Luis Ferreira
À procura do Éden
Portugal, desde sempre foi procurado por muitos e bons motivos e por muita gente bem intencionada. Localizado mesmo à beirinha do Atlântico, mar aberto logo em frente, estrada de ida e volta para todo o tipo de embarcações, não seria de modo algum de descartar a possibilidade de aqui se ancorarem algumas delas.
Desde os primórdios temporais onde assenta alguma da nossa História, já por aqui vinham povos à procura de grandes negociatas, num leva e traz metafórico, incentivando desse modo, um sistema económico de trocas bastante eficaz. Com algumas lutas à mistura, uns fixaram-se por cá, outros simplesmente passaram e poucos rastos deixaram dessa fugaz passagem. Mas algo ficou, quanto mais não fosse uma leve aprendizagem que se foi transmitindo aos que por cá ficaram e desenvolveram o sistema.
Os séculos não pararam e através deles podemos ler o que escreveram os que moldaram esses tempos e o resultado que por ventura daí se possa concluir, de toda essa azáfama.
Portugal só o foi efetivamente há cerca de 900 anos, mas o território onde se insere, não seria demasiado grande para a alma lusitana que aqui se iria expandir. E foi essa alma lusitana que acabaria por definir os contornos do território, lhe marcaria as fronteiras e acabaria por dizer bem alto “aqui mandamos nós”. O “aqui” é o mesmo hoje. Não vou entrar em pormenores. Não é necessário. Claro que os nossos vizinhos não deixaram de tentar a sua sorte, mas sempre gorada. Feliz ou infelizmente, a História foi assim escrita.
Hoje, quando sentimos o peso de alguma fraqueza e a desventura de algum sucesso, acabamos por constatar que ainda há quem nos procure e queira ficar por aqui, apesar do enorme êxodo que temos sentido nos últimos anos. Se uns querem sair e outros querem vir e ficar, qual será a explicação? De facto, parece haver aqui um contrasenso, mas se calhar não há. Os que partiram foram procurar o que aqui não acharam. Os que vêm querem o que não têm, seja lá onde for. Se os que partiram tivessem cá o que os que vêm procuram, escusavam de sair. Mas isso seria difícil de satisfazer. Então o que esperam uns e outros?
Na verdade, os que partiram não tinham emprego compatível com o seu estatuto profissional e os que vêm têm estatuto profissional, mas querem muito mais e esse muito mais passa além das fronteiras que os nossos antepassados definiram. Hoje, passados séculos, as fronteiras não se limitam ao espaço terrestre. Têm outros contornos e eles são quase ilimitados.
Afinal quem demanda este país e para quê? Pois ao que parece até podemos dizer que estamos com sorte, visto que quem nos procura são gigantes económicos da área das novas tecnologias, a começar pela Google e a acabar na Amazon. Colossos económicos que se querem sediar neste Portugal de séculos à beira-mar plantado.
Ao que se diz, ninguém os chamou ou lhes prometeu contrapartidas de qualquer ordem. Ainda bem que assim é, pois não há lugar a subornos aparentes. Os investimentos são enormes e os lugares de emprego também, o que significa que temos vantagens enormes nesta concessão agradável aos que nos procuram. Sejam pois bem vindos.
O que me custa por vezes entender é a relutância com que alguns partidos políticos encaram estas coisas. Nenhum país cresce ou se desenvolve sem que o grande capital se instale e desenvolva, desde que não seja selvagem. Esse, não queremos cá. As ideias de cada um e do partido a que possa pertencer, são deles e têm todo o direito de o possuir. Ninguém lhes rouba essa privacidade, mas sejam razoáveis ao ponto de compreender que sem capital nada feito.
Portugal precisa de investimentos, nacionais ou estrangeiros, que possam dar emprego e garantias para que muitos não tenham a tentação de abandonar o território que os viu crescer e aqui deixar lágrimas de esperança nas faces de quem os vê partir. Se a Google e a Amazon querem investir aqui é porque têm razões para isso. No meio de tantas possibilidades, a escolha de Portugal não será casual certamente. O local é promissor, as pessoas também. Em termos políticos já há quem questione que razões levam estas multinacionais a investir num país onde o governo é composto por partidos extremistas de esquerda. Sim, por que sendo grupo económicos enormes, esperam ter aberturas à sua altura para os negócios internacionais que querem operar. E o espaço é enorme! Vai até ao Médio Oriente. Muitas fronteiras! Não querem entraves políticos no seu caminho e muito menos de partidos pequenos e extremistas, porque se for o caso, levantam ferro e rumam a outras paragens. Aqui, será o Éden para eles, mas também não poderá ser o paraíso para alguns malandros. Vamos estar atentos.