Henrique Ferreira

Henrique Ferreira

A sanguessuga do 10 de Junho em Trás-os-Montes

Não vi comemorações especiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades no espaço territorial, populacional e político-administrativo da Província de Trás-os-Montes e Alto Douro como não as vi nos ex-distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda e Braga como não as vi ainda nas CIM (Comunidades Intermunicipais) Terras de Trás-os-Montes, Alto Tâmega, Ave, Tâmega e Sousa, Douro, Dão-Lafões, e Beiras e Serra da Estrela. E também não as vi em nenhum dos  municípios da antiga Província de Trás-os-Montes.

Temos pois aqui uma pequena amostra do não-comunitarismo transmontano ou, se quisermos, do grau de centralização do país que, acossado por um frémito de fervor pátrio, extingue todo o sentimento local e usurpa todas as energias às comunidades. E dizem eles que é o dia delas.

Às vezes, escrever obriga-nos a procurar ou a ler a realidade sob outros ângulos. Neste caso, impressionou-me o retalho da Província de Trás-os-Montes, dividida já em 1936, e na recriação dos Distritos em 1956, por cinco distritos (Guarda, Viseu. Bragança, Vila Real e Braga) e, a partir de 2014, nas 7 CIM acima referidas.

 

Curioso que a retórica da descentralização e da regionalização queria combater o retalho do território. Afinal, retalhou-o ainda mais. De cinco distritos, passou-se a sete CIM.

Se, de facto, a Província de Trás-os-Montes era uma realidade plural, diversa e, na voz dos centralistas e dos descentralistas radicais (o que acaba por conduzir ao mesmo), incompatível nas suas sub-regiões Douro, Alto Tâmega e Alto Trás-os-Montes, os administradores centaris do território encarregaram-se de desagregar-lhe os municípios da margem esquerda do Alto Douro (desde Resende a Vila Nova de Foz Coa) e os municípios de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Mesão Frio.

E assim se perdeu todo o sentido de identidade regional. Os centralistas ufanam-se da identidade nacional e os administradores municipais submetem-se ao centralismo, reproduzindo-o localmente, não cuidando de criar tal identidade.

Assim, como poderão um dia reivindicar uma região se os autarcas de Douro «odeiam» os de Alto Tâmega e os de Terras de Trás-os-Montes e os de Alto Tâmega os últimos?

Estranha forma de combater o regionalismo e de promover o bacoquismo e o provincianismo!


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