Alexandre Parafita
A Morte e seiscentos Diabos à espreita…
Vai-se o Entrudo, acabaram as tréguas do pecado. Amanhã, Quarta-Feira de Cinzas, saem a Morte e os Diabos à procura dos incautos. Os Diabos, esses, mais frenéticos, pois andam sequiosos de almas pecadoras. Ou seja, a Morte leva-os e o Diabo seleciona-os.
Assim se cumpre a tradição transmontana, única em Portugal. Em Vinhais, saem à rua a Morte e os Diabos; por sua vez, em Bragança estas duas tenebrosas criaturas saem acompanhadas de uma outra: a Censura. A Morte, na imagem de um esqueleto com a sua gadanha; o Diabo com os cornículos e o tridente; a Censura com enormes tesouras à cintura. Interessante a simbologia desta última: reflete o equilíbrio, a repreensão pelos atos levianos, um derradeiro esforço para que, perante a inevitabilidade da morte, o diabo não venha de garras afiadas arrastar mais uma alma para o seu reino infernal.
Nada acontece ao acaso nestas tradições. Tudo é interpretável na lógica ancestral do povo cristão. Por isso, em Trás-os-Montes vive-se a cultura e, com ela, sobrevive identidade.
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