Luis Ferreira
A febre de Trump
A sapiência popular, digna de todo o respeito, diz que no melhor pano cai a nódoa e disso não restam dúvidas, mas também costuma dizer que quem muito fala pouco acerta. Não podemos duvidar desta sabedoria já que ela é demasiado certa e acutilante. Prova disso é o que aconteceu aos Presidentes do Brasil e dos EUA.
Na verdade, tanto um como outro dos ditados populares, se aplicam aos dois estadistas. Falaram demais, minimizaram a situação do Covid 19 e acabaram por ser atingidos e remetidos a um confinamento indesejado. Pois é, Deus escreve certo por linhas tortas.
Não é da minha índole desejar mal seja a quem for. Critico, bem ou mal, de acordo com o que penso e sinto, mas a verdade é que talvez o que aconteceu a Trump e à esposa, o levem a pensar duas vezes e a tomar mais a sério os efeitos da pandemia e os milhares de mortos de americanos que ele parece depreciar.
Agora, contaminado, perdeu um pouco da arrogância com que se apresentava perante as câmaras de televisão, com o se fosse invencível e intocável por um inimigo que não consegue ver. Foi visto e atingido. Sorte a dele que tem ao seu dispor o melhor dos hospitais e os medicamentos necessários para combater o vírus, coisa que não tiveram os que já morreram e aqueles que ainda lutam por uma sobrevivência cujo futuro é demasiado incerto para estarem sossegados em qualquer hospital onde estejam.
Os que o avisaram sobre a realidade que estava a acontecer e foram ignorados, podem agora atirar-lhe essa ignorância à cara. Certamente que não desejarão a sua má sorte, mas o aviso fica bem patente num momento em que se avizinham as eleições e que ele terá de enfrentar, mesmo sabendo que está atrasado na corrida. Debilitado, a corrida será mais penosa, mas ele terá mais armas ao seu serviço para poder superar algumas falhas na subida até à meta. Se vai ganhar ou não, isso é incerto, mas para os americanos, que se deixam levar por falinhas mansas, pode ser uma influência tremenda ao fazer dele uma vítima que se quer erguer das cinzas para depois se apresentar como vencedor. Sabemos bem que os americanos gostam destas coisas lamechas.
Melhor atitude teve Biden ao enviar directamente os desejos de melhoras rápidas ao Presidente da América, mesmo depois de lhe dizer na cara, dias antes, que ele é o pior presidente que a América já teve na sua História. Politiquices.
Dias difíceis os que se aproximam para Trump e para a primeira-dama. Com febre, tosse e um receio atroz sobre o que lhe pode acontecer e com uma campanha para fazer, vive certamente momentos terríveis e desejará ter feito mais alguma coisa para combater a pandemia e com toda a certeza se arrependerá de muitas coisas que disse indevidamente. Este não é o caso para dizer preso por ter cão e preso por não ter. É o contrário.
Penso que quase todos somos da opinião que este presidente não é o mais indicado para os EUA. Já foi apelidado de louco, de arrogante, de atrevido e agora até de ter fugido ao fisco, o que é claramente motivo para ser expulso do lugar que ocupa. Na América, estas coisas são demasiado sérias para serem esquecidas ou se passar um pano por cima. Os americanos podem ter muitos defeitos, mas em casos semelhantes eles não perdoam. Lembremo-nos do caso Watergate, por exemplo, ou do aconteceu a Clinton, embora por motivos bem diferentes.
Para Trump, o momento atual pode ser um ensinamento extraordinário. Pode ser que passe a enfrentar a vida, a sua e a dos outros, de uma forma diferente, com mais seriedade e menos arrogância e prepotência. Se a febre lhe passar e eu penso que passará, podemos esperar um resto de uma campanha mais política, mais séria, mais pessoal e menos mentirosa.
Esperemos que a febre lhe passe, que é sinónimo de recuperação e não fique com sequelas que o impossibilitem de ser um homem melhor. A mulher desejará o mesmo certamente.