Manuel Igreja

Manuel Igreja

A Um Menino (a)

Era uma vez um menino que sabia. Sabia que tinha de ficar em casa, que não podia ir para a escola nem para a rua brincar, sem saber bem porque, mas sabia que assim tinha de ser. E ficava.

O pai e a mãe diziam-lhe que era melhor assim por causa de uma coisa muito má que fazia as pessoas ficarem doentes e até morrer, e ele acreditava. Sabia que tinha de acreditar, e dava beijos e abraços que recebia replicados e multiplicados. E chi-corações muito apertados. Não eram reais, mas eram imaginados.

Como não podia sair de casa, brincava. Brincava com o que sempre brincou, e brincava com coisas que ele inventou. Também brincava com as coisas que o pai e a mãe inventavam, e o tempo passava.

Ás vezes dava-lhe vontade de ir para a rua brincar, mas sabia que não podia ir e não ia. Para passar melhor o tempo, imaginava castelos, enchia os sonhos com coisas que nem percebia, mas sabia.

Sabia muito mais do que os pais pensavam que ele sabia, mas fazia que não sabia, porque sabia que assim eles ficavam mais sossegados. Sabia que eles se mostravam animados, mas sabia também que umas vezes estavam, e noutras desanimavam.

O menino que isto sabia, sentia-se um herói. Sabia que havia muitos e eles até os conhecia. De oras em quando até falava com eles. Ajudava os bons a derrotar os maus, e venciam sempre. Sentia que a sua ajuda era importante, e fazia o que sabia para ajudar a melhorar as coisas.

Mas ás vezes não conseguia. Chateava e chateava-se. Tinha saudades da rua e das brincadeiras, dos amigos e da escola, mas vencia. Sabia que regressaria, que era uma questão de tempo. Sabia que as brincadeiras só estavam adiadas e as coisas que ia aprender estavam metidas na mochila pendurada no quarto que era o seu mundo.

E assim, o menino que sabia ajudou. Foi um Super-herói. Sabia que tinha superpoderes. Pensava que se visse o tal vírus, era assim que o pai chamava o tal mal, lhe daria um murro que ele iria até às estrelas. E viu. E deu.

Foi por isso que a mãe, o pai, os tios, os primos, os amigos, e os amigos dos amigos, puderam depois voltar para a rua para trabalhar, para brincar e para sorrir.

Áh! E rir. Muito e muito. Mesmo que depois de muito chorarem. Ele não percebia, mas ficou a saber que a vida é tudo o que pode acontecer.

Era uma vez um menino, era uma vez uma menina. Era uma vez…


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