Abaixo a “estratégia”!
Quando vejo e ouço alguém na TV falar em “estratégia” puxo logo do comando. E mudo de canal. Ou, então, desligo. Já sei o que vem a seguir: nada.
Pode não passar de uma embirração, mas é de tal forma recorrente e repetitiva a situação que já perdi a esperança. Dei por mim bastas vezes a adivinhar, com impressionante percentagem de acertos, quando alguém que ouvia em dado momento ia usar a palavra “estratégia”, ou qualquer uma das suas variações. Fosse o Placard dos Jogos Santa Casa tão fácil e o Dr. Santana Lopes não teria por onde andar…
A constatação de que, a seguir a essa invocação, vinha sempre um vazio de ideias e de proclamações, veio por arrasto e a conclusão de que o recurso a esse termo por parte de uma considerável maioria de políticos é uma táctica simples e básica de encobrimento desse vazio (há quem lhe chame “palha”) veio por evidência.
O leitor amigo acha que isto é acinte? Pois lanço-lhe um desafio: quando ouvir um político falar em “estratégia” (substantivo) ou em “estratégico(a)” (adjectivo) redobre a sua atenção, concentre-se no que ele vai dizer a seguir, tente (na medida do possível) apreender e compreender o que ele diz mesmo e, depois, faça a si próprio esta pergunta: concretamente, em que objectivo(s), em que medidas, em que propostas, em que ideias se traduziu a tal de “estratégia” que aquele político invocou? Ao fim de meia dúzia de vezes verifique em quantas delas conseguiu encontrar uma resposta a esta pergunta.
Se passar de 50% deixe de me ler, porque o caso perdido sou eu. Se não passar de 0%, pode deixar de me ler na mesma, mas não perca a esperança nem desista, porque isso é o que eles querem (“eles”, os estrategas, claro está). Querem que só fique mesmo para votar (ou para abanar a bandeirinha) quem ouve discursos cheios de estratégia, visão estratégica, diálogo estratégico, concertação estratégica, convergência estratégica, objectivos estratégicos e, no fim, mais que não seja porque pode parecer mal ficar quieto, se levanta para aplaudir o nada e a coisa nenhuma que, com excelente capacidade “estratégica” de sobrevivência, aquele político ali acabou de empalhar.
E mais, se tiver mesmo paciência ou for tão lírico quanto eu, acompanhe pelo tempo fora as tais de “estratégias” e veja quantas delas atingem os seus resultados ou são, no mínimo, implementadas, mesmo que sem resultados.
Desde que se passou da política de corta-fitas para a política do anúncio do “vamos fazer X” e do “n milhões para Y” que a “estratégia” ocupa na comunicação política um espaço inversamente proporcional ao sentido do seu conceito.
Estrategicamente, claro!