Luis Ferreira
Alertas vermelhos
Li num diário que o governo e a oposição estavam de acordo e como achei que deveria ser uma piada, acabei por ler mais um pouco para perceber que premissa me estaria a falhar para ter uma conclusão tão óbvia. Fiquei decepcionado.
Na verdade, estavam de acordo sobre a queda do investimento público, o que é um enorme problema. Mas mais admirado fiquei ao ler que o PS assegura que as coisas vão melhorar com a execução do Portugal 2020. Caramba! Exclamei para mim próprio. Então temos de esperar mais quatro anos para ver crescer o investimento público e a economia nacional? E será que os portugueses vão ficar sossegados à espera desse momento? E como irá funcionar a geringonça daqui para a frente com um Orçamento à porta para aprovar?
A oposição acredita que “neste momento” o primeiro-ministro está a travar a fundo para conseguir as tão almejadas metas do défice. A verdade é que parece que há uma série de pagamentos em atraso e a economia está mesmo a asfixiar. Como é possível o Estado estar com pagamentos em atraso? Então não é suposto ser uma pessoa de bem?
Seja como for, nem as desculpas com os atrasos na execução dos fundos comunitários que o governo está a usar, servem para acalmar a onda enorme que se está a levantar contra esta geringonça. Nem Costa ainda encontrou a forma de lhe dar a volta! Embora tenha andado a aprender, a verdade é que não é um mestre do surf. Esta onda é pior que a da Nazaré que deu fama ao americano. Aqui, na Europa, os surfistas andam mais por baixo.
António Costa está cercado. Nem os parceiros do entendimento “pouco sustentável” lhe dão o apoio esperado. Da Europa vêm exigências para mais austeridade em 2016. Como é que ele se vai acomodar com as exigências de toda a extrema-esquerda? Ela não quer mais austeridade. Antes pelo contrário. Já pedem aumentos para inserir no Orçamento. É preciso ter em conta as promessas feitas.
Nos últimos dias, o Parlamento foi palco de uma esgrima confusa. Enquanto a oposição acusava o governo referindo que a economia está em estagnação, António Costa defendia-se dizendo que está em recuperação. Assim, a economia estaria a crescer segundo o governo, mas do outro lado dizem que o investimento está a cair e as exportações a descer. Quem fala verdade?
Se tudo estivesse bem, Costa não se sentiria cercado por todos e acossado pelos próprios parceiros e ainda mais por Bruxelas. Estes pedem mais austeridade, a estrema-esquerda pede aumentos e a oposição acusa Costa de não saber entender-se com ninguém.
O primeiro-ministro tem de se defender de qualquer modo e para isso servem também as crises que se vivem no Brasil e em Angola, que diminuíram as suas importações. Talvez tenha razão, pois a esse nível houve um decréscimo das importações, mas a economia de um país não se restringe às importações e exportações de dois países. Há muito mais do que isso.
Não sei se os portugueses já se aperceberam de todos estes alertas que são realmente vermelhos. A verdade é que nem tudo o que parece é. Se por um lado os portugueses ficam agradados com as promessas de reposição de salários e aumentos de pensões e descida de impostos, outros vêm aí o perigo de ter de suportar tais encargos quando a Europa exige que se façam cortes. Os sinais vermelhos piscam constantemente e quando o sinal está vermelho, manda o bom senso, que se pare. Parar para reflectir e decidir bem.
De um modo ou de outro, as coisas não estão bem para os lados do governo. Costa tem um Orçamento para apresentar e aprovar e os seus parceiros só aprovam se lá constarem as suas exigências e até este momento ainda não se vislumbram. A quem Costa vai dar ouvidos?