Luis Ferreira
A palhaçada
Embora todos gostemos de nos rir com boas anedotas e piadas jocosas, não é nada fácil ser palhaço. Contudo, algumas pessoas sem qualquer propensão para serem palhaços, comportam-se como tais e não fazem rir ninguém. E desta feita, o ser palhaço é sinónimo de ser tonto e não saber bem o que anda a fazer. Autênticas baratas tontas. Correm de um lado para o outro afirmando aqui uma coisa e ali outra, numa incoerência absurda.
Quando há alguns meses atrás o governo concordou em descongelar as carreiras dos professores e retribuir todo o tempo de serviço que lhes tinha sido congelado, tudo parecia claro. Os sindicatos acalmaram, os professores também e tudo parecia caminhar na direção certa. Os professores iriam recuperar o tempo que lhes tinha sido roubado. Quase dez anos!
Depois de uma série de reuniões com os sindicatos completamente falhadas, começou a ficar cada vez mais distante a concretização de tudo o que se acordara. Os sindicatos movimentaram-se e deu-se início a uma série de manifestações e greves tendentes a levar o governo a retomar o diálogo e a ceder no que tinha acordado. O Ministro da Educação parecia um palhaço, pois dava o dito por não dito, adiantava promessas e recusava entendimentos, marcava reuniões e não aparecia. Uma palhaçada sem sentido algum.
Estava na hora de comprometer os partidos políticos e levá-los a pronunciarem-se sobre o assunto. E foi o que fizeram, com a dignidade que o assunto merecia, diga-se. Analisada a situação, concordaram em obrigar o governo a cumprir o que estava aprovado e orçamentado. Mas o governo recuou e secundado pelo Ministro das Finanças, veio a terreiro dizer que era impossível despender tantos milhões, mesmo sabendo que essa verba estava aprovada em sede de orçamento.
Se conseguíssemos todos saber as voltas que o dinheiro dá nas mãos dos ministérios e dos ministros, veríamos que ele anda numa roda-viva, e vai parar sempre onde menos se espera e para tapar os buracos que nós desconhecemos. Mas ninguém referiu que os milhões que foram roubados aos professores durante quase dez anos, foram para tapar os buracos dos bancos que foram à falência. Isto para não falar em muitos outros milhões que o governo enterrou nos bancos e que todos estamos a pagar. Outra palhaçada enorme.
Perante toda esta sarabanda, os sindicatos resolveram apoiar-se na Assembleia da República e nos partidos que apoiavam, não só o descongelamento das carreiras, como também a contagem imediata do tempo de serviço e o natural posicionamento nos escalões respetivos. E aqui enfrentaram, de algum modo, outra palhaçada, já que alguns partidos começaram a titubear na sua posição, entre eles o PSD. Rui Rio não se conseguiu assumir como um defensor e apoiante do que estava aprovado anteriormente. Colocou-se praticamente ao lado do Ministro das Finanças ao dizer que era necessário avaliar a possibilidade do cumprimento do orçamento, já que eram muitos milhões que o governo teria de pagar e causava problemas de solvência, entre outras desculpas. Não se queria comprometer. O líder do maior partido da oposição não se quis comprometer! Mas deve querer votos nas eleições ou será que os portugueses também não se vão querer comprometer?
De louvar a posição do BE e do PCP, que não tendo nada a perder, se afirmaram peremptoriamente pela positiva, encurralando o governo e a Assembleia. E a Assembleia da República aprovou, com os votos de todos os partidos, menos o PS, sobre a recuperação de todo o tempo de serviço dos professores e não só dos quase três anos que estavam já aprovados.
Perante tal situação, Costa resolveu lançar uma bomba atómica e, depois de reunir com Marcelo, veio dizer que se fosse definitivamente aprovado este processo, o governo se demitiria. Chantagem? Desistência? Só os cobardes é que desistem. Que palhaçada é esta?
Apesar de tudo, parece que não contava com a posição firme dos parceiros de coligação e ficou sozinho e pendurado com a bomba na mão. Mas atenção. O Rui Rio ainda não se pronunciou depois de lançada a bomba de Costa. Vai recuar novamente? Terá medo de se assumir uma vez mais? Outra palhaçada. Que tristeza! Como é possível assistirmos a toda esta encenação, repleta de falsidades, pensando que enganam o povo português? Agora jogam-se os votos das eleições legislativas. A campanha já começou e Rui Rio está a tentar contabilizar as perdas e os ganhos da sua posição face a este problema. É bom que tome uma posição séria sobre o assunto e não fuja com o rabo à seringa. Seja digno como os restantes partidos se quer que o levem em conta no futuro.
E Costa também. É tempo de acabarem com as palhaçadas.