Batista Jerónimo
A lição do Lavrador
Desde algum tempo que tento perceber, se é uma síndrome dos Decisores Públicos (não todos) ou se é uma limitação de visão periférica, o de alguns indivíduos não conseguirem descentrar-se da “moda” e terem na agenda vários assuntos, não urgentes, mas importantes.
Recentemente havia um problema humanitário na Síria e Venezuela, localização do Aeroporto, casos de justiça e a lista revisitada é infindável. O que é o tema actual, vai-se desvanecendo e sai, com a facilidade que entra, das capas dos jornais, da abertura dos telejornais e debates dos comentadores.
Quem torna as notícias importantes ou quem as converte insignificantes num abrir e fechar de olhos? A esta pergunta diriam uns: a Comunicação Social, outros os Políticos, os poderosos economicamente e outros ainda a Religião para não dizer a Maçonaria, a Opus Dei, o grupo Bilderberg ou até qualquer lóbi.
Hoje, e nas próximas semanas o problema é só Saúde Pública. O Covid-19 deve mobilizar-nos e unirmo-nos para o derrotar. Mas, a vida não pára, vem aí o depois do controlo deste inimigo invisível de consequências imprevisíveis. A crise económica só não vai ser tão dolorosa, porque não falámos de vidas, de luto. Mesmo na presente incerteza e de tempo não mensurável é necessário trabalhar noutras frentes. O tempo que medeia até à declaração da normalidade, também deve servir para nos preparar para a retoma ser mais rápida e mais eficaz.
Se reparamos, dos dezanove Ministros só quatro ou cinco é que dão sinais de vida. Gostava de perceber porque é que, até para dar sinais de confiança no futuro, os outros Ministérios não mostram trabalho. No seguimento os órgãos públicos ficaram em standby, tudo suspenso.
Ou seja, agora é Covid-19, ponto. Para tudo. Quando terminar esta pandemia (quando será?) arranja-se outro assunto que seja “moda”. Esta pandemia veio mostrar grandes vulnerabilidades nas Empresas, Administração Pública, Instituições como IPSS, Associações, Clubes, etc..
Então, porque é que os senhores da Administração Pública, não conseguem descentrar-se? Trabalhar noutras frentes? Promover melhorias? Combater vícios? Tomar decisões? Temos de ter presente que um problema adiado é estar a complicá-lo.
Não nasci na agricultura, mas convivi com ela. O lavrador das nossas aldeias, antes de se deitar ou ao ir “acomodar” a cria, para no dia seguinte “amanhar a terra”, olhava para o céu a adivinhar o “tempo” que iria ter no dia seguinte e se confirmava o Seringador ou o Mundo Rural. Tempos de incerteza. A casa do lavrador, até porque o dinheiro era um bem escasso, tentava ter de tudo para a casa se “bastar”, desde o porco, a “turina”, a criação de vitelos e a junta de vacas ou bois, ou o burro e ou cavalo. “Fabricava” cereal, batatas, cenouras e outros produtos hortícolas. “Fazia” vinho e derivados, “tratava” o pomar com relevância no Olival ou Castanheiro, frequentava as feiras e tantas coisas mais. Geralmente tinham (quando tinham) a escolaridade mínima e conseguiam gerir tudo isto, sem ajuda das novas tecnologias. Grande exemplo destes lavradores à semelhança do que acontece a quem gere uma empresa privada, é bem diferente dos senhores que o Estado alimenta, mesmo com a utilização das mais avançadas tecnologias a sua agenda tem um só foco.
O lavrador sabia que era do seu trabalho que dependia o seu sustento e da família, os tais indivíduos da Administração Pública sabem que só têm de gerir as aparências, os abraços e acompanhar a “moda” que alguém a colocou na ordem do dia.
Um amigo questionou-me porque não respeitava o que escrevi: “agora é o tempo dos políticos e depois vem a avaliação”. Escrevi e concordo. Deixo uma analogia grosseira e de cariz inofensivo: O cavaleiro para Motivar o seu cavalo e conseguir os Objectivos também usa a espora.
Bragança, 31/03/2020
Baptista Jerónimo