Manuel Igreja

Manuel Igreja

A defunta Douro Alliance

Não sei de se lembram da Douro Alliance, algo que nem eu mesmo sei se chegou a existir em termos concretos além das meras intenções, se ainda existe, ou se já lhe deu o trangalomango, que é como quem diz, se já mirrou e feneceu enquanto estrutura oficial e/ou oficiosa.

Seja como for, ainda me lembro bem dela. Surgiu há coisa de uns 20 anos, o tempo passa rápido e nem damos por ele, como projeto de uma coisa que seria (será), uma associação de cidades, Vila Real, Peso da Régua e Lamego, que evoluiria suficientemente para criar dinâmicas e identidade como se as três fossem (sejam) uma só, com a particularidade de estarem descontinuadas no território em termos de malha urbana.

Na altura, pareceu-me uma arca cheia de sonhos, mas acreditei. Era mais jovem, pouco mais que um rapaz novo, a região fervilhou em vontade, como quase nunca vi atitudes de união e reflexões suficientemente capazes de levar qualquer um a acreditar que dessa vez é que era.

O miolo da urbe seriam as três cidades que mencionei, mas concelho algum da região ficaria de fora. Em cada uma delas, haveria estruturas eficientes e não repetidas, e os cidadãos teriam ao dispor serviços de qualidade e de dimensão aconselhável, no lazer, nos serviços, na saúde, na cultura e em tudo o mais que caracteriza a vida numa cidade grande e numa grande cidade.

Como uma onda que se espraia na areia, o território restante usufruiria do potencial e da oferta criada na cidade pomposamente chamada Douro Alliance, não sei se por saloiice, se por pretensiosismo, por moda ou por estratégia comunicacional. Seja como for, era ou é esse o seu nome de batismo. Parabéns aos padrinhos.

Mas indo um pouco atrás por esta viela. Uma das coisas que me levou a querer e a crer que a coisa ia em frente, foi um evento que num certo dia aconteceu em Vila Real para se ouvirem opiniões e ideias de soluções. Correu bem. Muito bem mesmo, se me não falha a memória que sempre me puxa para a nostalgia e para ver o céu ou limpo ou cor-de-rosa.

Estive presente numa boa mão cheia de eventos na região ao longo dos anos, uns absolutamente esmorecidos e com muita conversa para boi dormir, outros com interesse que baste e outros com interesse a extravasar ainda que todos com resultados frouxos, mas aquele foi o que mais destaco não pelos resultados mas pela maneira como decorreu.

Nele marcou presença toda a pessoa que na região tinha opinião fundamentada e conhecimento consolidado. As pessoas que contam como se costuma dizer, quando se referem exemplos de quem faz bem ou diz saber fazer devidamente. Mais não seja, quer uns quer outros são sempre de se ouvir já que é a conversar que as pessoas se entendem.

A dado momento, mais parecia que estava tudo inventado só faltando planear e executar. A cidade de papel existiu. Só faltava desbravar o mato para se abrir o caminho para ir até ela. Todos os durienses seriam nela cidadãos de plenos direitos e de deveres assumidos.

No entanto, veio uma rabanada de vento e o papel vou e colou-se no teto. A cidade dos mil sonhos não passou da estação das boas intenções. Nem sequer, se fez o mínimo no básico que são as acessibilidades. Circular dentro do Eixo urbano está como sempre esteve. Caro, difícil e demorado.

Não se soube ou não se quis criar uma rede eficiente de transportes públicos nem conseguir isenção de portagens entre as três cidades pelo menos para os residentes, apesar de se terem transferido Serviços obrigando as pessoas a andar onerosamente para cima e para baixo e de baixo para cima.

Como disse, não sei se a Douro Alliance foi chão que não chegou a dar uvas, assim como não sei se as pode vir a dar. Mas se for este o caso, se ainda não é etéreo escombro de vontades, sopre-se-lhe para ver se aviva.

Pode ser que ainda floresça evitando o descampado que se adivinha.



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