Manuel Igreja
Ano Novo . Vícios velhos
Na nossa maneira de medir o tempo que não tem medida, segundo o nosso calendário que se vai virando página a página, o ano de 2022 está a findar para dar lugar ao ano de 2023. Isto, obviamente no momento deste escrito que lido será já depois das doze badaladas do dia 31 de dezembro, neste inverno do nosso contentamento porque as ribeiras vão cheias como devem ir. Parecem prenhas de vida.
Ao longo de meses iam mais secas que tripas de reco antes de se encher o fumeiro, mas agora quanto ao clima e em termos imediatos, tudo vai como deve ir cá pelo nosso esplendoroso jardim de rosas e de madressilvas, mas também com muitas ervas daninhas que surripiam parte do nosso sustento.
Mas isso à parte e indo ao que pretendo apontar com a torrente de palavras que formarão este escrito. No largo mar de terra e de oceanos que é este nosso planeta azul, a tormenta não amaina e o bom porto está escondido por entre as brumas dos interesses escusos de alguns, e por maleitas que nos desassossegam.
Depois de dois anos de pandemia provocada por um ser que não se vê a olho nu, depois de milhares de mortos e de horas confinados no espaço com sensação de tempo parado, almejávamos mais sucesso e que a normalidade com tudo o que ela tem por vezes de anormal e de imperfeita voltasse. No entanto não voltou.
Como o escorpião que não resiste a morder-se e a envenenar-se quando não tem mais a quem vitimar, o ser humano continua a guerrear. Vai daí, um mafarrico sozinho ou acompanhado, decidiu no segundo mês de 2022 iniciar uma insana guerra com argumentos descabidos.
Entrou pelo país de outros adentro convencido que ir ser algo tipo passeio num parque onde multidões o aclamariam, mas a monstruosa coisa feita de aço e ferro emperrou e a guerra continuou e continuará para mal dos nossos pecados e para satisfação de quem com ela ganha de um e de outro lado.
O horizonte onde parecia ir despontar a claridade necessária para a ronda do mundo ficar um pouco mais nos eixos, escureceu de novo. Pouco ou nada se vê para lá de onde a vista alcança. Se o futuro nunca foi o que era, agora, nestes nossos dias, parece ainda mais poder vir a ser pior do que nunca foi, no que respeita a nós e às nossas memórias dos quotidianos idos.
Tememos e temos razões para temer, mas temos de ir em frente. A marcha tem de seguir. Noutras eras o inferno veio à terra, mas tudo continuou. A capacidade humana de enfrentar também não tem medida quando é escorada por objetivos concretos e por vontade e vencer.
No que respeita ao nosso país, desenhado retângulo junto mar muito apetecido e oferecido aos e para os estrangeiros, mas tendencialmente recusado para os portugueses, o ano de 2022 também não foi deixar saudades colocando-se as coisas em termos gerais, pois cada um sabe da sua vida e Deus Nosso Senhor da de todos.
Partidarites à parte, podemos ver que com um governo de maioria absolta eleito há um ano, vivemos uma situação que poderia se uma excelente comédia se não fosse uma situação que bem pode vir a ser uma tragédia exemplar.
Com todas as condições políticas e financeiras para poder ficar na História como o novo Marquês de Pombal reformando e refundado, o primeiro-ministro limita-se a gerir crises de nomeações e de poder próprias de um governo desconchavado semanalmente nascidas.
O país precisa de ser abanado e sacudido como se fosse um tapete para se acabar com uma mentalidade de ser e de se olhar para o Estado que já vem do século XIX com cada um a tentar passar por entre os pingos da chuva, mas antes pelo contrário, capturado ele continua a ser quase não mais do que lugar de encosto, de sustento e de reconforto para quem alinha e diz que sim.
O novo ano nasceu numa manjedoura debaixo de uma tempestade perfeita que nos pode trazer forte borrasca. Resta-nos desejar que a sementeira da esperança não fique totalmente destruída e que a vontade de fazer acontecer nos se nos mirre.
Oxalá eu esteja engano. Bom Ano Novo.