Manuel Igreja

Manuel Igreja

As Associações e a Rede

No Alto Douro Vinhateiro, a nossa terra, está a germinar algo que pode muito bem ser coisa interessante para além de recomendável. As associações culturais espalhadas pela região e habituadas a trabalharem isoladamente com os olhos no umbigo de cada qual, vão organizar-se em rede. Colocando o habitual ceticismo de lado, vão conseguir. Digo eu cá para mim.      

Ainda há dias, no auditório municipal da Régua, ali na Alameda, teve lugar uma reunião alargada, um Encontro, como se costuma dizer, das Associações que pontuam e encantam a região com o seu saber, obviamente mercê do seu esforço e dedicação. São muitas, variadas e boas, pode afiançar-se e estão espalhadas num território que de escasso nada tem.     

Pois bem. Acontece que já a tarde ia longa, e não havia maneira de a conversa não ir dar se não à economia regional e a mais aquilo que a Cultura lhe pode trazer. Mais parecia que em vez de se tratar ali de Cultura se tratava de um outro sector daqueles que nos habituamos a identificar como imediatamente interessante porque produz este ou aquele serviço ou produto.

Sabe-se lá, mas sem que se pensasse nisso, encontrou-se a prova provada do potencial da Cultura enquanto fator de desenvolvimento. Assim de bom grado e com bom tom, logo se encontrou o caminho a seguir pelas Associações que entre nós lhe dão forma, feito e conteúdo. Unir para ganhar escala, atar para se caminhar em conjunto, agremiar para se dar a conhecer, puxar em simultâneo e para a mesma banda. Eis a questão. Nada mais fácil.

Quer dizer. Isto num modo de falar, que não será assim à primeira. Antes de mais, granjeie-se e espalhe-se a humildade. Depois, alarguem-se os horizontes para além do campanário da paróquia, e depois fortaleça-se o altruísmo considerando-se que o objectivo primeiro é o esforço comum e global em prol da produção de conteúdos culturais dignos e com qualidade que baste numa fasquia sempre alta e mais além.

Consiga-se isto e a terra de vinho e de gente dita Douro que somos nós, será muito mais próspera e de valer mais a pena. Não adianta continuarmos a dizer que é a mais bonita do mundo e que tem o rio mais belo de todos, que não é, nem tem. Este discurso adormeceu-nos durante décadas e levou-nos à inação desinteligente. Lembra a estória do velho lavrador que à porta do seu armazém afirma aos quatro ventos que o seu vinho é o melhor deste mundo e arredores. Mesmo estando avinagrado.  

A bem dizer, em boniteza da paisagem, a nossa feita e regada com suor, está entre as de mais esplendor, o nosso rio é bonito entre os mais bonitos, e o nosso vinho pede meças de qualidade aos melhores em qualquer canto do mundo. Mas, sendo certo não chega. Como diziam os antigos, a beleza não se põe na mesa, e de pouca adianta se não for rentabilizada de forma eficiente. 

Nisto é que entram as Associações Culturais com toda a sua valia que se pode acrescentar ao resultado final do exercício socioeconómico da região, complementado a oferta turística tão badalada, mas nem sempre bem tratada. Hoje em dia o Alto Douro é um arrabalde do Porto, polo urbano habitual e grande beneficiário do nosso potencial. Está nos livros. Estamos a uma hora de distância. Ir e vir é uma escanchina.             

Não merece a pena uma pessoa iludir-se. Depois de umas horas por aqui, muitos são os turistas que o que mais querem é ir-se embora. Morrem de tédio. Nada custa acreditar que crescentemente a opção passe a ser a dormida no Porto com um passeio de lavar as vistas e a alma no Douro, com regresso aos encantos e à animação do litoral sem que se sujem os nossos lençóis.    

O preenchimento do vazio físico e espiritual, surge então como imprescindível para nós que cá estamos, proporcionando algo que por sua vez seja apelativo tanto para os viajantes como para os que os transportam, parceiros a cativar e a motivar. Temos de mostrar a estes que só ganham se a oferta for enriquecida com emoções que se apreciam pedaço a pedaço.     

Nada melhor pois então que as Associações se deem conta do que valem em rede e do quanto a região conta com elas. Podem ser um dos nossos suportes. A sério.     


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