Alexandre Parafita
A queda de um anjo
Tenho um apreço especial pelos transmontanos que sobem a pulso. Muitos têm histórias de vida notáveis para contar, e já escrevi biografias sobre alguns. Conheci Armando Vara, já lá vão quase trinta anos, nos meus tempos de jornalismo. Tinha ele acabado de ser eleito deputado. E diziam-me então em Vinhais: “Aos 14 anos, trabalhava numa mercearia da vila, e veja só até onde chegou!”. Por essa razão, lembro-me bem, era o ídolo de muitos “jotinhas”, que, já então, sonhavam alto enquanto dirimiam a puberdade na sombra dos partidos. Conhecendo ele as agruras da infância, as privações de uma pequena aldeia onde nasceu, os anseios de uma região deprimida… que melhor se poderia esperar, afinal, de um jovem deputado da nação? Não se deslumbrou, porém, com esse desafio. E tão-pouco com as velhas máximas dos sábios transmontanos, que muito lhe valeriam se as levasse na maleta quando embarcou, qual Calisto Elói, para a capital do reino: “Deus dá a roupa consoante o frio”, ou então “Antes burro que me carregue que cavalo que me derrube”.
Com estas lições aprendidas, certamente evitaria um tombo tão grande.