Manuel Igreja

Manuel Igreja

A festa da Democracia

As pessoas que não votam, nem sabem o que perdem. Diminuem-se na sua qualidade de cidadãos e não participam na festa. Uns, por inércia e comodismo, outros, porque assim pensam que protestam, não se permitem o acto soberano de votar.

Andam mal uns e outros, contudo. Esquecem-se que houve um tempo no nosso país, em que expressar opinião não era permitido. Alguém metido no seu fato cinzento e muito cheio de si, no atapetado dos gabinetes, decidia e nomeava quem mandava em nós e nas nossas coisas públicas.

Era cómodo. Não era necessário que nos preocupássemos, mas não mandávamos. Mas havia quem lutasse. Pessoas que nunca desistiram de pelejar termos uma melhor vida e toda a voz. Graças a isso, Portugal veio para a modernidade fazendo da Democracia uma flor sem idade.
Graças a isso, hoje em dia e esperemos que por todos os anos, temos novas obrigações.

A par de termos de fortalecer quotidianamente o vigor e o teor democrático, temos o dever de escolher, temos o direito de sermos eleitos, temos o privilégio da vitória ou da derrota.

O jogo é permanente e esquenta nos períodos estabelecidos como de escolha, fervendo nos dias que antecedem a recolha nas nossas opções nascidas no quente do coração e convenientemente filtradas pelas capacidades da razão. São dias em que campeia a emoção porque nos sentimos mais inteiros e senhores de um imenso poder simbolizado numa simples cruz num mero quadrado desenhado num papel.

Naqueles segundos metidos numa singela cabine, sozinhos, mas parte integrante do universo, decidimos e influenciamos. Escolhemos. A caneta de onde escorre a tinta libertadora do nosso querer e do nosso acreditar, vira uma incrível arma de decisão. Faz parte do todo de onde brotam as novas realidades.

Por isso a Democracia é uma festa. Mesmo quando os que quererem ser eleitos e os que nos querem convencer e influenciar, nem sempre andem bem e muito menos com elevação. Mesmo quando nos tratam como se fossemos lerdos e diminuídos de visão sobre as coisas em causa. Mesmo quando em vez de informação e conteúdo nos mostram malabarismos.

Apesar de tudo e mesmo com eles a Democracia afirma-se e a vontade dos eleitores que somos implanta-se. Ora ganham uns, e outros perdem, ora é ao contrário, mas é simples e digno de se ver e de se festejar.

Em cada eleição que passa todos aprendemos e todos valemos. Em todas as vezes, cada cidadão deixa a suas mensagens. Umas são mais óbvias, outras são mais subliminares, mas deixa para que sejam vistas e compreendidas. Se são sempre cabalmente percebidas, é a dúvida, já que para isso é essencial grandiosidade na leitura dos contextos.

O borralho das eleições autárquicas de 2021 ainda está esquentado, mas em absoluto se pode dizer que a festa foi bonita e que ficou demonstrado que vender banha de cobra e lançar berlindes ao vento nem sempre funciona pois os tolos não se contentam só com os bolos.

Os de Lisboa que o digam.


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