Barroso da Fonte

Barroso da Fonte

A saga das Casas regionais de Trás-os-Montes

No dia (9) em que a Academia de Letras de Trás-os-Montes informava os seus associados da apresentação do livro «Congressos Transmontanos» (1920-2020) Unir o tempo do passado, do presente e do futuro», da autoria de António Jorge Nunes, recebia eu uma notícia, a partir da Câmara de Guimarães, nos seguintes termos:

«a Casa de Trás os Montes em Guimarães não vai fechar portas. A braços com uma grave crise financeira, a instituição tem garantido apoio financeiro da Câmara que lhe permite manter a actividade até final deste ano.

Em assembleia geral realizada este sábado, o Presidente da Direcção, Joaquim Coutinho, deu conta de uma promessa do vereador da Cultura que assegura condições que viabilizam a vida da instituição, até ao dia 31 de Dezembro de 2022. Paulo Lopes Silva garantiu que o Município vai atribuir um apoio financeiro no valor das rendas da sede da instituição, cujo valor mensal é de 270 euros. Ora, esta promessa é suficiente para impedir que a Casa de Trás- os- Montes, feche portas  antes do fim deste.
Joaquim Coutinho não esconde a sua satisfação com um apoio que permite criar condições para relançar a Casa de Trás os Montes de Guimarães». E o comunicado consola os associados, explicando que "esta promessa deixa, naturalmente satisfeitos, os Transmontanos porque evita o encerramento da instituição e permite o seu relançamento. Com esse objectivo, vamos promover uma campanha de angariação de novos associados para podermos assegurar uma receita que permita a viabilidade económica necessária da Casa de Trás os Montes de Guimarães" por mais algum tempo, afirmou o Presidente da Direção Joaquim Coutinho».

A estas duas notícias que interessam aos Transmontanos e Alto-Durienses, acrescem as confortáveis mensagens da Direção da Casa-Mãe, de Lisboa que nasceu em 23 de Setembro de 1905 e que, em 2005, durante as festas comemorativas do primeiro centenário, ganhou espírito coletivo, no sentido de avançar para a compra de terreno, com o intuito de construir uma sede  própria e adaptada às exigências contemporâneas.

Atualmente tem sede no Campo Pequeno, 50-3º Esqº-1000-081, em Lisboa. Mas os seus 117 anos merecem que os futuros Transmontanos e Alto-durienses que o destino os force a viver na Capital, possam alimentar, a todos os níveis, os gostos, os usos e costumes e, sobretudo, a influência que possam exercer, a partir do Terreiro do Paço. Ao longo dos anos, muitas vezes assim se fez e ainda assim se faz, sempre que o poder político se esquece de Trás-os-Montes e Alto-Douro, visto que, antes de ser Portugal, já este pedaço de chão, a norte do Rio Douro, era formava o «Entre Douro e Minho».

Em 1920 um punhado de inconformados Transmontanos, tiveram a feliz ideia de fundar uma associação, a partir da qual pudessem, os seus membros exercer a sua influência, a favor da nossa Província. Nascia, desse esforço coletivo a primeira Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro. Foi um enorme sucesso porque os responsáveis dessa época encheram-se de coragem. E deram a outras Províncias o exemplo de como se deve servir o bairrismo e a entre-ajuda, quando o poder político se esquece do país real.

Vinte e um anos depois, realizou-se o segundo congresso Transmontano. O entusiasmo redobrou e foi daí que Miguel Torga, por exemplo, gritou o «hino do Ipiranga» sobre o «Reino Maravilhoso».

A intenção consistia em repetir essas formas de pressão, de vinte em vinte anos. Contudo, os anos maus que se seguiram, por razões internas e externas, desencorajaram os influentes de 1920 e de 1941. As Casas regionais, na tentativa de imitar a de Lisboa, começaram a expandir-se, cá dentro e lá fora, onde os Transmontanos, chegavam. Em Luanda, onde se fundou o Clube Transmontano; no Brasil e nos USA com a Casa de S. Paulo e com o Clube Vasco da Gama,respetivamente; em Toronto e Paris, como em Coimbra, em Guimarães, no Porto, em Braga, Viana do Castelo, Águeda, Tomar e zona do Algarve, quer em casa própria, quer em sítios certos e convencionais,entre 1960 e 2002, a imprensa não se calou. E, entre a boa e má fé de alguns líderes Transmontanos, o III Congresso abortou por vários motivos. Até que as Casas Regionais entenderam federar-se. E essa força coletiva contou com o apoio financeiro e logístico que recaiu na autarquia de Bragança, nomeadamente do seu Presidente, Jorge Nunes. Portaram-se à altura os autarcas. Não fossem eles e, esse III Congresso, não teria reunido, em Bragança mil e trezentos congressistas, mais os representantes nacionais e locais e povo anónimo. Naturalmente estiveram presentes, não só o primeiro ministro e o Presidente da República, da época. Foi, inegavelmente, uma das mais concorridas manifestações conjuntas, de todos os tempos, durante três dias, em Setembro de 2002.

 As Casas regionais, de Lisboa e Porto, sempre tiveram das restantes, quer do continente quer da Lusofonia, o seu aval. Foi pena que a Federação das Casas Regionais que, nessa qualidade, abriu e encerrou o Congresso, nunca mais tivesse reunido, postura que ditou a desativação legal. Foi pena!

Em 2020 o Presidente da Direção da Casa de Lisboa, Hirondino Isaías que tem sido reeleito, incentivou a Instituição a realizar o IV Congresso Transmontano. E, apesar de ser uma iniciativa levada a cabo, apenas e só da Casa, teve engenho e arte para cumprir o desígnio inicial de repetir os «Congressos» com a distância de duas décadas.

O Ex-presidente da Câmara de Bragança, Engº Jorge Nunes, entendeu que deveria comemorar-se o I século desde 1920. E a sua permanente vontade de fazer mais e melhor, reconhecendo que, embora os quatro Congressos já realizados não devem ser esquecidos, entendeu ser ele próprio a organizar e a escrever o grande livros dos Congressos Transmontanos (1920-2020).

A apresentação desta obra que penso, agradará a muitos transmontanos (e não só) decorrerá dia 18 do corrente, às 17,30 h na sala de Atos do Teatro Municipal de Bragança.

                                                     Barroso da Fonte


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