João Miranda
Armando Palavras esclarece história do Monumento aos Combatentes
O SAL DA HISTÓRIA
Armando Palavras esclarece história do Monumento aos Combatentes
No dia 15 de janeiro saiu da gráfica «O sal da História - Monumento aos Combatentes do Ultramar», da autoria do Prof. Doutor Armando Palavras, oriundo de Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta. Transmontano de rija tempera, está radicado na capital, onde fundou e dirige o blogue «tempo caminhado».
O livro que agora vem a público pretende assinalar os 31 anos do Monumento aos Combatentes do Ultramar, erigido em Lisboa, na zona de Belém, junto ao Forte do Bom Sucesso. Em 15 de Janeiro de 1994, com a presença das mais altas figuras do Estado, foi ali inaugurado esse monumento nacional para homenagear todos aqueles jovens, da ordem dos dez mil, que perderam a vida na chamada guerra do Ultramar Português.
A história do Monumento tem início em 1982, quando Barroso da Fonte, que tinha sido oficial miliciano Ranger no norte de Angola, face ao desprezo pelos milicianos e soldados em geral, fundou a Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar (ANCU), com sede em Guimarães, mas destinada a congregar todos aqueles que foram mobilizados, pois os militares de carreira não chegavam para aguentar essa guerra. E as academias militares, dos três ramos das forças armadas, não chegavam para as necessidades. Pelo que o poder político promulgou uma lei que permitia aos oficiais milicianos continuarem como profissionais. Foi essa a principal origem da revolução de 1974, como afirma a Associação 25 de Abril:
«Decreto-Lei 353/73, aprovado por Sá Viana Rebelo, ministro do Exército, que procurava fazer face à escassez de capitães dos quadros permanentes. Funcionou como verdadeiro detonador para a contestação que, após rápida e profunda evolução, levaria ao 25 de Abril de 1974».
Em 1982 já tinham decorrido oito anos desde a revolução dos cravos e a sociedade portuguesa ansiava por paz, liberdade e justiça. O Conselho da Revolução travara o PREC e a ameaça da guerra civil; e os “retornados”, na sua imprevisível paciência, superaram os excessos do COPCOM, a matança da Páscoa e os saneamentos selvagens. Em 1982 o ambiente social, laboral e político estava muito tenso. O capitão Corvacho, para ser comandante da Região do Norte, foi promovido a Brigadeiro e fez do Norte do país a sua sanzala privada, trazida da Guiné, e povoou os serviços da delegação do norte da Comunicação Social. Até ser substituído pelo Brigadeiro Pires Veloso, que repôs a ordem.
No meio dessa confusão, um pequeno grupo de ex-combatentes, liderado por Barroso da Fonte, fundou a Associação dos ex-Combatentes do Ultramar que, vinte anos depois, já sob a direção de António Ferraz, mudaria a sede de Guimarães para Tondela, onde encontrou novas instalações e melhor apoio autárquico.
O que levou a ANCU à liderança de cerca de uma centena de associações de ex-combatentes foi o facto do sócio fundador e primeiro presidente da direção, ser jornalista profissional e representante local de vários jornais e revistas nacionais. Logo se fundou o jornal Sentinela, órgão informativo da Associação, de que saíram 73 edições. Ao mudar a sede de Guimarães para Tondela, o trimensário também mudou de título para: A Voz do Combatente, que já vai na 163ª edição. Como a maior parte da imprensa nacional, a começar pelas televisões, não davam tempo nem voz aos antigos combatentes, o jornal uniu-os e levou informação a todos os recantos da Lusofonia, onde eles vivessem.
Um dos seus principais objetivos foi a construção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, o mais perto possível do local da partida e da chegada dos barcos que levavam e traziam os militares. Foi a razão porque está localizado na zona de Belém.
O jornal Sentinela, agora A Voz do Combatente, foi sempre, até hoje, uma espécie de registo de todos os acontecimentos e informações relevantes para os antigos militares portugueses que se sacrificaram no Ultramar. Também registou todas as verbas angariadas, destinadas à construção do Monumento.
O Sal da História é fruto da investigação do Professor Doutor Armando Palavras, licenciado em Belas Artes (Pintura) e Doutorado em História, na área específica de História da Arte, e investigador integrado do Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design (CITAD) do Agrupamento de Centros de Investigação (ILID).
Nos últimos anos tem publicado pesquisas em diversas revistas como, por exemplo: Brigantia (de Bragança), Tellus (Vila Real) e 9 Séculos – Revista da Lusofonia, com redação em Guimarães. É autor de vários livros sobre temática relacionada com a sua área académica, como: A Actividade Construtora Setecentista em Penaguião (Março de 2001); Igrejas Setecentistas do Padroado da Universidade de Coimbra (Abril de 2001); As Visitações de Alijó e Alguns Documentos Dispersos (Fevereiro de 2022); As Mulheres nos Evangelhos Canónicos - A sua representação na Periferia Duriense (2023) e Artistas e Artífices do Século XVIII - Nas periferias Transmontana, Beirã e Duriense (Maio de 2024).
Transmontano nascido em Angola e radicado em Lisboa como docente, Armando Palavras expõe neste livro todo o processo que levou à construção do Monumento aos Combatentes. Trinta anos depois da sua inauguração, em Janeiro de 1994, este volume vem contar a sua história e, sobretudo, fazer justiça, prestando devido reconhecimento a alguns dos seus principais obreiros, que foram esquecidos pela “estória” oficial. O seu contributo foi fundamental para a materialização duma ideia nascida no seio da ANCU, em conversas entre o co-fundador e primeiro presidente, Barroso da Fonte, e o sócio Duval d’Oliveira Bettencourt Gomes, logo nos primórdios da Associação.
Aproveitando a vinda a Guimarães do General Altino de Magalhães, a direção da ANCU convidou-o a representar a Associação junto do poder político da capital, para agilizar o processo de realização do Monumento. O General aceitou o convite e o sócio Manuel dos Santos Conceição, que vivia em Lisboa, aceitou a responsabilidade e o fardo de lhe prestar toda a assistência possível para suavizar tamanha missão. E fê-lo graciosamente, durante seis anos.
Cumprido o sonho da construção do Monumento, no dia da inauguração, a Liga dos Combatentes, que era presidida pelo General, colheu os louros e, no seu discurso oficial, esqueceu-se de mencionar os verdadeiros pais e obreiros do projeto.
O livro tem 160 páginas, com a chancela da Editora Cidade Berço e deverá ser lançado brevemente em Lisboa.
João Miranda