Luis Ferreira

Luis Ferreira

Afinal o vírus veio à bola

É escusado ficarmos indignados. Sempre fomos um povo pacífico e condescendente e como não queremos o mal dos outros, não nos importamos de arcar com o mal que nos possa caber em sorte. Enfim, nada a fazer.

A História ensina-nos muitas coisas e particularmente estes pequenos pormenores que justificam as asneiras que fazemos ou que os nossos governantes fazem em nosso nome. Não é que alguém lhes dê autorização para isso, mas eles tomam esse direito abusivamente agarrando-se a justificações que nada justificam a não ser a bondade que o nosso povo tem em aturar tudo isso.

Pois ao longo de toda a nossa História a aliança com a Inglaterra serviu muito bem aos ingleses, mas muito mal aos portugueses. A nós só justifica o facto de sermos aliados para permitir que em alguns momentos e perante determinados assuntos políticos e económicos, não tenhamos tido a coragem de dizer Não aos ingleses para ficarmos bem vistos aos olhos da Inglaterra como se isso lhes interessasse sobremaneira. Definitivamente Não. Não interessava nada. Eles sempre quiseram defender os seus interesses e não os de Portugal. Foi o que aconteceu com o Tratado de Methuen tão desastroso para economia nacional, mas tão importante para eles. De facto trocar lã por vinho do Porto, era ditado só pela necessidade de escoar os nossos vinhos e não pela falta de lã em Portugal. Enfim! E para os que não sabem, também abdicámos do famoso Mapa cor-de-rosa em África, porque os ingleses nos ameaçaram e teríamos de abandonar esse território entre Angola e Moçambique, a bem ou a mal, para eles ligarem a cidade do Cairo à cidade do Cabo na África do Sul. D. Carlos acedeu e talvez por isso, mas não só, acabou assassinado pelo Manuel Buíça de Vinhais. Coisas da História.

Agora, uma vez mais, abrimos as pernas aos ingleses e à UEFA para receber a final da Champions entre duas equipas inglesas. Neste caso, eles não têm culpa. A culpa é de quem aceitou que isso tivesse lugar no nosso país e até ficasse contente com a vinda de mais de dezasseis mil ingleses para a cidade do Porto para assistir ao jogo. Ia ser muito bom para a economia nacional, como disseram os responsáveis portugueses. Será que foi bom? Será que o Porto e as pessoas do Porto não vão pagar caro esse evento?

A chegada de tantos adeptos vindos de um país onde o vírus se passeia livremente pelas ruas de Londres e de outras cidades inglesas, não abona nada a favor de tal solução para nós, especialmente porque nada temos a ver com esses clubes que se vão gladiar em arena neutra. Que o fizessem na terra deles. E isto não é ter nada contra os ingleses, mas sim contra o facto de estarmos em plena pandemia e se os portugueses não se podem reunir porque a polícia logo aparece para dispersar toda a gente, então porque é que os ingleses podem? Aliás, eles para treinar, começaram logo a agredir-se em plena cidade, aos milhares, com toda a raiva que o fanatismo clubístico permite. Completa loucura como vimos.

Dentro de alguns dias saberemos se essa final tão polémica e tão publicitada a nível internacional, foi ou não um sucesso. Parece que só detectaram dois casos positivos de vírus. Ganhar um dos clubes não era o mais importante para nós. O importante é que tenha ganho o Porto, mas isso só veremos daqui a mais uns dias.

A escolha do estádio do Dragão seria sempre uma boa escolha se nada se passasse de extraordinário. Em tempos de acalmia e serenidade, o acontecimento era relevante e, obviamente de saudar a escolha. Mas o momento presente e perante os perigos que correm, penso que dispensávamos tal evento. Mas o que está feito, feito está. Aconteceu. O vírus terá vindo ver a bola, ou não. Veio em minoria, segundo parece. Esperemos que ele não tenha assistido ao jogo, já por si tão renhido, e não viesse com o mesmo fanatismo dos ingleses, que não sabem ver futebol e não se sabem conter perante estes momentos únicos no desporto internacional.

Sabemos bem que para estes adeptos o que interessa é beber uns finos bem bebidos, dar uns murros e partir umas montras pelo caminho. Tudo pacífico. O vírus, bem, alguém ouviu falar dele? Eles também não. Perante tudo isto, parece que se justifica a indignação dos portugueses que, em Lisboa foram dispersados pela polícia por se juntarem sem respeitar o distanciamento e a colocação de máscaras. Máscaras? Os ingleses também não sabem o que isso é!

Pois no meio de tantos milhares de pessoas será difícil afirmar que o vírus não se passeou pelo meio do pessoal, e que só encontrassem dois exemplares que vieram ver a bola. Mesmo esses, nós dispensávamos. Se nós não podemos ir à bola, por que razão podem ir os vírus?


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