Manuel Igreja
A Imprensa Regional
Houve um tempo em que todas as comunidades organizadas em aldeias, vilas ou cidades tinham um Largo. Era o conceito clássico de Pólis com os seus edifícios públicos e religiosos enquadrados por um espaço físico onde os cidadãos se concentravam e se cruzavam.
Cumprimentavam-se, conheciam-se, falavam-se, trocavam ideias e opiniões, cultivavam-se, formavam massa-crítica e identidade cívica com uma forte noção de pertença.
Eram épocas, no entanto em que o conhecimento era circunscrito. Detinham-no um punhado de membros das elites e os monges com vidas quotidianas desenroladas portas adentro dos conventos em redor de rezas e de muitas reflexões em busca do divino.
No entanto a dado momento, nos meados do século XV Gutenberg provocou uma revolução ao inventar a imprensa. O saber vertido em livros laboriosa e manualmente lavrados, saltou muros, espalhou-se, democratizou-se pelo menos um pouco.
Com o devir da História a cidade alargou-se. O Largo foi deixando de ser aquele espaço onde decorria o mundo pelo que dizia e pelo que se ouvia, os encontros deixaram de ser tão frequentes. As notícias foram ganhando abrangência quer de território quer de conteúdo. As opiniões enriqueceram-se e divulgaram-se.
Com os anos, a imprensa regional, principalmente a escrita foi assumindo o papel do Largo. Era e é nas suas páginas que as novidades se plasmam, as opiniões se difundem e as ideias se cimentam. Pelos jornais regionais sentimo-nos integrados através do sentimento de pertença que nos alicerçam.
O Largo, entretanto, foi assumindo novas formas. Transfigurou-se. Já não se fica pelo papel impresso. Voa agora e muito no éter frequentado por incansáveis cibernautas viciados nas voragens dos dias em que pouco mais buscam que a espuma dos dias.
Mas num tempo em que se pode dizer que o futuro já não é o que era, urge que os testemunhos se registem para memória futura e para efeitos no presente.
O que é novo num ápice vira velho. Por isso os jornais regionais que sendo muitos em muitos lados pela soma das partes são o mais direto e consequente meio de comunicação.
Por isso, num tempo em que a única coisa permanente é a mudança, não podem deixar de se modernizar e de evoluir para serem eficazes, pertinentes e úteis para a comunidade que devem servir.
Não os podemos deixar definhar. Não os podemos abandonar. A assim não ser, o Largo estreita-se, escurece e é tomado mais facilmente pelas ervas daninhas.