Havia outrora os célebres salteadores de estrada. Começava-se no temerário Zé do Telhado, o tal das “barbas negras”, que carregava o ADN de uma temida legião de bandidos, como foram o seu pai Teixeira, o irmão Joaquim e o tio-avô Sodiano. Vinham depois as histórias arrepiantes do “Sancho Pacato”, e do “Pichorras”, à mistura com as de um tal Custódio “Boca Negra”, mais o “Tira Vidas”, o “Mói Tudo”, o Morgado da “Magantinha” e o Zé Pequeno (um cobardolas denunciante, a quem o Zé do Telhado arrancou a língua...). Pelo meio, falava-se de um sinistro “Labardeiro” que atacava para os lados do Minho, servido por um não menos cruel “Picanço”. E com um curriculum de fazer-lhes inveja, também se contavam histórias de um tal “Pita”, que investia, disfarçado de padre, nas terras de Basto, encobrindo as pistolas com a sotaina. Os mais temidos refugiavam-se no Marão. À hora menos pensada, saíam das moitas e boqueirões da serra, caindo sobre as malas-postas, a cujos ocupantes indefesos esvaziavam os bolsos e a bagagem. A testemunhar estes episódios, ainda hoje, no alto do Marão, é referenciado, na memória oral, um topónimo: a “Fonte dos Ladrões”.
Hoje, também há os que assaltam nas estradas. Não usam mosquetes nem arcabuzes, pois são ladrões cultuados, ladrões de gabinete, ladrões de sorrisos nos dentes e nas lapelas. Mas não têm escrúpulos em roubar a quem trabalha no ganha-pão de cada dia. Onde já se viu mais de metade do que um cidadão paga por um litro de combustível ser “comido” pelo Estado? (Lembro só que os professores fazem em média 100 quilómetros diários para trabalhar nas suas escolas. Alguns fazem 300 quilómetros diários…)
Também se diz que o Zé do Telhado roubava aos ricos para dar aos pobres. Só que os novos ladrões cultuados roubam aos pobres para dar aos ricos.
