“A festa do Divino Senhor do Calvário em Grijó”

Há semanas escrevi uma crónica, na qual, referia a forma como devemos olhar para as nossas Aldeias, muitas delas entregues aos mais velhos, os que decidiram ficar, ou os que tendo partido regressaram, sendo os seus habitantes cada vez menos em números.

           A verdade, é que nas diversas visitas que tenho feito a Grijó, em especial nos últimos meses, o silencio que encontrava nas ruas, nos becos, transformaram-se neste último fim de semana, na preparação da festa em Honra do “Divino Senhor do Calvário”.

            O ambiente de festa fazia-se sentir, respirava-se desde o dia em que cheguei, a 30 de agosto, até ao dia da grande celebração a 1 de Setembro, sendo um motivo para muitos, sobretudo para aqueles que vivem mais longe, voltarem a Grijó para estarem ao lado dos seus familiares e participarem nas celebrações desta festa.

            É uma festa profundamente ligada a uma pequena capela que tem precisamente o nome de “Capela do Divino Senhor do Calvário”, situada num monte próximo a Grijó, onde começam e acabam as diferentes procissões, a 1ª a que vai buscar a imagem do “Divino Senhor do Calvário” à capela para a trazer para a aldeia e, a última a que depois da bênção a devolve novamente à sua morada.

            Uma capela, com a qual a minha história, também se cruza.
 Esta capela, para grande desgosto dos seus habitantes, sofrera danos irreparáveis numa empreitada, tendo ficado ao abandono por largas dezenas de anos.
            Um conterrâneo da terra, o Professor Adriano Moreira, ainda muito novo, foi distinguido pelo seu estudo sobre o “O Problema Prisional do Ultramar “(1953), pela Academia das Ciências, com o prémio Prémio Abílio Lopes do Rego, tendo o valor do mesmo, sido entregue à sua mãe para a reconstrução desta capela, na qual, ainda hoje se encontram placas alusivas a este gesto. 

            Soube que esta festa é preparada com muita dedicação e trabalho, por muitas pessoas, pela Junta de Freguesia, até pela banda da Alfandega da Fé, ao longo de vários meses.

            Os aldeões nestes 3 dias, poem as suas melhores colchas nos seus varandins, abrem as suas “Lojas” para a rua, onde entram e se vão sentando para um ou vários dedos de conversa, as pessoas que vão passando.

            Depois das várias procissões, cada família organiza para as suas famílias e amigos um almoço especial em suas casas.  

            Assisti, confesso com um sentimento nostálgico, a muitas destas conversas, sobre como era o passado nesta aldeia, a alegria que eram os arraiais à noite, referenciando que na semana seguinte, voltaria um profundo silencio a esta Aldeia.

            Um silencio que é possível ultrapassar, se houver vontade e engenho, se as autarquias para a quantidade de casas abandonadas e devolutas, souberem coloca-las no mercado, sem a cobrança excessiva de taxas e taxinhas que impossibilitam, por exemplo, os mais novos que queiram viver nestas aldeias de aí encontrarem a sua habitação, se o poder local, não encontrar a forma de solucionar o excessivo parcelamento dos terrenos agrícolas, de forma a que quem queira viver da atividade agrícola, consiga dimensão suficiente para terem a rentabilidade que lhe confira uma vida digna, e por último os empresários turísticos que queiram investir nesses imóveis, procurar as soluções que viabilizem projetos desta natureza, uma vez que o atual contexto é muito desfavorável à iniciativa privada e empresarial.

            É preciso um rumo diferente, pois o muito que foi feito, nos últimos 20 anos, não foi o suficiente para travar o silencio que se tem vindo a instalar nas nossas aldeias.

Nuno Moreira

Candidato pelo CDS-PP pelo círculo eleitoral de Bragança.
 


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