Luis Ferreira
Ano Novo, velhos problemas
Depois de todos termos desejado indiscriminadamente um ano novo repleto de sucessos, resta-nos esperar pela consumação dos desejos na esperança de que as surpresas, quase sempre adversas, não nos apliquem taxas demasiado acentuadas. No entanto, e apesar de ainda estarmos a dar os primeiros passos neste janeiro um pouco madrasto, parece que quase tudo ainda se mantém e os problemas continuam os mesmos, apenas esvoaçando alguns devaneios por aqui e por ali.
A posse de Centeno na presidência do Eurogrupo poderia indiciar uma mudança, mas esta já estava acertada do ano anterior, pelo que foi somente o consumar de uma realidade. O que daí pode advir para o país ainda não sabemos, se bem que Centeno diz que será bom para Portugal. A ver vamos.
Do ano anterior vinha também a promessa do descongelamento das carreiras dos funcionários públicos, incluindo a dos professores. Pois o ano começou com uma reunião que a nada de concreto levou, mantendo o impasse na forma de descongelamento das carreiras e da passagem dos professores do 4.º para o 5.º escalão e do 6.º para o 7.º. No ar está a possibilidade de uma greve, mais uma, para levar a geringonça a decidir cumprir o prometido sem arrepios de última hora. Uma coisa é prometer, outra é fazer. À espera continuarão os professores dos outros escalões, especialmente os mais antigos que estão congelados desde 2005.
As maleitas de Marcelo também vêm do ano anterior, mas agora já recomposto da sua hérnia, voltou a boa disposição, só beliscada pela lei do financiamento dos partidos onde parece haver muitos desentendimentos. Também lhe feriu a suscetibilidade o caso da substituição ou não, de Joana Marques Vidal, afinal um não-caso. Coisas de que a ministra Van Dunem poderá vir a arrepender-se daqui a nove meses. O tempo de uma gestação! A última palavra cabe a Marcelo e ele fez questão de o afirmar. As rivalidades entre Marques Vidal e Van Dunem terão de se solucionar por si só. Aliás, o presidente Marcelo fez boa nota do assunto, embora indirectamente, ao aceitar o entendimento levado a cabo no setor da justiça e ao referir que o mesmo devia ser feito em outros sectores como a saúde ou a educação. Claro. Seria ótimo!
As eleições do fim-de-semana para eleger o líder do PSD não sei se terá ajudado a clarificar muito toda esta situação em termos políticos. Para Costa, um ou outro tanto lhe serviria. Tem mais dois anos para governar e afirmar a sua política que poderá ser de geringonça ou não, a partir das próximas eleições legislativas. Rio não vai ter tempo de alavancar todo o PSD e chegar a um bom resultado eleitoral. Para o PS, será difícil perder esse escrutínio, pois o PSD e o CDS, mesmo juntos, poderão não ter fôlego suficiente para ultrapassar o score socialista. Não será neste ano novo que isso acontecerá, mas os próximos meses serão a rampa de lançamento. A queimar um dos candidatos, seria preferível ter sido Santana, pois Rio vai queimar-se, eleitoralmente, entenda-se, com toda a certeza.
Mas muitas coisas estão ainda no ar à espera de decisões. O uso legal da Canábis para ilegalizar determinadas doenças, é ponto de ordem no Parlamento e ficará a aguardar tempo de esclarecimento para votação positiva. Tempos modernos!
Outro caso que marca este início de ano é a tremenda mudança dos CTT e a sua falta de organização espacial. A desativação de algumas dezenas de lojas tem alertado a população para um efeito altamente negativo de proximidade e tem levado a manifestações um pouco por todo o lado. E o governo nada faz e nada pode fazer possivelmente. Vendeu-se, escreveu-se, contratou-se, mas não se salvaguardaram devidamente todos os aspetos além dos económicos, como se somente estes interessassem. Estamos habituados! Parece, no entanto, haver a nível nacional, um abaixo-assinado para que os CTT voltem à mão do Estado. Será possível? Seria desejável.
Bom é o facto de Sobral ter saído do hospital e estar a recuperar muito bem em sua casa. Pesem embora todas as restrições normais a que fica sujeito, é sempre bom saber que ele conseguiu vencer mais esta etapa difícil da sua vida. De 2017 ficou esta grande vitória. Foi a marca de um ano pouco recheado de coisas boas. Ele conseguiu “amar pelos dois”: por ele e por Portugal! Ainda bem, pois precisamos de um Sobral sóbrio.
Muitos outros velhos problemas pairam no ar neste universo português à espera de solução. Não vale a pena enumerá-los. Seria fastidioso e, por ventura alguém se lembraria de se referir a eles ou a mais alguém, do mesmo modo que Trump o fez em relação a alguns países que não têm culpa de simplesmente existirem tal como são. Infelizmente, os americanos e não só, têm de ir ouvindo e aturando as “trumpices” deste presidente cada vez mais “off side”! Já vai sendo tempo de lhe marcar um “penálti”. Os velhos problemas continuam. Enfim!