Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Amores que se fizeram impossíveis

A localidade de Alicadeira havia ficado sem pároco, finara-se de velhice. Os paroquianos muito descontentes, por terem perdido o Padre Benjamim, fizeram uma longa exposição ao Sr. Bispo cujo intuito era de que lhes enviasse um novo Padre.

Não tardou muito a aparecer na terra um jovem acabado de sair do seminário. Não tinha por lá raízes ou algo que o prendesse. Como todos os jovens, vestia-se bem e acompanhava a modernidade da época. Era muito dinâmico e empreendedor. Formou um grupo de jovens, reformulou o coro, arranjou novos catequistas, mudou a forma como abordava os paroquianos, celebrava missa em várias localidades e dava aulas de Religião e Moral para grande alegria de quem assistia, mormente as raparigas. O Padre era uma bela figura: pele alva como a neve, olhos azuis, feições bonitas, vestia-se como os jovens… pecava apenas pela baixa estatura, diziam as moças.

Uma aluna resolveu encantar-se pelo Padre Joaquim e por tudo quanto ele fazia. Aparecia a todas as aulas de Religião e Moral, no grupo de jovens, nos ensaios do coro, ia a todas as missas e a todo e qualquer evento promovido pelo Padre Joaquim. Apresentava-se impecavelmente vestida e penteada.

A Zélia era natural de Alicadeira. De tez morena, olhos negros, feições delicadas, baixa estatura e prendada, era um furação em dinamismo. A certa altura teve de ir estudar para fora para fazer a sua formação superior. Ia passar os fins de semana à terra e lá envolvia-se nas atividades da paróquia. Mantinha um contacto muito próximo ao Padre Joaquim, inclusive ia com o grupo de jovens para o estrangeiro.

Entretanto terminou os estudos e regressou à terra onde foi colocada a dar aulas. A proximidade ao Padre Joaquim foi tanta que a Zélia engravidou.

Mas o pior estava para vir. O Padre Joaquim não assumiu o filho e para que a barriga da moça não se notasse antes do tempo, tratou de engendrar-lhe um marido - um seminarista que veio de longe e aceitou casar com a Zélia.

A criança nasceu e… quem foi o padrinho?

Nada mais, nada menos, do que o Padre Joaquim.

A Zélia continuou envolvida em todas as atividades da paróquia, onde era também catequista, à espera de que o Padre Joaquim resolvesse assumir o filho e se casasse com ela…

Até aos dias de hoje, o Padre continua como Sacerdote, assumindo todas as funções da paróquia, e a Zélia ainda não perdeu a esperança.

Quanto ao marido da Zélia… é bom esposo, um homem alto, boa figura e boa pessoa, muito dedicado às atividades da Igreja.

Talvez por ressabiamento, a Zélia transformou-se numa pessoa má, fria e calculista. Usava as pessoas enquanto precisava delas e depois punha-as de lado.

Continua envolvida em tudo, até na política.

Se um dia o Padre Joaquim dirá toda a verdade ao filho…? Mistério, mas acredito que não.

Quanto à Zélia e ao marido… mantém uma boa convivência e não tiveram filhos.

Este suposto segredo, que a Zélia pensa estar bem guardado, todo o povo o conhece. As pessoas estranharam o comportamento da jovem e a perseguição que fazia e ainda hoje faz ao Padre.

Se a história devia acabar assim…? Não, não devia, mas nem todos os finais são cor-de-rosa.


©Teresa do Amparo Ferreira, 29-01-2025

Este texto é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. 




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