Batista Jerónimo
A relação dos Líderes nas crises
Nas crises é que os verdadeiros líderes aparecem.
“…o dinheiro chegar às empresas para as manter em laboração e não para o seu funeral. Podia ter começado por cortar as amarras aos agiotas dos banqueiros e financiá-las directamente…”
Numa situação de “abrir e fechar portas”, de rotina, sem percalços, quem ocupa uma posição de decisor, sabe que quanto menos “mexer” mais probabilidade tem de por em causa a sua posição, até porque se costuma dizer: só é criticado quem faz. Existe alguma verdade nesta afirmação, porque quando os decisores entram em limbo, adormecem estes e quem os rodeia. A inércia generaliza-se. Há uns anos, numa freguesia, que não tinha visto uma obra que fosse, nos últimos mandatos, perguntei porque é que o Presidente de Junta continuava a ser eleito? A resposta foi simples e elucidativa: é bom homem, não se mete com ninguém e necessita do dinheiro. Em política diríamos que estes fregueses são acomodados e sem ambição, já em contexto empresarial diriam que CEO era fraco, acomodado, não sabia aproveitar as oportunidades. Ou seja, na política criticamos os eleitores e nas empresas criticamos os do topo da cadeia hierárquica. No final ficamos com a ideia que o“ laissez faire, laissez passer” é o comportamento mais adequado.
Tudo muda quando aparece uma crise, quando as regras, os processos, as normas e os planos de contingência são testados, postos em causa e se são adaptáveis ao contexto. Porque nesta situação é necessário agir, antecipar, decidir, ser pró-activo, coordenar, motivar e revelar conhecimento, disponibilidade e humildade. Ninguém é obrigado a saber tudo, ninguém fica diminuído intelectualmente por não ter respostas momentâneas, ninguém pode estar preparado para todas as emergências possíveis de imergir. Mas, os decisores, têm de ter conhecimento das suas capacidades e limitações em contexto de emergência, de conflito e não é necessário que seja bélico ou de calamidade. Mas, já é obrigado a saber avaliar a situação, saber ler os indícios, estabelecer parâmetros (no mínimo podemos ficar por aqui e no máximo chegar a…), prioridades, distinguir o que é importante do urgente, saber ouvir e decidir em tempo real, em função das disponibilidades actuais e futuras. Rodear-se de massa crítica, que complemente o seu conhecimento, gente com experiência e capacidade, para ajudar e se necessário coordenar, sim, saber delegar é uma das características fundamentais dos líderes.
Para uma crise, podemos aventar que ninguém está preparado, mas o tempo que medeia a deflagração da crise e a resposta à crise contribui para a avaliação dos decisores.
Neste tempo que vivemos, em que a única certeza é só e unicamente a incerteza, temos vários exemplos de inércia, de reactividade, de seguidores, de antecipadores, de presentes, ausentes e aproveitadores. Mas, do que necessitamos é da afirmação de líderes á dimensão do contexto e da decisão de intervenção.
António Costa e, (a partir do poucochinho) enquanto Primeiro-ministro de Portugal, desde que assumiu a governação que faço uma avaliação positiva, reforçada agora no combate à pandemia, assumiu a liderança do governo e da situação, também a Ministra da Saúde e colega Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, têm estado bem. Ao Ministro da Economia (o amigo) que até tinha estado bem até à pandemia, revela-se impreparado e incapaz de lidar com os problemas das empresas, pois tinha de ser mais inovador na adaptação das medidas de apoio e o dinheiro chegar às empresas para as manter em laboração e não para o seu funeral. Podia ter começado por cortar as amarras aos agiotas dos banqueiros e financiá-las directamente. Sobre os Autarcas do nosso Distrito e de Portugal temos de tudo, a seu tempo e no tempo far-se-á o balanço.
Bragança, 07/05/2020
Baptista Jerónimo