O mundo inteiro assistiu na passada sexta feira à reunião encenada entre Trump e Zelensky na tão famosa sala Oval, da Casa Branca. Uma desilusão completa.
Supostamente havia um acordo para assinar entre os EUA e a Ucrânia, mas Zelensky não assinou porque os termos não lhe eram favoráveis. Apesar de necessitar da ajuda doa EUA, Zelensky não se submeteu aos desígnios de Trump nem se ajoelhou perante o mais poderoso, como pensavam que aconteceria. Não.
De braços cruzados, Zelensky ouviu e contrapôs os seus pontos de vista face a um acordo que era manifestamente favorável à Rússia e aos EUA e pouco trazia aos ucranianos. Havia subjacente um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, mas faltaram garantias de segurança para os ucranianos o que deixava abertas as portas aos avanços russos.
A deselegância dos americanos começa com o problema de Zelensky não usar fato e as questões que a esse respeito lhe foram feitas. Indigno de um jornalista pago pelo erário americano e gáudio para os assistentes, como se tudo fosse deveras ensaiado ao pormenor. Pena foi Zelensky não se ter lembrado de perguntar por que razão Elon Musk não entra de fato na sala Oval e anda de T-shirt pelos corredores como se fosse tudo dele. Ficou por responder, mas certamente muitos se perguntaram isso mesmo. Que falta de respeito. Afinal Zelensky é um Chefe de Estado como qualquer outro, não é um palhaço para se rirem na sua cara. Foi tão baixo o comportamento dos americanos que nos deixa envoltos numa raiva imensa e com vontade de ver o reverso da medalha. Ver um chefe de Estado a ser humilhado e objeto de escárnio pelo Presidente mais poderoso do mundo e pelo seu lambe-botas foi um espetáculo indigno e desconfortável para os Ucranianos. A humilhação de gente pequena que se acha grande foi um desrespeito enorme a que Zelensky assistiu sem se dobrar, mantendo-se sempre de pé, firme e sem mostrar subserviência. Talvez esta atitude fosse a que os irritou mais. Esperavam que Zelensky se dobrasse e lhes desse o que queriam e estaria no acordo. Território para a Rússia, minerais para os EUA e para os ucranianos uma mão sempre estendida à espera das esmolas que nunca chegariam. Um líder não precisa de um palco, mas um palhaço sim e aqui os palhaços estavam bem visíveis e tinham um palco enorme para fazer rir. E riram, sim, das suas anedotas horríveis e sem sentido. O Mundo ficou certamente horrorizado perante este espetáculo degradante e não irá esquecer tão cedo. O último a rir é o que ri melhor, diz o povo e com razão.
Um país devastado à espera de soluções e apoios não pode ser objeto de galhofa e de humilhação. Claro que a Rússia e Putin, riram e festejaram o sucedido. Claro. O suposto pedinte foi rechaçado e mandado embora sem soluções. Mas mostrou dignidade, respeito e humildade perante a fanfarronice dos interlocutores americanos, que o atacaram como se estivessem num ringue de box. Mas não conseguiram derrubá-lo.
A guerra da Ucrânia não acabou nem acabará tão cedo. Entretanto os EUA continuarão sem os minerais e a Rússia sem os territórios conquistados. Pelo meio ficarão estendidos sem culpa nenhuma, milhares de soldados mortos que não poderão reclamar ajudas nem salvação a não ser a divina.
Para o mundo inteiro ficou o conhecimento de que Trump é um produtor político e cinematográfico e que sabe encenar tudo muito bem, desde que tire resultados positivos, que os discursos proferidos não precisam de ser coerentes nem necessitam de guião e que o sofrimento humano é apenas uma publicidade momentânea.
A Europa, perante este espetáculo deprimente e indigno, deverá tomar uma decisão. Ridicularizar Trump seria o mais correto, mas politicamente desaconselhável. A Ucrânia continua à espera de uma oportunidade de apoio dos EUA e a Europa não quer nem lhe interessa t^-los como inimigos. Mas a História não acaba aqui e nela se escreverão certamente páginas com mais dignidade do que a que agora se escreveu. Mas esta não será esquecida. Apesar de ter acordado tarde, a Europa terá de se armar e preparar para todos os palcos possíveis que o futuro possa trazer. Os EUA não sobrevivem sozinhos, mas a Europa também não. São jogos de números que não explicam tudo, mas é preciso saber fazer as contas. Com respeito.
Ficamos à espera dos próximos acontecimentos, mas dos EUA já sabemos que a falta de respeito pelos outros é uma das suas caraterísticas.
E se Zelensky pedisse ajuda à China? O que diria Trump? Será que continuaria a rir?