Manuel Igreja
A Força da ARDAD. As Dinâmicas de uma Comunidade
A ARDAD – Associação da Região do Douro para Apoio aos Deficientes, é uma daquelas agremiações cívicas que faz uma pessoa sentir que o mundo ainda não está completamente perdido. Anda mais desconchavo que cesto vindimo roto e tão egoísta que cada um só olha para o umbigo próprio, mas ainda há esperança de que não descarrilhe completamente.
Qualquer dia pode ir tudo pró maneta porque uns dos malucos que mandam em coisas muito poderosas carrega num botão, mas enquanto isso as comunidades anónimas vão mostrando que exclusividades do ser humano como o companheirismo ainda não são nem letra morta nem algo que posso vir a morrer.
A ARDAD, instituição que me orgulho de sentir como um pouco minha, ainda que por vezes ache que lhe deveria dar de mim mais um pedaço, é uma daquelas coisas a que qualquer cidadão não pode ser alheio. Hoje por ela ajuda-se quem não sendo menos que qualquer outro tem algumas limitações, amanhã qualquer outro sem exceção, pode vir a ter de ser auxiliado.
Não há exceções para a desdita e nem sempre a roda segue em frente. A páginas tantas desanda e a porca torce o rabo, como diziam os antigos que sabiam muito e também destas coisas. Não há como lhes seguir os ensinamentos olhando para o que nos rodeia muito para lá do limite que vai entre o sofá e o ecrã da televisão ou do telemóvel, utensílios muito úteis para gestos de solidariedade cómodos e sossegadores de consciências.
A ARDAD é uma força viva na Régua e seus arredores. Nela brotam vontades de vencer adversidades, de vencer barreiras e de agarrar oportunidades. Já por lá vi muitos brilhozinhos nos olhos e muitos sorrisos que grelando diretamente na alma nos chegam através dos olhares e dos sorrisos nos rostos. Verdadeiras lições de vida dadas por parte de quem efetivamente consegue vencer azares e sabe encontrar encantos naquilo a que se dedica.
Tenho para mim que nada disto é novidade para a nossa comunidade. Ela resulta da soma das partes a que dá forma entrelaçando-as para que resulte a coesão por via de atividades que emergindo são dignas de registo e de serem vistas num viver a que urge dar forma para que se torne mais bonito como possível e para todos.
Foi por exemplo o que se verificou há poucos dias na noite em que no Auditório Municipal, o garboso AUDIR, decorreu a III Gala da ARDAD com sala cheia e gente, repleta de emoções e encantada com as atuações variadas em género e em número dos artistas em palco. Foi do melhor. Não houve mãos frias por falta de motivo para aplausos.
A urbe resplandeceu de cidadania. Por um lado, deu para notar a enorme atividade que nela se desenvolve com associações que criam e desenvolvem trabalhos de e com arte em jeito de verdadeiras academias. Por outro lado, deu para perceber com que agrado e orgulho se exibe o que se faz, muito mais quando tudo gira em torno de uma causa maior.
Enquanto cidadãos só nos fica bem agradecer à ARDAD por existir e por nos dar a oportunidade de se provar que na Régua as coisas boas que se fazem se não medem em metros, mas antes em quilómetros por entre as curvas que se fazem na montanha da solidariedade que não tem neve porque é quente, mas não deixa de ser eterna. São substâncias do tempo que estão para lá do arco-íris.