João Pedro Baptista
A comunicação social que não queremos
Ficou clara a falta de rigor, imparcialidade e independência política da comunicação social nestas eleições.
Começo por dizer que não pretendo, com este texto, defender a minha orientação político-partidária, mas demonstrar o meu desagrado com a cobertura das eleições por parte dos meios de comunicação, em especial no que diz respeito às televisões. À medida que o fim da campanha se aproximava, fui ficando cada vez mais surpreendido pela negativa. Acabou por se tornar surreal: o espaço de comentário político enviesado, as sondagens diárias enganadoras com fichas técnicas deploráveis e os animais de estimação dos candidatos a abrir telejornais são alguns dos exemplos.
Os media portugueses – que ao longo dos anos se têm conseguido distinguir dos media do sul da Europa, pela sua imparcialidade e dependência de uma agenda político-ideológica – bateram no fundo.
Ficou clara a falta de rigor, imparcialidade e independência política da comunicação social nestas eleições. A sua visão enviesada da política começa por se destacar se tivermos em consideração a falta de independência partidária da maioria dos “analistas políticos”. A imensa maioria obedece a uma militância que enviesa o espaço de opinião. Além disso, não deixa de ser estranho que espaços de opinião/comentário político sejam integrados nos noticiários como se se tratasse de um espaço de informação composto por jornalistas. Torna-se cada vez mais difícil distinguir jornalismo informativo de opinativo. Estranho também que estes espaços de “debate” não tenham direito a opiniões contraditórias moderadas por um jornalista.
Em Portugal, observamos que alguns partidos podem até ser pequenos na Assembleia da República, mas são grandes na televisão, tendo em conta a representação que asseguram nos diversos canais televisivos; onde, por exemplo, o partido CDS, ao contrário do que acontece no Parlamento, tem assegurado vários “mandatos”.
Falta também salientar que não devemos tolerar mais o que se verificara anteriormente nas presidenciais: entrevistas em que o discurso jornalístico passou a ser claramente opinativo. Todos nos lembramos do “grande” jornalista Miguel Sousa Tavares e das suas “grandes” entrevistas, em que facilmente o telespetador assistia a momentos de tensão e conflito ideológicos entre o entrevistador e o entrevistado. Também não compreendo a quantidade de jornalistas que são cronistas e comentadores políticos ao mesmo tempo. O jornalismo não é isto!
Por estas razões e muito mais, a comunicação social portuguesa bateu no fundo, ignorando a objetividade e a verdade como autoridades máximas do jornalismo.