João Pedro Baptista

João Pedro Baptista

A desinformação nas eleições autárquicas

O gozo, as ações e discursos perversos, os memes ou a piada antidemocrática, que encontram nas redes sociais um solo fértil, nada tem que ver com o humor ou a sátira. Estes tipos de conteúdos tóxicos contribuem apenas para aumentar a polarização política e a desconfiança nos agentes políticos e instituições públicas. A oposição não se faz através de insultos ou calúnias, mas com a apresentação de ideias e críticas construtivas, com base na lógica e na razão, e sobretudo na verdade. 

 

Há muito que a desinformação serve como arma política no campo de batalha da manipulação e intriga. Tem servido essencialmente para desacreditar um adversário político ou para impor determinadas crenças ou ideologias. De facto, a manipulação, a mentira e o engano são inerentes à natureza humana e, há séculos, que são utilizados como estratégia política dos mais fracos e incapazes. Conhecem-se histórias falsas que remontam à Roma antiga, que foram disseminadas para obter ganhos políticos. Recentemente, com as eleições presidenciais americanas, em 2016, a desinformação – quer sob a forma de notícias falsas ou fabricadas, conspirações, memes ou fotos manipuladas – tornou-se uma forte ameaça à democracia. A triste verdade é que a mentira faz parte do nosso dia a dia. A tolerância da opinião pública com as intrigas, declarações falsas ou mal-intencionadas é alarmante.

Depois do que se tem verificado nas eleições nacionais, em diversos países, nomeadamente Portugal, não fiquei surpreendido  que o fenómeno transitasse para o jogo político autárquico. Pela proximidade que existe, nas eleições autárquicas, entre candidatos e eleitores, o impacto das injúrias, falsidades ou boatos, sobre uma figura política, é enorme; podendo denegrir por completo a sua imagem ou reputação, por muito boas que sejam. Isto não é política, muito menos é democrático. 

O gozo, as ações e discursos perversos, os memes ou a piada antidemocrática, que encontram nas redes sociais um solo fértil, nada tem que ver com o humor ou a sátira. Estes conteúdos tóxicos contribuem apenas para aumentar a polarização política e a desconfiança nos agentes políticos e instituições públicas. A oposição não se faz através de insultos ou calúnias, mas com a apresentação de ideias e críticas construtivas, com base na lógica e na razão, e sobretudo na verdade. 

Para terminar, lanço um desafio aos meus ex-colegas jornalistas e ao próprio jornalismo regional. Pergunto: para quando um projeto jornalístico que se proponha apurar a verdade, mas também a falsidade e a imprecisão no espaço público-político? Talvez o escrutínio das declarações dos protagonistas políticos, a nível regional, seja cada vez mais urgente!


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