de novo a terreiro aqui neste meu e seu canto o assunto da Casa do Douro.

Que querem que lhes faça? Custa-me ver a minha região estar à beira de uma das mais profundas alterações institucionais em termos da sua principal actividade económica e social, sem que na mesma, os seus agentes mexam uma palha ou dêem um pio, tirando uma ou outra excepção que sempre existe há graças a Deus que é nosso pai.

No mínimo, mesmo que se dê de barato que aquilo que está encima da mesa para ser levado à prática pelo governo da nação, em relação à maneira encontrada para o pagamento da dívida da Casa do Douro por via dos seus vinhos, e mais a reformulação dos seus estatutos no que concerne à sua capacidade de representação da lavoura, está a ser planeado na melhor das intenções no único caminho possível, deveria ter-se erguido um clamor e uma aprofundada reflexão local, já que ser-se ouvido, é ser-se respeitado.
No fundo, embora complexo, o caso não vai além de três ou quatro pontos que sendo basilares, não deixam de ser de extrema importância. Assim num repente e sem ser especialista na matéria, não indo sequer pelo preço de avaliação das mais de cento e trinta mil pipas de vinho com idade média de se lhe tirar o chapéu, e de qualidade da melhor, será que alguém se preocupou em garantir o faseamento inteligente da sua vinda para o mercado? Ou será que com a pressa de se ganhar dinheiro se vai trocar líquido por liquidez, ainda que com isso se corra o risco de arrastar os preços dos vinhos de vindima para as ruas da amargura?

Haverá por parte de quem vê o rio Tejo no Terreiro do Paço, a noção de que os preços actuais do “benefício”, não sendo embora por aí além, são a única coisa que mantém granjeados os vinhedos junto ao rio Douro? Tenho para mim que não. Aliás, duvido até que por cá, essa realidade esteja permanente presente no espírito de muito boa gente que só porque rotula e enche uma mão cheia de garrafas, se julga e se tem como alguém de fora de tais preocupações.

Depois. No que concerne ao facto de existir ou não mais do que uma associação representativa da Produção, sector que estendendo-se territorialmente por vinte e dois concelhos em duzentos e cinquenta mil hectares, onde as viagens se fazem em grande parte por estradas do tempo do senhor marquês, já alguém pediu opinião ou informou pelo menos os principais interessados, obviamente os que cultivam as uvas?

Por certo existem opiniões a favor da multiplicidade da representatividade, mas também existem de certeza opiniões a favor da unicidade. Já alguém se deu ao trabalho de esclarecer esgrimindo argumentos e pesando prós e desfavores? Que eu saiba não. Andámos ocupados em tratar da vidinha como se nisto, a de cada um não seja parte integrante da de todos.

Não me posso ir daqui embora que vai sendo tempo, sem mencionar a atenção que os autarcas durienses vêm dando ao assunto apesar de um com atardamento, tanta é a pressa com que agora se quer arrumar a questão. Fica-lhes bem apesar de tais andanças não serem directamente do seu foro, o que significa que a sua acção sem sequer devia ser necessária.
Infelizmente, contudo, é-o dada esta inércia em nosso redor que ata toda uma profissão em redor dos arames com as gavinhas que a vida tece neste nosso pequeno mundo que corre o risco de desmoronar pura e simplesmente porque que nem tolos, não o soubemos manter transformando-o quanto baste, mas a favor de todos e não só de alguns.


Partilhar:

+ Crónicas